Entrevistas |
Padre Tiago Neto, diretor do Setor da Catequese do Patriarcado de Lisboa
“Uma catequese que toque todas as dimensões da pessoa”
<<
1/
>>
Imagem

O diretor do Setor da Catequese do Patriarcado de Lisboa analisa o III Congresso Internacional de Catequese, em Roma, e sublinha que “o catequista vive e testemunha a vida nova em Cristo a partir daquilo que é o seu testemunho pessoal de vida”. Em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, o padre Tiago Neto (à esq., na foto) fala da JMJ Lisboa 2023 e apresenta o novo Itinerário de iniciação à vida cristã.

 

Sete membros do Setor da Catequese de Lisboa participaram, de 8 a 10 de setembro, em Roma, no III Congresso Internacional de Catequese, com o tema ‘O catequista, testemunha da vida nova em Cristo’. Que balanço faz do congresso e o que ele trouxe de novo?

Este foi o terceiro Congresso Internacional de Catequese, organizado pelo Dicastério para a Evangelização. Esta iniciativa vai percorrendo as diversas partes do Catecismo da Igreja Católica: o primeiro, em 2013, decorreu no Ano de Fé e foi sobre aquilo que se acredita; o segundo, em 2018, foi sobre a celebração do mistério da fé; e, agora, sobre a proposta de vida cristã a partir do seguimento de Jesus Cristo – portanto, toda a moral e toda a perspetiva daquilo que é a vida nova em Cristo.

Neste terceiro congresso, foram abordados alguns temas relativamente a esta parte do catecismo, nomeadamente os fundamentos bíblicos da moral, as dimensões daquilo que diz respeito à vida prática e algumas dimensões do que é o debate com a cultura, das questões antropológicas, do digital, da relação entre a ciência e a fé… em tudo isto, está a centralidade do catequista. Particularmente, no discurso do Papa, naquilo que foi a centralidade do catequista como aquele que vive e testemunha a vida nova em Cristo a partir daquilo que é o seu testemunho pessoal de vida.

 

O congresso pretendeu analisar a “vocação do catequista” a partir do ministério do catequista, que o Papa Francisco instituiu em maio do ano passado, com o Motu proprio ‘Antiquum ministerium’. Quase um ano e meio depois, o que foi debatido no congresso?

A questão da instituição do ministério do catequista vai tendo as suas aplicações concretas em cada Igreja local e em cada realidade eclesial. Neste congresso, houve alguns testemunhos relativamente àquilo que é a aplicação do ministério do catequista. Tivemos uma partilha da República do Congo relativamente à formação e instituição de catequistas homens que trabalham, com as suas mulheres, na animação de comunidades; e também outra noção, um pouco mais europeia, que foi a partilha feita pelo Arcebispo de Cardiff [arcebispo Mark O’Toole], sobre a aplicação do ministério do catequista, como alguém mais ligado à formação dos próprios catequistas. São perspetivas que vão sendo postas em prática, mas não há uma aplicação igual do Motu proprio. Há, no fundo, um consenso acerca da importância do ministério do catequista – isso é claro –, mas a aplicação vai sendo diversa consoante aquilo que é a realidade eclesial de cada comunidade.

 

E no nosso país, como está este processo?

Em Portugal, temos um documento que a Conferência Episcopal publicou acerca deste assunto, mas, no fundo, é um documento que carece, ainda, de aplicação prática. Há uma diretiva geral sobre o ministério, mas não há ainda aplicações concretas, porque em Portugal ainda não foi instituído nenhum catequista. As dioceses são chamadas a aplicar aquilo que é a diretriz geral.

 

No último momento do congresso, o Papa Francisco pediu aos catequistas para “não darem uma lição da catequese”, porque “a catequese não pode ser como uma hora escolar”, mas “uma experiência viva de fé”. É este o grande desafio da catequese contemporânea?

Sim, porque nós temos sempre, na catequese, aquilo que é o peso da tradição e aquilo que são as visões que as pessoas têm acerca da catequese. Muitas vezes, uma perspetiva mais assente na direção moral, na dimensão da aprendizagem de certos valores, porque as pessoas consideram que a catequese está articulada com outras atividades e aparece como mais uma atividade semanal de formação que as crianças e os adolescentes fazem. Por vezes, não se dá o espaço próprio à catequese para ela desenvolver toda a sua potencialidade. De qualquer modo, temos investido, presenciado e testemunhado aquilo que são imensas iniciativas nas paróquias para contrariar um pouco esta tendência e para valorizar a catequese como uma expressão e um momento de vivência de fé. Tudo aquilo que são iniciativas fora daquela hora de catequese vão nesse sentido e as paróquias, todas elas, de um modo geral, procuram dinamizar ações formativas que toquem todas as dimensões da pessoa. O Papa diz “a cabeça, o coração e as mãos”, portanto, no fundo, que a catequese provoque isso: a dimensão da inteligência, do coração e da ação – sempre, porque isso é a catequese – mas também as outras atividades são complementares e fazem parte do próprio percurso da formação cristã.

 

Neste ano pastoral, o horizonte da catequese está na Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023. Este é também o último ano do ‘Say yes: aprender a dizer Sim’, iniciado em 2019. Que marca este projeto pode deixar no futuro da catequese em Portugal?

O ‘Say yes’ é para todos os adolescentes da catequese do 7.º ao 10.º ano e propõe que todos, independentemente de poderem ou não participar na JMJ oficialmente, em termos de idade, são convidados a viver a Jornada na sua paróquia, na sua comunidade, no seu grupo, na sua realidade. Uma das coisas que iremos viver e preparar com os catequistas, ao longo deste ano, é a apresentação do Itinerário de iniciação à vida cristã que, em termos da catequese com adolescentes, se inspira muito no ‘Say yes’. Podemos dizer que o ‘Say yes’ é uma espécie de embrião, de laboratório, para aquilo que vai ser a catequese da adolescência a seguir à Jornada.

 

Que Itinerário é este, que vai entrar em vigor em setembro de 2023, e de que forma o Patriarcado o vai dar a conhecer às paróquias?

Iremos organizar uma formação de catequistas em todas as vigararias, onde iremos apresentar os fundamentos e pressupostos que estão por trás do novo Itinerário de iniciação à vida cristã e sensibilizar os catequistas para esta dimensão, que é um novo programa, um novo itinerário de catequese, com as suas diversas dimensões. É um Itinerário muito mais flexível, mas muito mais complexo do ponto de vista daquilo que é a relação da catequese com os seus destinatários, com os seus interlocutores.

Este novo Itinerário vai da infância até à adolescência, ou seja, inicia com o Despertar da Fé e vai até à juventude. Procura-se ligar a catequese existente, o programa atual, tanto ao início da vida – o despertar religioso –, e depois também alargar àquilo que é a proposta da catequese à pastoral juvenil. O horizonte do Itinerário é não fazer da catequese um bloco que começa aos 6 anos e acaba aos 15, mas ligar a catequese à vida familiar, às origens da família, e também ajudar os adolescentes e jovens a progredir na sua caminhada cristã, naquilo que são as propostas de pastoral juvenil, universitária e da vida adulta.

 

______________


Mensagem do diretor do Setor da Catequese de Lisboa

Em primeiro lugar, o convite a sermos todos discípulos de Jesus e a darmos testemunho daquilo que é o viver com Jesus Cristo. Esta é a primeira dimensão fundamental da catequese: acreditamos que somos discípulos e estamos a caminho e queremos, no fundo, configurarmo-nos mais com Ele. No caso concreto da nossa diocese e da nossa Igreja em Portugal, o grande desafio é preparar e viver a próxima Jornada Mundial da Juventude. Com o ‘Say yes’, iniciámos este percurso e convidamos todos os adolescentes a aprofundar a sua relação com Jesus. O Papa escreveu aos adolescentes uma carta [ver caixa], onde se alegra por esta caminhada de fé e encoraja os adolescentes e jovens da catequese a percorrer este caminho, procurando sempre aquilo que é o rosto de Cristo, que depois se concretiza naquilo que é a vivência dos sacramentos, da vida moral e das dimensões da vida cristã. Queria também convidar todas as crianças e adolescentes a viverem e a participarem na JMJ. Vamos ter algumas iniciativas onde vamos apresentar a Jornada e desejamos que todos se sintam chamados, convocados, a viver este grande acontecimento da Igreja. Estamos todos a caminho da JMJ e este ano será muito marcado por isso.

 

______________


Papa consagra adolescentes do ‘Say yes’ a Nossa Senhora

O Papa Francisco dirigiu uma carta aos adolescentes envolvidos no programa ‘Say yes: aprender a dizer Sim’, rumo à JMJ 2023 em Portugal, onde anuncia que os consagrou a Maria. “Para que os guie e ilumine a dizerem sim a Jesus, Sua Santidade o Papa Francisco implora sobre todos o Espírito Santo pela intercessão da Virgem Maria, que é a Senhora do Sim tornando-Se deste modo a Mãe de Deus e dos homens. A Ela consagra os adolescentes ‘say yes’, pedindo-Lhe que os guarde e proteja com a respetiva família e ainda quantos os ajudam na caminhada revelando-se a seus olhos como verdadeiros pais, mestres e testemunhas de piedade eucarística e de santidade de vida. Nunca se esqueçam de rezar pelo Santo Padre. Até Lisboa, se Deus quiser!”, escreveu, em nome do Papa, o substituto da Secretaria de Estado do Vaticano, D. Edgar Penha Parra.

Segundo a missiva, que foi divulgada no passado dia 15 de setembro, “o Santo Padre pede-lhes que não esperem pelos meses de julho e agosto de 2023 para treinar, mas vivam os meses que ainda faltam a descobrir e venerar Jesus Cristo em cada um dos membros da própria família, do grupo, da turma... porque todos «subsistem n’Ele»!”, frisa o texto.

 

______________


“A Igreja cresce e crescerá sempre em família”

Rita e João Pedro Santos são da paróquia de Algueirão e participaram no III Congresso Internacional de Catequese. “É importante conhecermos outras realidades e não ficarmos fechados na nossa realidade, no nosso país, na nossa diocese, na nossa paróquia. São sempre oportunidades para conhecermos outras pessoas, outras formas de pensar, outras estratégias. Não nos podemos acomodar ao ‘sempre foi feito assim’ e temos de descobrir novos caminhos. É isso que a Igreja, e em concreto o Papa Francisco, nos pede”, refere João Pedro. Em Roma, este casal celebrou o 14.º aniversário de casamento. Algo que só foi possível “com o apoio da família”, segundo Rita. “O facto de estarmos aqui, em casal, é também para mostrar esse exemplo às pessoas que se cruzam connosco e mostrar que, em família, é possível”, garante esta leiga, sublinhando que “a catequese e a evolução da catequese, só vai ser possível com as famílias cada vez mais presentes”. “A catequese tem que deixar de ser o local onde estão só as crianças, mas onde vêm os pais e participam e estão connosco. A Igreja cresce e crescerá sempre em família”, frisa Rita Santos.

João Pedro explica que na paróquia “as famílias são convidadas a estar presentes” e procuram “desafiar os namorados e os noivos a não desaparecer depois de casar”. Rita completa sublinhando que passa pelos cristãos “este serviço de olhar e ir chamando”. “A pandemia afastou um pouco as pessoas, ficámos preguiçosos, habituámo-nos a ficar em casa e dá trabalho sair para servir e para levar Jesus aos outros. Mas há que olhar para dentro, voltar a reunir as comunidades, mostrar a importância de estarmos juntos, e não sozinhos em nossa casa, para sermos testemunhas do amor de Deus”, termina este casal, que colabora com o Setor da Catequese de Lisboa.

entrevista por Diogo Paiva Brandão; fotos pelo Setor da Catequese de Lisboa
A OPINIÃO DE
Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]

Pedro Vaz Patto
Impressiona como foi festejada a aprovação, por larga e transversal maioria de deputados e senadores,...
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES