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Testemunho
O Pe. Ricardo Neves e a sua relação (predileta) com os casais e com as famílias
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O Pe. Ricardo Neves, por muitos conhecido em vida e por mais ainda depois da sua morte, foi, durante grande parte do seu ministério, vice-reitor do seminário de Caparide e depois pároco da Paróquia do Estoril de setembro de 2011 até à data da sua morte com 42 anos, no dia 6 agosto de 2015.

 

Pensar e escrever sobre a vida deste sacerdote santo faz com que se desenhe instantaneamente um sorriso de gratidão e de admiração no nosso rosto, pela forma como nele conviviam uma profunda humanidade e compreensão pelas pessoas e, simultaneamente, a leveza e a espontaneidade próprias de uma criança. Graças a Deus, fomos um dos casais que teve o privilégio de receber de graça tantos ensinamentos, gestos de amor, correções fraternas e orientações do Pe. Ricardo para a nossa vida prática e espiritual e que ainda hoje ressoam dentro de nós com uma intensidade, que se renova quando dele falamos.

A nossa história cruzou-se quando eu – Cláudia – era ainda estudante da faculdade, numa fase turbulenta, em que a sua presença e direção espiritual me fez experimentar a redenção. Redenção! Vejo claramente que foi isso que aconteceu comigo. Foi um caminho longo e árduo, e talvez a imagem que melhor ilustre esta experiência de resgate seja a do Bom Pastor com a ovelha aos ombros. Um dia convidou-me para ir à Terra Santa, foi assim o seu primeiro grande convite, estava eu no 3.º ano da faculdade e a data coincidia com um exame final. Não fui, com pena, mas consolava-me pensar que um dia iria certamente com ele à Terra Santa.

Poucos meses depois, constituiu um grupo de peregrinos, muito heterogéneo em idades e fases de vida, a quem chamou um a um. Conduziu-nos primeiro a Santiago, depois a Finisterra e a seguir a Roma. Mais tarde levou-nos ao Monte das Bem-Aventuranças, alguns de nós estiveram lá com ele, outros, por cá, mas onde quer que estivéssemos, de mãos dadas, ensinou-nos tudo aquilo que sabia, tudo aquilo que vivia ele próprio, à maneira de Jesus. Conheceu e amou cada um destes amigos peregrinos que eram pais, filhos, casais ao mesmo tempo que acompanhava, também com grande amor e dedicação, os seminaristas, vários grupos de casais, grupos de jovens…Uma parte dos encontros deste grupo de peregrinos, gravados em áudio, foi transposto para livro – “Sermão da Montanha – caminho de um peregrino” (Lucerna).

 

Uma das coisas de que o Pe. Ricardo mais gostava era de confessar e de acompanhar espiritualmente as pessoas. Tinha o dom de ir ao encontro daquilo que eram as necessidades profundas, íntimas de cada pessoa. Criou ligações pessoais e ligações entre as pessoas. O mais espantoso é que o fez com grande número de pessoas e foi responsável pela conversão de grande número de almas a Nosso Senhor.

O Pe. Ricardo acompanhou de perto o nosso namoro, celebrou o nosso noivado e preparou connosco o nosso casamento com encontros mensais. Este percurso para noivos que também realizou com muitos casais pode ser encontrado em livro - “E os dois serão uma só carne” (Lucerna). Celebrou os nossos esponsais e casou-nos no dia em que fez 40 anos, no dia 15 de setembro de 2012, dia de Nossa Senhora das Dores! Batizou a nossa primeira filha Benedita e aceitou ser o seu padrinho de Batismo. Como a nós, casou inúmeros casais, batizou os seus filhos e foi padrinho de muitos.

Quando parecia finalmente chegada a oportunidade de peregrinar até à Terra Santa com ele e com um grupo de amigos, descobriu que estava doente, ficou internado no dia em que fez 41 anos e assim esteve doente e mais recolhido, por menos de um ano.

As saudades desta presença entre nós, do olhar que penetrava a alma e lia nas entrelinhas, da forma paciente, amorosa e única com que o Pe. Ricardo nos dava a mão e percorria connosco os abismos, vales e divisões interiores. A forma hábil e inspirada com que ele juntava as nossas partes dispersas e nos elevava e restituía a dignidade de filhos de Deus, resultou na nossa conversão e adesão a Jesus, de forma muito mais profunda, inteira e consciente. Como filhos prediletos de Deus, que o somos, cada um de nós! Sentimos uma profunda gratidão por ter sido nosso pai e mestre espiritual, nosso amigo e um sacerdote que viveu com santidade o seu ministério, inspirando outros padres da sua geração.

 

O Papa Francisco, na sua mensagem de oração pelas vocações (maio de 2022), esclarece aquilo que acontece quando, cada um, na sua situação particular vocacional, responde ao olhar de Deus: “a nossa vida muda quando acolhemos este olhar. Tudo se torna um diálogo vocacional entre nós e o Senhor, mas também entre nós e os outros. Um diálogo que, vivido em profundidade, nos faz tornar cada vez mais aquilo que somos.” Foi isso que o Pe. Ricardo ajudou a realizar com cada um dos seus amigos.

Ainda com o Dia do Pai a ecoar no coração – dia de S. José – que celebrámos no passado mês de março e neste tempo especial de Quaresma que vivemos, fazer memória do Pe. Ricardo Neves poderá ser de grande estímulo para todos nós.

Viveu intensa e amorosamente a sua vida, abraçou a Cruz (ou foi abraçado por ela, como gostava de dizer!) e ajudou a carregar a cruz dos seus amigos. Sem hesitações. O Pe. Ricardo tinha no seu gabinete uma vasta coleção de cruzes. As pessoas quando o visitavam, ofereciam-lhe cruzes. Este simbolismo foi vivido na prática, pois guardou e ajudou a carregar pesos e sofrimentos de muitos amigos. Acreditamos que acrescentou, com a sua vida, o que falta à Paixão de Cristo e consagrou o seu próprio sofrimento pela reparação dos pecados dos seus amigos.

No Pe. Ricardo conviveu o natural e o sobrenatural, o terreno e o eterno, como a forma da cruz o é! Um sinal mais, com uma linha horizontal, e uma vertical (nas palavras do nosso bispo D. Manuel). Esta vida, este testemunho fez crescer, nos seus amigos, a consciência de ser amado por Deus, permitiu a descoberta da identidade cristã que transportamos dentro de nós, mas que por vezes adormece.

O Pe. Ricardo passou por esta vida a amar. Amou muitos por inteiro até ao fim e a sua vida entregue continua, ainda hoje, a dar muitos frutos!

Do Céu, da “Terra Santa”, sabemos que intercede por nós. E que, de lá, espera por nós.

Partilhamos as suas últimas palavras, tão vivas, que dirigiu aos paroquianos do Estoril, na sua última missa pascal, quando estava já muito doente e a poucos meses de partir para o Céu, e que refletem bem a forma inteira com que viveu unido a Jesus:

“A Páscoa traz uma notícia do coração de Deus:

Jesus ressuscitou e Ele é Vida!

Jesus é a Vida!

Jesus é a certeza de que a vida pode ser Vida!

Jesus é Vida que atravessa a morte!

Jesus é Vida que não se esconde da Cruz!

Jesus tem Vida que perfura toda a escuridão!

Jesus tem uma Vida que regenera os estilhaços da nossa!

Jesus sopra Vida embebida de misericórdia!

Jesus oferece Vida que desbrava caminho no meio das dúvidas!

Jesus transporta uma Vida capaz de encher os nossos vazios!

Jesus responde com Vida aos nossos anseios de eternidade!

Jesus quer Vida na nossa vida!

Jesus tem Vida que não engana a felicidade!

A Páscoa é a nossa Primavera.

É a Primavera da nossa vida, porque esta vida para ser Vida,

só pode começar e acabar na de Jesus.”

Cláudia e Patchim Costa Duarte
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