Catequese |
Diretório para a Catequese
A catequese na vida das pessoas: a catequese familiar
<<
1/
>>
Imagem

A catequese, em virtude da sua própria natureza, existe em função da vida cristã daqueles que aderem a Jesus Cristo e desejam conhecê-lo sempre mais. Destina-se, por isso, a pessoas concretas cujo desenvolvimento humano e espiritual a Igreja é chamada a potenciar e a acompanhar. Em cada etapa e situação da vida humana, a luz da fé constitui um dom precioso para que o ser humano saiba superar as crises e ultrapassar os desafios com os quais se depara. Existe, por isso, um vínculo estreito entre evangelização e pessoa humana, tanto no que diz respeito à situação que cada pessoa vive, como aos ciclos do seu desenvolvimento biológico, afetivo e psicossocial. De facto, o anúncio do Evangelho destina-se a todas as pessoas e deve alcançar a totalidade do seu ser (cf. Populorum progressio 14).

Ao considerar a necessidade de se oferecem propostas formativas e percursos de fé adaptados a cada pessoa e situação é indispensável que a catequese agregue a si elementos de outras disciplinas, tanto de âmbito teológico-filosófico, como de outras ciências, tais como a biologia, a psicologia, a antropologia, a sociologia e a educação. Sob este prisma, também se considera necessário que na catequese se atribua a devida importância a cada etapa da vida, apontando para as suas especificidades próprias (cf. DC 225). A necessária correlação entre a fé e a vida pressupõe que na catequese se processe uma influência e interdependência mútua entre a fé e o desenvolvimento da pessoa (cf. DC 224). Porque o ser humano se encontra num processo contínuo de mudança, a catequese deve considerar que «o homem é o homem e a sua circunstância». Esta famosa frase de Ortega y Gasset sustenta que não é possível, do ponto de vista educativo, considerar a pessoa sem atender ao conjunto das realidades que a circundam e ao modo como esta lida consigo própria. A educação da fé pressupõe proporcionar aos sujeitos a oportunidade de se consciencializarem das suas circunstâncias, se relacionarem com elas e iluminá-las com a força da mensagem evangélica.

Uma das circunstâncias basilares do ser humano é o contexto familiar onde vive. Daí que o Diretório para a Catequese, ao tratar da catequese na vida das pessoas, comece por tratar da relação entre catequese e família. Apesar das dificuldades do estilo de vida atual e das múltiplas e complexas transformações que atravessa, «a família deve continuar a ser lugar onde se ensina a perceber as razões e a beleza da fé, a rezar e a servir o próximo» (AL 287). Se é certo que as opções de vida da grande maioria das pessoas se afastam da visão cristã da família e, em particular, do sacramento do Matrimónio, isso não constitui impedimento para que a Igreja anuncie e proponha o Evangelho da família.

O Diretório enumera três âmbitos em que se processa a catequese familiar: a catequese na família, a catequese com a família, a catequese da família.

a) A catequese na família compreende a natureza evangelizadora da própria família que, só pelo facto de existir enquanto comunidade de vida e de amor é, em si mesma, um testemunho vivo do Evangelho. De facto, em virtude do sacramento do Matrimónio, os cônjuges cristãos participam do mistério de unidade e de fecundo amor que perpassa entre Cristo e a Igreja. Por este motivo, a catequese na família tem a tarefa de levar os protagonistas da vida familiar, especialmente os esposos e os pais, a descobrir o dom que Deus lhes concede mediante o sacramento do Matrimónio» (DC 228). Depois do batismo dos filhos inicia-se o percurso de crescimento da vida nova da fé para o qual os pais são «instrumentos de Deus para a sua maturação e desenvolvimento» (AL 287). A família cristã constitui, assim, um lugar natural de iniciação à vida cristã. Segundo o desígnio de Deus, anunciado pela Igreja, a vida conjugal e familiar constitui «em si mesma um Evangelho, em que se pode ler o amor gratuito e paciente de Deus pela humanidade» (DC 228). À família corresponde a prerrogativa única de poder anunciar a boa nova da salvação relacionando-a com a vida quotidiana e de vincular a educação nos valores e virtudes humanas à proposta evangélica. De facto, a família constitui um «lugar natural onde a fé pode ser vivida de maneira simples e espontânea. [...] Trata-se de uma educação cristã mais testemunhada do que ensinada, mais ocasional do que sistemática, mais permanente e quotidiana do que estruturada em períodos» (DC 227). Além dos pais, a catequese na família encontra outros intervenientes igualmente capazes de relacionar a fé com a vida, nomeadamente os avós, irmãos, outros familiares e, ainda, os próprios padrinhos de batismo. Este é um processo ao qual os próprios filhos não são alheios, contribuindo com a sua espontaneidade, perguntas, dúvidas e conhecimentos para a vivência da fé de toda a família. A catequese na família é, por isso, um lugar natural de relações intergeracionais em que a fé de cada um, segundo a sua idade e condição, contribui para o crescimento de todos.

b) A catequese com a família traduz a solicitude pastoral da Igreja em ajudar as famílias a corresponderem ao projeto de Deus inscrito na criação e na redenção. Por isso, a Igreja é chamada a anunciar o Evangelho às famílias, «levando-as a experimentar que ele é alegria que enche o coração e a vida inteira, porque, em Cristo, somos libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do isolamento» (DC 229). Reconhecendo que esta solicitude se adensa quando as famílias vivem crises e situações delicadas, a catequese com as famílias centra-se no querigma, ou seja, naquele anúncio novo e principal, do «que é mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário» (DC 230). Isto é válido não só no que respeita a situações de fratura nas relações conjugais, como quando se adotam modelos de vida familiar em total discordância com a nova ordem da graça. Para todos e em qualquer circunstância, a catequese com a família promove um anúncio ligado à vida das pessoas e é um convite sempre renovado a uma conversão mais viva e profunda ao Evangelho. A iniciação cristã dos filhos constitui, sob este prisma, uma oportunidade para se anunciar pela primeira vez, ou de novo, a alegria da vida nova em Cristo. Os pais e outros familiares são destinatários privilegiados do anúncio. A propósito do percurso das crianças, podem participar em itinerários formativos que os ajudem a crescer na fé, a celebrar os sacramentos e a serem testemunhas da fé na vida familiar, na comunidade cristã e no mundo.

c) A catequese da família diz respeito ao dever específico da Igreja em anunciar o Evangelho da família, à luz da revelação bíblica e da tradição da Igreja. Parte integrante da missão evangelizadora da Igreja diz respeito à tarefa de incorporar nos seus planos pastorais e itinerários de fé a boa nova sobre o Sacramento do Matrimónio e da família. Nesta missão, conta com o contributo precioso das famílias cristãs que se tornam evangelizadoras junto das outras famílias. A comunidade cristã deve incorporar nos percursos de iniciação à fé a doutrina cristã sobre a família e o Matrimónio, bem como valorizar o papel dos casais na catequese das crianças e adolescentes. Além disso, deve cuidar da catequese dos namorados, dos jovens e dos adultos que se preparam para o Matrimónio, da catequese dos casais jovens, da catequese dos pais que pedem o Batismo para os filhos e daqueles cujos filhos fazem o percurso de iniciação cristã. Deve, ainda, promover a catequese intergeracional e nos grupos de esposos e de famílias. Em todas estas formas de catequese, deve promover o protagonismo dos casais cristãos (cf. DC 232).

Finalmente, a comunidade cristã não pode esquecer a catequese daqueles cujas relações matrimoniais fracassaram e cujas feridas se manifestam nos seus membros mais vulneráveis, assim como a catequese dos que se encontram em situações conjugais que não correspondem à proposta cristã. Entre catequese e família subsiste uma aliança irrenunciável à qual todos são convocados e que as comunidades cristãs não podem negligenciar.

texto pelo P. Tiago Neto, diretor do Sector da Catequese de Lisboa
A OPINIÃO DE
Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]

Pedro Vaz Patto
Impressiona como foi festejada a aprovação, por larga e transversal maioria de deputados e senadores,...
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES