Lisboa |
Semana dos Seminários
“As comunidades vão moldando o padre que havemos de ser”
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Por ocasião da Semana dos Seminários (1 a 8 de novembro), o Jornal VOZ DA VERDADE apresenta duas experiências de trabalho pastoral de seminaristas nas comunidades cristãs. Pedro Sousa e António Ribeiro de Matos, do Seminário dos Olivais, falam dos seus percursos formativos que foram sendo “marcados” pelas comunidades onde estão, e por onde passaram, e que os ajudam a definir o que serão como padres.

 

O trabalho pastoral durante o percurso em seminário é uma realidade sempre dinâmica e ajustada à formação de cada seminarista. Em paróquias, ou até na animação do Pré-Seminário, os rapazes são desafiados a procurarem, nessas experiências, um enriquecimento para a sua formação. É nas comunidades cristãs que a formação mais teórica, apreendida no seminário, se começa a concretizar. “Se no seminário ouço muita coisa sobre o que é a vida cristã, aqui consigo sentir no terreno. Isso está a dar-me critérios para que, mais tarde, ao exercer a minha vida sacerdotal, possa perceber o que Deus pede, em cada momento, a cada pessoa. De alguma forma, ganho agora a grelha de leitura do que virá a seguir”, partilha, ao Jornal VOZ DA VERDADE, o seminarista Pedro Sousa, atualmente no 5.º ano e a realizar o seu trabalho pastoral nas paróquias de São Julião do Tojal, Santo Antão do Tojal, Fanhões e Bucelas.

Durante a semana, o seminário é a sua casa. Ao sábado de manhã, Pedro Sousa chega à paróquia de Bucelas onde acompanha um grupo de adolescentes do ‘Say Yes’. “Depois, tenho a oportunidade de ir almoçar à casa paroquial, o que é bom para pôr a minha semana ao corrente do pároco, padre Tiago Neto, e do vigário paroquial, padre Binoy”, sublinha. À tarde, acompanha os escuteiros e também um grupo de jovens. No Domingo de manhã, o tempo é para a Missa e, nos próximos tempos, a tarde está prevista ser ocupada com uma formação que vai decorrer em cada uma das paróquias. O regresso ao Seminário dos Olivais dá-se ao final da tarde.

 

“Uma experiência de crescimento”

Para este seminarista da paróquia de Tires – que tem também um irmão gémeo no seminário –, esta rotina nem sempre foi assim, especialmente durante os últimos dois anos de formação, onde desenvolveu o seu trabalho pastoral como animador do Pré-Seminário. No primeiro ano, Pedro acompanhou os rapazes entre o 7.º e 8.º anos. “Preparava o fim-de-semana para eles, com uma experiência de diversão, mas também catequética”, explica. No segundo ano de trabalho pastoral, foi-lhe confiado o acompanhamento dos rapazes do 10.º e 11.º anos. “Aí, encontrei rapazes que já põem a questão da vocação de uma forma mais madura e até desafiei alguns, ao apresentar o seminário como caminho – sabendo, claro, que o desafio vem dos padres, mas surge através da nossa colaboração”, descreve, sublinhando que “ao contrário das paróquias onde se colabora com a realidade que já lá existe, no Pré-Seminário os seminaristas quase que criam a realidade”.

Esta experiência contribuiu significativamente para a formação deste jovem seminarista. “Na minha pequenez, consegui ajudar pessoas a decidir a sua vida, de alguma forma, através de desafios concretos. Mas destaco, sobretudo, o poder encontrar-me com pessoas que nunca tinham ouvido falar da vocação, sendo eu o primeiro instrumento que Deus lhes deu para pudessem saber o que era a vocação e, depois, irem para o seminário”, recorda este seminarista, de 23 anos.

O trabalho pastoral desenvolvido junto das comunidades cristãs tem sido, para Pedro Sousa, “uma experiência de crescimento”. “É uma oportunidade” que “serve também de aprofundamento da vocação ao tornar em prática o que vou fazendo na pastoral”, garante o seminarista, salientando a importância do acompanhamento feito por outros sacerdotes, que passa não só pelo convívio, mas também por momentos de oração. “No atual trabalho pastoral, uma das coisas que faço é rezar as Laudes, ao Domingo de manhã, com o padre Tiago e com padre Binoy. Sábado à noite, rezamos as Completas e temos momentos de oração comunitária. São tempos que servem para descobrir que estou cá para aprender a ser padre, com eles”, sublinha.

 

O seminário na comunidade

Para o pároco de São Julião do Tojal, Santo Antão do Tojal, Fanhões e Bucelas, padre Tiago Neto, o trabalho dos seminaristas nas paróquias “complementa aquilo que é a formação que vão tendo no seminário” e “ganha tanto quanto ele for orgânico com aquilo que é a experiência do seminário e dos estudos da Teologia”. Para este sacerdote que, desde há 4 anos, já contou com o trabalho de seis seminaristas nas suas paróquias, “a presença de um seminarista numa comunidade faz crescer a comunidade, assim como esta pode ajudar ao crescimento do seminarista”. “Penso que um dos frutos é valorizar a experiência do seminário na comunidade, aquilo que é a experiência de oração e de uma consciência vocacional maior que a comunidade pode ter. Por outro lado, naquilo que são os objetivos pastorais, de facto, é uma mais valia para uma paróquia ter a presença dos seminaristas, desde que articulada com aquilo que é o ritmo de crescimento da comunidade”, refere este pároco, de 39 anos.

 

“Gradualidade na transição”

Com um percurso formativo díspar de Pedro Sousa, o seminarista António Ribeiro de Matos cumpre, atualmente, o seu trabalho pastoral, quase em ‘full time’, na paróquia do Parque das Nações, em Lisboa. Com o 6.º ano de seminário já completo, António está agora num “estágio pastoral mais intensivo”, até à sua ordenação presbiteral. “No ano anterior, vinha à sexta-feira e voltava no Domingo ao seminário. Neste ano, estou a tempo inteiro, tirando a noite de terça-feira, e o dia de quarta-feira, que são passados no seminário. “Regresso à paróquia na quarta-feira à noite, depois do encontro da vida comunitária do seminário”, explica. No Parque das Nações, a missão “é muito trabalhar em equipa, com o prior, o padre Paulo, com toda a realidade paroquial, todos os agentes da pastoral, estar presente nos escuteiros, ir acompanhando a catequese e os grupos de preparação para o Crisma. É muito o dar apoio, estar presente e ir tocando as diferentes realidades”, descreve este aluno do Seminário dos Olivais que, a partir das diferentes experiências de trabalho pastoral, destaca a “gradualidade na transição entre o seminário e a vida pastoral”.

 

Tocar a “diversidade da Igreja”

Antes de realizar o trabalho pastoral no Parque das Nações, António Ribeiro de Matos esteve na paróquia de Benfica, durante dois anos, apenas ao fim-de-semana e, mais tarde, na paróquia da Ramada, apenas durante poucos meses, até à sua saída do seminário. Em Benfica, procurou acompanhar, essencialmente, o grupo de jovens e a catequese; na Ramada, acompanhou o agrupamento de escuteiros e um grupo de leitores. “Destas duas experiências posso destacar o poder contactar com as pessoas, o contacto com a realidade paroquial e pastoral, o sermos chamados a fazer caminho com as realidades que nos são oferecidas e o poder tocar a diversidade da Igreja. É a mesma Igreja em Benfica, no Parque das Nações ou na Ramada, mas com realidades muito diversas”, sublinha este seminarista, da paróquia do Santo Condestável, em Lisboa.

 

A marca das paróquias

A partir das experiências de trabalho pastoral já adquiridas, António Ribeiro de Matos considera que o padre que há de ser “tem a marca de cada uma das paróquias” por onde passou. “Cada uma das paróquias há de ter-me marcado, de forma mais ou menos consciente, de forma diferente. Mas, claramente, vou ser um padre com a marca da paróquia de Benfica, da Ramada, do Parque das Nações, de Santo Condestável. É muito bonito pensarmos que as comunidades vão moldando o padre que havemos de ser”, considera.

A viver, atualmente, na Paróquia de Nossa Senhora dos Navegantes, este seminarista que será ordenado diácono no Domingo I do Advento, reafirma o papel das comunidades cristãs no processo formativo dos seminaristas. “É a comunidade que colabora de forma muito direta com o coração da diocese que é o seminário. Porque o seminário também é para as comunidades. O seminário existe porque Deus ama as comunidades. Cada uma destas paróquias foi-me desafiando e convidando a sair de mim, em aspetos diferentes e aprofundando dimensões que nunca tinha pensado. É muito graças a estas comunidades que eu aqui estou”, revela este seminarista, de 31 anos, garantindo que a “relação com o seminário também é mantida, através do acompanhamento espiritual e do contacto com a equipa formadora”. “Continuo a ter no seminário a minha casa de formação, que me ajuda a caminhar, presença do amor de Deus por mim”, assegura.

 

Fazer a diferença

Para o pároco do Parque das Nações, cónego Paulo Franco, uma “experiência feliz” e “abrangente” e “não confinada a uma ou outra realidade”, durante o trabalho pastoral numa paróquia, “fazem toda a diferença no futuro da vida de padre”. “As nossas comunidades são hoje, cada vez mais, lugares onde a multiplicidade dos carismas, das experiências espirituais, das relações humanas vão acontecendo. E quanto mais, numa formação pastoral, essa experiência poder ser feita – e até o confronto da exigência que é ao lidar com sensibilidades diferentes – mais nos vai enriquecer no futuro. Qualquer um dos seminaristas, tanto melhor padre será, no futuro, quanto mais a sua formação – não apenas académica, espiritual – for abrangente, feliz, exigente e também os tirar da zona de conforto”, realça.

Para este sacerdote, a presença dos seminaristas na paróquia deve incidir não na oportunidade para o suprimento de algumas funções pastorais e operativas, mas “numa lógica invertida”, onde “a paróquia trabalha com o seminário na formação dos seminaristas, tornando-se um instrumento formativo na vida dos futuros padres”. “É pela forma que os seminaristas estão presentes que essa formação vai acontecendo”, sublinha. “Obviamente que a paróquia se sente enriquecida com a presença dos seminaristas, não apenas pelo trabalho pastoral que vão fazendo, mas também com a sua presença e o seu testemunho”, assegura.

Para o cónego Paulo Franco, que conta com 23 anos de sacerdócio, a presença de um jovem seminarista também “é muito importante” para a sua missão, porque “faz evoluir e não ficar estagnado”. “A presença do António na paróquia não se trata de um trabalho, mas sim de uma missão que é assumida em conjunto, em equipa. O facto de, juntos, partilharmos a casa, termos rotinas, olharmos a pastoral e tomarmos decisões em equipa e termos momentos de oração em conjunto, é uma mais-valia. A vida pastoral da paróquia ganha e o cumprimento da nossa missão é enriquecido com a presença do outro”, garante.

 

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As comunidades como “extensão e colaboração do seminário”

O reitor do Seminário dos Olivais, cónego José Miguel Pereira, destaca, ao Jornal VOZ DA VERDADE, a importância do trabalho pastoral dos seminaristas nas comunidades cristãs, a dois níveis. O primeiro nível, são as “comunidades constituírem-se como a extensão e colaboração do seminário na formação da caridade pastoral e do coração de pastor destes candidatos, destes jovens”. “É aprender com o povo e com os pastores, no acompanhamento que os pastores fazem ao povo nas suas realidades mais comuns, mas aprendendo com as comunidades de fiéis e com os pastores, a vida pastoral e os sentimentos do coração de Jesus”, define este responsável. Ainda neste campo, o cónego José Miguel apresenta a importância do povo de Deus para a formação dos futuros sacerdotes, “seja enquanto fiéis que se comprometem na construção da Igreja e no testemunho”. “Portanto, aquelas pessoas mais responsáveis e mais conscientes da sua vocação são, para os seminaristas, um testemunho e uma ajuda, uma orientação muito importante. E, depois, o comum dos fiéis nas suas buscas, angústias, alegrias, nas suas perguntas, nas suas procuras”, descreve.

Num segundo nível, encontra-se o facto de as comunidades que recebem seminaristas “ajudarem o seminário na apresentação da possível vocação sacerdotal para anúncio a outros que possam ser desafiados a isso”. “Há aqui um contributo na pastoral das vocações sacerdotais que a presença dos seminaristas também desperta e anima”, aponta.

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