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Madre Kingbo: uma mulher inspirada em Fátima no serviço aos pobres
Uma vida com Maria
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Fundou a Fraternidade das Servas de Cristo e deixou no Níger, um dos países mais pobres do mundo, a semente fecunda de uma obra que está a transformar vidas em África. A Madre Marie-Catherine faleceu em Maio aos 68 anos de idade, mas a sua memória vai continuar a inspirar todos os que, como ela, acreditam que o amor será sempre mais forte do que o ódio. Em 2017 ela esteve em Fátima.

 

Em Setembro de 2004, a Madre Marie-Catherine Kingbo fundou no Níger a Fraternidade das Servas de Cristo. Foi uma ousadia. Ela e outra religiosa, apenas duas mulheres, começaram um trabalho que parecia impossível. Ajudar as populações locais procurando melhorar as suas condições de vida. O facto de ser religiosa revelou-se a primeira dificuldade. O Níger é um país muito pobre e nos últimos tempos tem vindo a ser fustigado pelo ciclone do extremismo jihadista. Os Cristãos representam apenas cerca de 1% da população. Os Muçulmanos são 98%. Numa sociedade habituada a menosprezar a mulher, sempre que Marie-Catherine aparecia numa qualquer aldeia, num qualquer lugar, a desconfiança instalava-se nos rostos, nas conversas, nos olhares. Foi preciso superar muitos medos e dúvidas para que, aos poucos, aquelas duas religiosas de sorriso meigo começassem a ser aceites.

 

Primeira casa

A primeira casa da congregação nasceu em Maradi. “Começámos a percorrer as aldeias para conversar com as populações a fim de conhecê-las melhor. Apercebemo-nos da precariedade em que vivia boa parte dos habitantes, em particular as mulheres e crianças. Era necessário solucionar imediatamente o que estava ao nosso alcance…” Pragmática, percebeu que era preciso investir na educação, mas também na saúde, na formação. Era preciso fazer muita coisa para mudar a vida daquelas populações acorrentadas a uma tradição rígida. Em 2017, a Madre Marie-Catherine participou na Peregrinação Internacional da Fundação AIS a Fátima, quando se assinalava meio século de consagração da instituição ao Imaculado Coração de Maria. Para a Madre Kingbo aquela foi uma oportunidade ímpar para mostrar ao mundo como Fátima continuava a inspirar e a transformar vidas mesmo que no meio de aldeias quase perdidas em zonas esquecidas do Níger. As irmãs construíram uma escola para acolher as meninas das famílias mais desfavorecidas, mas depressa descobriram que não chegava. Era preciso mais. “Introduzimos um sistema de microcrédito, sem juros, com 1.900 mulheres, e um banco de cereais que poderia aliviar cerca de 2 mil famílias durante o período de escassez, ou seja, os meses em que a população deixa de ter comida após esgotarem-se os alimentos da sua única colheita anual…”

 

Uma imagem especial…

Aos poucos, as desconfianças foram-se atenuando. Em Julho de 2014, as irmãs receberam uma prenda especial na primeira casa da comunidade. “A minha família senegalesa enviou-me uma imagem da Virgem Maria. Era uma estátua de Nossa Senhora de Fátima…” Meio ano depois, a 1 de Janeiro de 2015, essa estátua da Mãe de Deus foi colocada numa pequena gruta, na casa, como elemento protector e inspirador. Quinze dias mais tarde, o jornal Charlie Hedbo, em França, publicava caricaturas do profeta Maomé. Quase imediatamente, um pouco por todo o mundo houve reacções de protesto, muitas vezes violentas contra a comunidade cristã. Foi o que aconteceu também no Níger. “A comunidade cristã foi vítima de agressões por parte de manifestantes que queimaram igrejas, escolas, casas de religiosas e cristãos, em Zinder e Niamey”, recordou a irmã. “A nossa comunidade estava a orar e a recitar o terço, como era hábito, diante da imagem de Nossa Senhora de Fátima. Vivenciámos o Seu amor, pois Ela velava por nós, e fomos poupadas…”

 

Vencer o ódio

Aos poucos, inspiradas em Nossa Senhora de Fátima, as irmãs foram alargando as suas visitas, foram palmilhando quilómetros, foram ganhando a confiança de mais mulheres em mais lugares. Hoje, a Fraternidade está presente em cerca de 120 aldeias. As irmãs dirigem uma escola em Tibiri e um centro de nutrição em Dan Bako. Todos os anos, são alimentadas através da caridade destas destemidas religiosas mais de 23 mil pessoas. Apesar de todo o bem que foi sendo realizado junto das populações, as irmãs não foram poupadas à violência instigada pelos extremistas que têm vindo a ganhar cada vez mais espaço em África. Em Fátima, a irmã falou disso também. A casa das irmãs foi apedrejada várias vezes durante a noite e até os muçulmanos que trabalhavam com as religiosas foram atacados por causa disso. “Face a esta situação – recordou a irmã em Fátima – desde Outubro de 2014 dois agentes garantem a nossa segurança, montando guarda à frente da nossa casa 24 sobre 24 horas. De facto, a insegurança está a crescer com os fundamentalistas nigerianos e os adeptos do Boko Haram…” Dezassete anos depois de ter sido fundada, a Fraternidade das Servas de Cristo está presente já em vários países africanos. A Madre Marie-Catherine faleceu em Maio, mas a sua memória vai continuar a inspirar todos os que, como ela, acreditam que o amor será sempre mais forte do que o ódio.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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