Missão |
Neuza Francisco, dos Leigos Missionários Combonianos
“Ser testemunha de um amor que ultrapassou a barreira do tempo”
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Neuza Francisco nasceu a 20 de janeiro de 1992, na cidade de Viseu, onde reside. É licenciada em Comunicação Social, pela Escola Superior de Educação de Viseu, e Pós-Graduada em Intervenção Psicossocial com Crianças e Jovens em Risco. Em 2014, ingressou nos Leigos Missionários Combonianos com quem partiu em missão para o Peru, por dois anos.

 

Neuza partilha que desde cedo se sentia “apaixonada pelas pessoas e os seus mundos, pela escrita e pela natureza”. “Católica desde que me conheço como pessoa, muito por influência dos meus avós que sempre me transmitiram a confiança numa força superior a nós, que nos ama, cuida e impulsa a ser autênticos e a viver com gratidão o dom da nossa vida. Sempre senti que a vida é e será sempre mais do que aquilo que podemos ver, e desde criança que me fascinava ler os testemunhos de quem partia rumo às necessidades do mundo fosse através de testemunhos de voluntários, missionários ou até mesmo através de grandes reportagens. Lembro-me de duas Irmãs Religiosas (creio Combonianas) foram à minha escola Primária e deram o seu testemunho missionário, mas acima de tudo de vida. Tocaram-me de forma muito íntima as suas palavras e embora pequenina sempre me ficaram na cabeça aquelas interrogações tão profundas que fizeram das nossas vidas. Ler sobre as suas vidas e como se dedicavam aos outros alimentava a minha crença de que nascemos com uma missão e vivemos para deixar, com a nossa passagem, o mundo um pouco melhor do que encontrámos. Foi com a esperança de ser participativa nesta missão que é de todos, que após terminar a minha licenciatura e estar mais desperta para as questões fundamentais da nossa existência, questões que sempre pairaram na minha cabeça e sempre adiei, mas que senti que não podia adiar mais que, no ano de 2014, ingressei nos Leigos Missionários Combonianos, pronta para conhecer um pouco mais de mim e numa tentativa de dar respostas às inquietações que trazia dentro, entrei neste percurso formativo de 2 anos onde conheci e aprofundei um pouco mais a minha fé e o carisma Comboniano de que tanto havia ouvido falar. Nestes dois anos fui capaz de viver e experimentar um pouco do que é ser missionário e também de viver o meu eu missionário”, conta.

 

“Com a minha vida deixei um rasto de Jesus por onde passei”

Sobre a sua experiência missionária, Neuza partilha: “Depois destes dois anos de formação e de assumir o meu compromisso em viver como Leiga Missionária Comboniana, parti para a missão no Peru em setembro de 2017 onde estive dois anos e três meses. No Peru, mais especificamente em Arequipa, em conjunto com a família Comboniana e outras congregações, desenvolvemos diferentes projetos com populações vulneráveis, tais como: formação e capacitação de famílias multidesafiadas em diferentes contextos desde os mais pequenos aos pais, criação, organização e animação de um grupo de idosos para combater o isolamento social dos idosos. Mas permitam que vos diga que era nas visitas às famílias que eu mais gostava de passar os meus dias. Entre o sol que se fazia sentir no sul do Peru e a soleira da porta, aprendi muito sobre o valor do simples, da escuta, do abraço, do estar e ser quando o outro não espera nada de ti, apenas o teu tempo. Era entre os vulcões Misti e Chachani que todos os dias despertava para um amor que se doa e que cresce na disponibilidade na humildade e na partilha do que somos, do que o outro é e, do que juntos podemos ser. Partir em missão foi talvez o desafio maior que me foi proposto pela vida, muito embora eu o esperasse. Partir foi deixar para trás tudo aquilo que era conhecido para mim e abrir a mente e o coração a uma cultura completamente diferente daquela a que pertencia. Não foi fácil partir, mas tampouco foi fácil chegar lá. Aterrar foi sentir que a partir de então eu era parte de um povo de Deus desconhecido por mim, mas muito, muito amado por Ele. Sim, sem dúvida que era uma cultura muito distinta e não era só a nível da língua. São duas perspetivas de olhar para o mundo, eu diria bem distintas. Mas talvez eu possa dizer que, foi nesses aspetos que mais nos podiam distanciar que eu vi a possibilidade de crescer, que eu me apercebi que tinha ainda muito para aprender deles e que não seria um choque de culturas senão uma oportunidade de ambas as partes para crescer. Neste sentido vivia-se uma inculturação diária, na escuta ativa, na observação atenta, num constante caminhar juntos e sermos verdadeiros irmãos, e foi isso que sempre senti em terras de missão, senti esse imenso carinho que nutríamos uns pelos outros e senti, que éramos parte da mesma família. Vivi sempre este caminho com disponibilidade e muita vontade de aprender deles.  O que mais me marcou e continua latente em mim foram as pessoas (dos mais pequenos aos maiores) pois foi em conjunto com eles que fui capaz de viver experiências que jamais esquecerei. O abraço que tanto temiam, ao princípio, e que eu tanto insisti em dar. O sorriso tímido, mas que espelhava bondade e coração cheio. Sinto que fomos em conjunto construtores de um amor que cresceu e floresceu em cada um de nós e deu fruto. Sinto que fomos e continuamos a ser, ainda que agora distantes, geradores de vida. E vida verdadeira. Trago ainda nos pés as subidas intermináveis naqueles montes desérticos que percorria para ir ao encontro dos que viviam para lá do visível. Trago em mim o sorriso com que nos acolhiam a cada chegada ao cume do monte e as conversas até ao pôr-do-sol. Conversas sem hora. Trago em mim a gratidão das suas mãos que mesmo sem nunca me terem esperado foram capazes de dar-se sem distinção, sem medo, foram capazes de aceitar-me tal como sou. Eu senti que sim. Trago em mim o abraço de palmo e meio dos meus meninos e o som das suas vozes quando pronunciavam o meu nome. Trago, aquele olhar dos mais idosos, fixado em mim. Aqueles idosos que sorriam à nossa passagem e esperavam alegres o dia em que íamos visitá-los. Trago em mim as famílias que nos acolhiam sempre sem reservas e nos davam o que tinham de melhor. O seu amor. A sua confiança.  E foi esta mesma confiança que nunca me abandonou. Foi a certeza de que não caminhava só, que permitiu que eu chegasse a muitos corações a muitas vidas. E a alegria de saber que com a minha vida deixei um rasto de Jesus por onde passei. Foram muitos os sorrisos partilhados, mas também soubemos partilhar a amargura de muitas lágrimas e acima de tudo acolher todos estes momentos e fazer deles sementes de esperança que nos permitiram seguir em frente. Juntos. O meu coração está agora povoado de rostos, histórias, famílias, abraços, sorrisos, lágrimas e sentido. Regressei a Portugal no fim do ano passado, em dezembro. E sinto-me ainda a aterrar deste lado do Atlântico. Com vontade de continuar a viver o meu propósito por terras lusitanas. Vivo para ser a melhor versão de mim mesma e para com a minha vida iluminar a vida dos outros e contribuir desta forma para ser testemunha de um amor que ultrapassou a barreira do tempo e precisa de nós para se expandir. Pertencemos onde está o nosso coração e o meu pertencerá sempre ao Peru, e sempre onde Ele me levar”.

texto por Catarina António, FEC | Fundação Fé e Cooperação
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