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À procura da Palavra
O terceiro filho
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DOMINGO IV QUARESMA Ano C

“Um homem tinha dois filhos.”

Lc 15, 11

 

Por entre as imagens dolorosas que a “guerra em directo da Ucrânia” nos tem apresentado, ressaltam as despedidas entre pais e filhos. Pais ucranianos que ficam para lutar e defender o seu país, e os filhos que, com as mães, buscam refúgio e protecção em países vizinhos. “Salvar as crianças” é esperança de futuro no horrível presente. E não somos também todos filhos, de um e outro lado das batalhas? E não são também pais aqueles que mandam matar e arrasar bases militares e prédios ou hospitais? Os mesmos que têm o poder de parar a guerra e fazer-nos sonhar com a “paz sem vencedor e sem vencidos” que pedia Sophia de Mello Breyner Andresen?

 

E se tivéssemos a coragem de ser mais irmãos, será que ultrapassaríamos a barbárie das guerras? Digo coragem porque implica o reconhecimento da igual dignidade de todos, a aceitação das diferenças e a promoção da diversidade, a substituição do egoísmo e da ganância pela comunhão e a partilha. É certo que é entre irmãos que, tantas vezes, existem enormes conflitos. E preferimos sobretudo os amigos, esse dom precioso de almas gémeas, que escolhemos e guardamos como um tesouro. Mas não são as guerras tantas vezes travadas entre alianças de amigos, defensores de posições contrárias que vão até á morte dos opositores? O confronto humano é riqueza quando se procura o “maior bem comum”, a justiça e a paz para todos, e desgraça quando cada um pensa só em si. Se somos irmãos desejamos saber qual a vontade do Pai para nós!


Péguy chama à parábola do pai e dos dois filhos contada por Jesus, a mais querida e conhecida das parábolas, “a palavra de Deus que chegou mais longe.” Diz mesmo que ela “é uma desavergonhada, / não tem medo, não tem vergonha, / e tão longe quanto o homem for, /em qualquer terreno, / em qualquer escuridão, / sempre haverá uma claridade, brilhará uma chama, / uma pontinha de chama, / sempre brilhará uma lâmpada, / sempre haverá um pontinho cosido pela dor: “havia um homem que tinha dois filhos”. Nunca se falou de Deus com a radicalidade e a surpresa de um amor assim. Tantas vezes pensamos no seu coração como um coração de homem apenas maior! Sempre em movimento, em saída, para abraçar o filho perdido e para convidar a entrar na festa o que sempre ficou em casa. Vemo-lo como o único que ama nesta história: um filho regressa porque tem fome, o outro pede-lhe contas como a um patrão. E não desiste de tentar que os irmãos se encontrem na festa!


Mas qual é o “terceiro filho” que dá título a esta crónica? Não será aquele que a está a contar? Não veio Jesus Cristo como verdadeiro irmão de todos, pelos caminhos tortuosos e agrestes, à procura de irmãos perdidos, prisioneiros, em guerra, religiosos ou não, mais justos e nem por isso, para entrar com eles no banquete do seu pai? E não seremos um pouco todos nós também, quando deixamos de ser interesseiros ou funcionários, egoístas ou preconceituosos, e festejamos o encontro de irmãos? É com o terceiro filho que aprendemos a amar o Pai e a ser irmãos!

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