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185 anos à conversa, pelo padre Alexandre Palma
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E não tanto por uma qualquer resistência saudosista ou mal intencionada à novidade, mas muito mais pela incapacidade de perceber um mundo que lhes surgirá cada vez mais «às avessas» – para usar uma expressão cara a alguns dos maiores da língua portuguesa, como Gil Vicente ou Camões.
Recordo como esta impressão pessoal, com tudo o que tem de discutível e subjectivo, se viu cruamente narrada e, de certo modo, confirmada por dois filmes recentes: Este país não é para velhos, dos irmãos Coen (2007), e Gran Torino, de Clint Eastwood (2008). Pareceu-me que, em ambos os filmes, entre a violência dos gestos e das histórias, uma outra violência não menor silenciosamente se desmascarava: a de mostrar, como diz um dos títulos, que este mundo «não é para velhos».
Ora, a iminente visita do Papa Bento XVI a Portugal oferece-me a oportunidade de satisfazer parcialmente esta minha vontade. Penso, em concreto, no «Encontro com o mundo da cultura» que faz parte do programa da visita do Papa e no qual, como é sabido, tomará também a palavra o veterano cineasta português Manoel de Oliveira. Não é, contudo, no encontro em si que vejo essa oportunidade. Nem sequer no que efectivamente dirão o Santo Padre, Manoel de Oliveira e quem mais nessa sessão vier a intervir. A oportunidade vejo-a sim no simbolismo desta ocasião: aí estarão 185 anos à conversa! De um lado o Papa, com os seus 83 anos. Do outro o realizador português, com os seus 102. Se somarmos as suas idades, chegamos então a esse número: 185 anos.
A carga simbólica deste encontro nem estará tanto, na minha opinião, no facto de se colocarem no centro do palco estes dois anciãos. É certo que, em tempos em que a «malta» destas idades é mais comummente relegada para a esfera da inutilidade, esta não será questão de somenos. A força simbólica ligo-a, porém, ao próprio tema da cultura: neste encontro a idade aparece como um factor de cultura! É como se nos fosse dito: se nos queremos «cultivar», temos que saber envelhecer. No exercício desta arte decidir-se-á muito do que ser «culto» de verdade significa. E, neste contexto, convirá ainda recordar o que sabiamente já percebera Bernardo de Chartres, no longínquo século XII: «Somos sempre como anões aos ombros de gigantes. Podemos ver mais e mais além do que eles, não por alguma distinção física nossa, mas porque somos levantados pela sua grande estatura».
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