Entrevistas |
Seminaristas portugueses na Alemanha - A felicidade e a verdade em testemunho (com vídeo)
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Marcos e Daniel são dois jovens portugueses. Estudam Teologia numa universidade estatal em Colónia, na Alemanha. São seminaristas e pertencem ao Caminho Neocatecumenal.

Como é a vossa vida no Seminário Redemptoris Mater, em Colónia, na Alemanha?

Daniel – O Marcos é um pouco a excepção porque já falava alemão. Eu quando cheguei ao seminário não sabia nem uma palavra alemã. Para mim foi uma alegria quando o Marcos me foi buscar ao aeroporto porque pude falar em português! Durante um, dois anos tive aulas de alemão e só quando começamos a entender alguma coisa e começamos a comunicar é que iniciamos os estudos em Teologia e Filosofia, numa universidade pública, em Bona.

Marcos – O sistema educativo alemão é especial e um pouco diferente do sistema português. Estudamos numa universidade estatal, mas estudamos Teologia católica.

 

No Seminário Redemptoris Mater de Colónia estão 34 seminaristas vindo de diferentes países. Como é a vida em Igreja, o contacto com outros jovens?

Daniel – É uma experiência fantástica poder estar numa casa com 34 seminaristas de 14 nações diferentes. Além da cultura, há também o carácter de cada um. Em princípio seria uma coisa muito difícil, mas estar numa casa onde experimentas que existe comunhão, que a Igreja é universal, é uma experiência fantástica que me ajuda a sair de mim mesmo e da minha realidade. No seminário, vemos que há todo um outro mundo fora de nós, o que permite, nos momentos difíceis, olhar para Cristo e ver que a vida não está só em nós.

Marcos – Além de que, quase sem dar por isso, aprendemos a falar italiano, espanhol... Claro que se calhar ficamos a falar pior o português, mas… Curiosamente eu fiquei a gostar mais do meu próprio país. Passei, por exemplo, a ouvir mais fado – que não ouvia. O facto de ver o outro e o facto de ver o que há de bom e de interessante na cultura do outro, faz-nos valorizar mais a nossa cultura. Positivamente. Não é porque não gostamos da cultura do outro ou porque não gostamos das salsichas alemães que passamos a gostar mais de Bacalhau à Brás… Não é nada disso. O facto de estar fora faz-te dar valor à cultura em que nascente.

 

Quando Bento XVI esteve em Colónia, em 2005, o Marcos estava nesta terra alemã há já três anos. Que diferenças sentiu na Igreja e nos jovens após a visita do Papa, por ocasião das Jornadas Mundiais da Juventude?

Marcos – O que mais senti foi a importância que o encontro em si teve nos jovens católicos alemães, que possivelmente às vezes se sentiam muito sozinhos. Não sei se cá em Portugal se tem muita noção disso, mas por exemplo na Alemanha de Leste há 85 ou 90 por cento de não baptizados. É muita gente que nunca ouviu falar de Jesus Cristo. São situações, como eles próprios chamam, de diáspora. Lá, ser católico é quase uma coisa rara… Para os jovens alemães, terem acolhido jovens de todo o mundo, contentes por serem cristãos, que manifestavam essa alegria, e perceberem que não estavam sozinhos e que não são ‘uns loucos’, foi muito importante para eles. Se teve repercussão no sentido de ‘agora de repente muito mais gente começou a ir à Missa’, não sei, não estou em condições de avaliar.

Daniel – Eu cheguei à Alemanha um pouco antes das Jornadas, em Outubro de 2004, e percebi que os jovens começaram a dar testemunho da sua fé, sem medo e com alegria. Começaram a falar de Jesus Cristo com os amigos, na universidade… o que é muito bonito.

 

O Papa estará entre nós em Maio. O Daniel e o Marcos estão a organizar uma peregrinação do vosso seminário a Portugal. Como nasceu esta ideia?

Marcos – Não é a primeira vez que organizamos este tipo de peregrinações ou encontros com o Papa. Sempre que podemos, estamos com o Papa neste tipo de encontro! Por outro lado, o facto de a visita ser também em Fátima, que tem também uma importância para toda a Europa. E viremos a Portugal com os seminaristas, com os nossos formadores e também com o outro Seminário Redemptoris Mater da Alemanha, que fica em Berlim. Seremos mais ou menos 50 seminaristas, para estar com o Papa e com os católicos portugueses.

Daniel – Como dizia há pouco o Marcos, ao viver no estrangeiro começamos a gostar mais do nosso país e temos vontade de mostrar as coisas boas e bonitas de Portugal aos outros.

 

O Daniel e o Marcos são dois jovens que estiveram afastados da Igreja. Se algum jovem vos interrogasse sobre a Igreja, o que diriam?

Daniel – O que posso dizer é que eu sou feliz. Olho para mim, olho para a minha vida e sou feliz! Vejo a vida de muitos amigos meus, que continuaram os estudos, fizeram carreira, têm sucesso, e penso que também podia ter essa vida… mas depois olho para o que estou a viver! Às vezes sinto-me um ‘pateta alegre’, porque sou feliz. Vêm dificuldades, vêm problemas, mas com Cristo tu experimentas uma paz imensa. A única coisa que eu experimentei na Igreja foi amor e a felicidade. O que é que eu posso desejar a mais alguém se não que possa viver esse amor?

Marcos – Eu acho que as pessoas e os jovens estão fartos de discursos moralistas, de teorias e que os tentem convencer de coisas teóricas. Aquilo que eu tenho para dar é aquilo que me foi dado e aquilo que devo fazer é anunciar a verdade! A verdade que eu diria a um jovem que me aparecesse à frente é esta: ‘Deus existe! E Deus ama-te tanto que mandou-te o seu filho Jesus Cristo, amando-te como tu és, fraco, incapaz de muitas coisas, pecador, mau até! E não põe como condição para te amar que tu sejas bom’. Se isto é a verdade – e é a verdade! – eu não tenho de me preocupar muito com o contexto em que a pessoa está, porque isto é para todos!

 

Perfis:


Daniel Laranjo

27 anos

Paróquia da Brandoa

Há 6 anos no Seminário Redemptoris Mater em Colónia, na Alemanha

 

Quem é o jovem Daniel?

Venho de uma família que não tem muita ligação à Igreja, fui baptizado mas nunca mais tive ligação à Igreja, muito pelo contrário, sempre fui muito crítico. No fundo, levava a vida de um jovem normal, com a escola, o futebol com os amigos… com aquelas felicidades, alegrias e angústias da juventude, procurando ter amigos e ser reconhecido. O ponto de viragem dá-se num momento em que não sabia o que fazer da minha vida. Aos 16/17 anos tinha namorada, amigos, sucesso na escola, uma família boa, mas não era feliz… e essa dúvida de ‘Porque não sou feliz?’ trouxe-me uma angústia imensa. Um dia fui convidado para umas catequeses do Caminho Neocatecumenal, na paróquia da Brandoa. Embora achasse que era uma perda de tempo fui às catequeses porque me disseram que a rapariga por quem estava apaixonado ia lá estar! E de repente, ali escutei uma coisa que mudou a minha vida: pela primeira vez senti que alguém me ama como sou, com as minhas debilidades e com o meu carácter: Jesus Cristo! Lembro-me de ter ficado alguns dias sem dormir, porque de repente estava ali uma resposta para a minha vida! Com o Caminho Neocatecumenal comecei a descobrir a Igreja como uma Mãe e Deus como Pai.

 

E quando se deu o ‘clique’ para a vocação sacerdotal?

Foi a pouco e pouco. Tive de crescer na fé porque eu não tinha nada… Uns anos depois, num encontro de jovens em Itália, houve uma chamada para que se levantassem aqueles que se sentiam chamados por Deus. Na altura tinha uma namorada e ela também estava na comunidade e passou-me pela cabeça a ideia de que se me levantasse e me tornasse disponível para ir para o seminário ela ia ficar com ciúmes. E levantei-me! Foi algo que mudou a minha vida! Iniciei então a preparação em encontros com padres, ao mesmo tempo que estudava Marketing e Publicidade no IADE. Depois percebi que havia algo mais naqueles encontros. Percebi que Deus fazia uso de todas estas pequenas coisas, dos detalhes, para me chamar… para me chamar a outra vida!

 

Como foi a reacção da família à vocação?

Foi muito difícil, porque os meus pais não estavam ligados à Igreja, eu já ia a meio do curso e quando lhes disse ‘Vou para o seminário’, foi uma bomba! E eu que sempre tinha experimentado o amor dos meus pais, que sempre deram a vida para que pudesse estudar e de repente vem o filho louco que diz: ‘Olhem, tudo aquilo que trabalharam durante a vossa vida, eu agora não quero porque descobri outra coisa para mim’. Eles sofreram muito, mas hoje vejo que Deus também actuou na vida deles, uma vez que voltaram à Igreja! Através de mim, o Senhor actuou sobre os meus pais e sobre a minha irmã… é maravilhoso ver como até nestas coisas podemos experimentar o amor de Deus.

Aos amigos que me questionam: ‘Deixaste tudo aqui, os estudos, os amigos e a tua família para quê? O que recebes em troca?’, eu apenas digo que recebo tudo! Deus não te tira nada, Deus dá-te tudo!

 

Marcos Keel Pereira

31 anos

Paróquia do Calhariz de Benfica

Há 8 anos no Seminário Redemptoris Mater em Colónia, na Alemanha

 

Ao contrário do Daniel, o Marcos sempre esteve ligado à Igreja…

Sim, nasci em Igreja, fui baptizado e sempre tive uma educação cristã, embora me tenha afastado da Igreja na adolescência. Tinha dúvidas e sobretudo não entendia porque tinha de ir a uma instituição que me sobrecarregava com normas morais que eu não percebia porque tinha de cumprir. Entrei na faculdade, em Economia, mas na primeira semana percebi que aquilo não era para mim. Um jovem mudar de curso não é dramático, mas para mim foi um drama! Deixei de ter um objectivo, uma meta a seguir. Passei por uma fase difícil, existencial até… e perguntei-me porque é que vivo, para que é que vivo e que sentido tinha a minha vida. O meu pai, que estava numa comunidade neocatecumenal à qual eu tinha rejeitado pertencer aos 15 anos, convidou-me a assistir a uma catequese e eu disse: ‘Porque não? Não tenho nada a perder’. E aquela Palavra que três ou quatro anos antes não me dizia nada, naquela altura disse-me e alguma coisa me fez acreditar! Comecei a minha caminhada de fé, que não tinha nada a ver com o seminário, entrei em Direito e as coisas correram bastante bem em termos de notas. No terceiro ou quarto ano estava a estudar processo civil e uma voz interior ou um pensamento, não sei bem descrever, fez-me ver ‘padre’. Naquele momento, vi-me padre – se é que se pode dizer assim – e tive uma paz interior enorme!

 

Nasceu aí a sua vocação?

Bom… nos dias seguintes passou-me tudo pela cabeça: ‘Ou isto é uma ideia perfeitamente louca ou isto é sério’. Decidi acabar o curso – não só porque as coisas estavam a correr bem, mas também porque já tinha deixado um curso e não queria deixar outro – mas isto de ser padre continuava na minha cabeça. Insistentemente. E depois também nas Eucaristias havia palavras que me confirmavam, de alguma maneira, esse chamamento. E eu sempre a perguntar-me: ‘Será que não estás a inventar tudo? Será que não é tudo uma maquinação da tua cabeça?’. Chegou a certa altura e tive de falar com alguém, e confesso que não conhecia muitos padres, mas conhecia um através do Caminho Neocatecumenal, o padre João Marcos – que eu nem fazia ideia que era o director espiritual do Seminário dos Olivais. Falei várias vezes com ele, cheguei ao fim do curso e num encontro do Caminho em Espanha para preparar a Jornada Mundial de Toronto 2002 a palavra que foi dita naquele momento voltou a confirmar aquilo que eu tinha sentido.

 

Tendo acabado o curso de Direito, pensou em ir a alguma entrevista de trabalho, pensou em exercer?

Como tinha sido muito bom aluno na universidade, recebi um telefonema de um escritório de advogados a saber se queria fazer uma entrevista. Eu fiz a entrevista, mas hoje confesso que na altura a fiz somente para ver como era, porque já tinha decidido ir para o seminário. Acredito que a pessoa que me entrevistou, pela sua experiência, também deve ter percebido isso...

 

Caminho Neocatecumenal em Fátima

Aproveitando a presença do Papa em Portugal, o Encontro Europeu Vocacional de Jovens do Caminho Neocatecumenal com Kiko Argüello, Carmen Hernández e o padre Mario Pezzi realiza-se no Santuário de Fátima, no dia 14 de Maio à tarde. O encontro será presidido pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo.

Informações: www.fatima2010cnc.com

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