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“Quaresma é tempo para desligar a televisão e abrir a Bíblia”
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O Papa Francisco manifestou “proximidade” com os doentes infetados pelo coronavírus. Na semana em que teve início a Quaresma e foi publicada a mensagem do Papa, Francisco visitou Bari, onde criticou discursos populistas, e nomeou D. Tolentino de Mendonça para o Conselho Pontifício da Cultura.

 

1. O Papa manifestou a sua “proximidade” para com as pessoas afetadas pela epidemia de coronavírus. “Desejo exprimir novamente a minha proximidade para com os doentes do coronavírus e aos profissionais de saúde que deles cuidam, bem como às autoridades civis e a todos aqueles que se empenham a assistir os pacientes e a parar o contágio”, assinalou Francisco, na audiência-geral de quarta-feira, 26 de fevereiro, que decorreu na Praça de São Pedro, ao ar livre, evitando assim concentrações em espaços fechados.

 

2. Em Quarta-feira de Cinzas, o Papa centrou a sua intervenção, na audiência-geral, no tempo da Quaresma, convidando os católicos a “desligar” os ecrãs e dedicar tempo à Bíblia e à caridade. “A Quaresma é o tempo propício para dar lugar à Palavra de Deus. É o tempo para desligar a televisão e abrir a Bíblia. É tempo para desligar-se do telemóvel e conectar-se ao Evangelho”, declarou. “Não é fácil fazer silêncio no coração”, assumiu o Papa, desafiando os crentes a “renunciar a palavras inúteis, a bisbilhotices”, combatendo um ambiente “poluído” pela violência verbal, “que as redes ampliam”. “É tempo para falar tu a tu com o Senhor”, apontou, apelando à oração e ao que chamou de “ecologia do coração”.

A intervenção partiu do simbolismo do deserto, na Bíblia, sublinhando que este remete, hoje, para quem vive na solidão e no abandono. “Quantos pobres e idosos estão ao nosso lado e vivem no silêncio, sem fazer barulho, marginalizados e descartados”, lamentou. “O caminho no deserto quaresmal é um caminho de caridade em direção aos mais fracos”, acrescentou.

 

3. O Papa Francisco apela, na sua Mensagem para a Quaresma, a que não se deixe “passar em vão este tempo de graça” e que o Mistério pascal seja colocado “no centro da vida”. “Colocar o Mistério pascal no centro da vida significa sentir compaixão pelas chagas de Cristo crucificado, presentes nas inúmeras vítimas inocentes das guerras, das prepotências contra a vida desde a do nascituro até à do idoso, das variadas formas de violência, dos desastres ambientais, da iníqua distribuição dos bens da terra, do tráfico de seres humanos em todas as suas formas e da sede desenfreada de lucro, que é uma forma de idolatria”, lê-se na mensagem divulgada dia 24 de fevereiro, pelo Vaticano.

Francisco sustenta que quem crê no anúncio da Ressurreição “rejeita a mentira de que a nossa vida teria origem em nós mesmos, quando na realidade nasce do amor de Deus Pai, da sua vontade de dar vida em abundância”. “Não deixemos passar em vão este tempo de graça, na presunçosa ilusão de sermos nós o dono dos tempos e modos da nossa conversão a Ele”, diz o Papa. Na mensagem, Francisco sublinha, ainda, que “o diálogo que Deus quer estabelecer com cada homem, por meio do Mistério pascal do seu Filho, não é como o diálogo atribuído aos habitantes de Atenas, que ‘não passavam o tempo noutra coisa senão a dizer ou a escutar as últimas novidades’”. “Este tipo de conversa, ditado por uma curiosidade vazia e superficial, carateriza a mundanidade de todos os tempos e, hoje em dia, pode insinuar-se também num uso pervertido dos meios de comunicação”, aponta. Assim, o diálogo deve estabelecer-se “coração a coração, de amigo a amigo”, pelo que “é tão importante a oração” neste tempo quaresmal. A oração “antes de ser um dever, expressa a necessidade de corresponder ao amor de Deus, que sempre nos precede e sustenta”.

No texto papal, fala-se também da necessidade de partilha e condena-se a lógica da acumulação de riqueza: “A partilha, na caridade, torna o homem mais humano; com a acumulação, corre o risco de embrutecer, fechado no seu egoísmo. Podemos e devemos ir mais além, considerando as dimensões estruturais da economia”. Neste quadro, Francisco lembra que convocou para Assis, neste tempo de Quaresma – mais concretamente, de 26 a 28 de março –, um grupo de “jovens economistas, empreendedores e transformativos, com o objetivo de contribuir para delinear uma economia mais justa e inclusiva do que a atual”.

A Mensagem do Papa para a Quaresma 2020, divulgada esta semana, visa orientar o tempo de preparação para a Páscoa, que se iniciou na Quarta-feira de Cinzas, 26 de fevereiro. Intitula-se ‘Em nome de Cristo, suplicamo-vos: reconciliai-vos com Deus’, partindo de uma passagem da segunda carta de São Paulo aos Coríntios.

 

4. O Papa alertou para os perigos dos discursos populistas, que alimentam o “medo” entre as populações. “A retórica do choque de civilizações serve apenas para justificar a violência e alimentar o ódio. O falhanço e a fragilidade da política e o sectarismo são causas de radicalismos e terrorismo”, alertou Francisco, durante o Encontro com os Bispos do Mediterrâneo, promovido pela Conferência Episcopal Italiana, em Bari, com o tema ‘Mediterrâneo, Fronteira de paz’. “Assusto-me quando ouço alguns discursos, de líderes das novas formas de populismo. Parece-me ouvir discursos que semeavam medo e depois ódio nos anos 30 do século passado”, referiu, numa passagem improvisada da sua intervenção. Francisco foi recebido pela população Bari, na Praça Cristóvão Colombo, seguindo para a Cripta da Basílica de São Nicolau, onde esteve com os Bispos do Mediterrâneo. No seu discurso, denunciou ainda a “cultura do descarte”, que trata algumas pessoas como “coisas”.

Francisco chamou também a atenção para a insanidade da guerra e a importância de não se normalizar os conflitos. “A guerra é verdadeiramente uma loucura, pois é louco destruir casas, pontes, fábricas, hospitais, matar pessoas e destruir recursos, em vez de construir relações humanas e económicas”, declarou. “É uma loucura a que não podemos resignar-nos: a guerra nunca poderá passar por normalidade, nem ser aceite como via inevitável para regular divergências e interesses contraposto”, vincou ainda. Por isso, o objetivo de toda a sociedade humana deverá continuar a ser a paz: “Não há alternativa possível à paz” para ninguém, afirmou o Papa.

 

5. D. José Tolentino de Mendonça foi nomeado, pelo Papa, como membro do Conselho Pontifício da Cultura, informou o Vaticano, no passado dia 21 de fevereiro. O cardeal português, que é o atual responsável pelo Arquivo Apostólico do Vaticano, regressa assim a este dicastério, de que foi consultor.

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