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O drama de uma jovem cristã de 14 anos raptada no Paquistão
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Huma Younus tem apenas 14 anos. Foi raptada em Outubro e forçada a converter-se ao Islão. Desesperados, os pais desta rapariga cristã procuram libertá-la. Mas é difícil, muito difícil. A Fundação AIS tem procurado ajudá-los nesta missão quase impossível, mas é uma luta contra golias, contra uma sociedade que finge não ver, não se incomodar. Uma sociedade que fecha os olhos ao sofrimento dos Cristãos.


Os pais estão desesperados. Sentem-se impotentes, percebem que nada podem fazer. São demasiado pobres. São demasiado insignificantes. Viviam, com a filha, em Zia Colony, na cidade de Karachi, quando tudo desabou. Foi no dia 10 de Outubro. Foi uma quinta-feira, uma data que nunca mais esquecerão. Desde então, desde esse dia, têm procurado fazer tudo o que lhes é possível para a trazer de volta. Mas a cada dia que passa isso parece mais longínquo, mais difícil. Quase impossível. A Fundação AIS tem procurado ajudar esta família cristã. O apoio judicial que está a receber é essencial. E já se conseguiram mesmo algumas vitórias. Dia 3 de Fevereiro, por exemplo, a jovem vai ser ouvida no Supremo Tribunal de Karachi. Algo inédito no país e que pode significar mesmo um ponto de viragem neste processo.

 

48 horas

Mas ninguém pode garantir que Huma Younus vai regressar a casa. Há ainda uma longa batalha pela frente. Uma batalha, acima de tudo, contra uma sociedade que continua a olhar com desdém para as minorias religiosas, como os Cristãos e os Hindus. Prova disso, só passados dois dias depois de a jovem ter sido raptada é que os pais conseguiram fazer o registo da queixa numa esquadra da polícia. As lágrimas, as súplicas dos pais de Huma não foram suficientes. Não lhes bastou assegurar aos agentes da autoridade que lhes tinham levado a filha, que ela tinha sido raptada. Demasiado pobres, demasiado insignificantes. Foram precisas cerca de 48 horas para, finalmente, a queixa ter sido aceite. Conseguiram isso, mas falta ainda tudo o resto. Não se sabe ao certo quantas raparigas são raptadas todos os anos no Paquistão. Seguramente, cerca de uma centena. Esta é uma realidade dramática que poucos ousam enfrentar. Os pais de Huma temem nunca mais voltar a ver a filha. Tem 14 anos. Eles não sabem nem querem imaginar o que ela estará a passar.

 

A história de Shafilla

Shafilla Qashind tinha 14 anos, precisamente a idade de Huma, quando também foi raptada por familiares muçulmanos. Não toleravam que ela fosse cristã. Quiseram castigá-la por causa disso. Violada vezes sem conta, esteve em cativeiro durante meses e foi forçada a converter-se ao Islão. Shafilla só foi libertada a troco do pagamento de um resgate porque a sua saúde revelava-se a cada dia mais frágil. Passou a ser um estorvo. No entanto, ninguém foi condenado neste caso. Foi mais um crime sem castigo no Paquistão. Não se sabe exactamente quantas raparigas cristãs e hindus já foram raptadas, já foram violadas e forçadas a casar convertendo-se ao Islão. É um tema quase tabu na sociedade paquistanesa. Envergonha.

 

Uma mercadoria

D. Sebastian Shaw, Bispo de Lahore, já esteve em Portugal por várias vezes e já denunciou esta situação à Fundação AIS. “Não sei os números exactos”, diz, referindo-se ao ano de 2019. “Mas foram muitos, muitos casos. Talvez uma centena, talvez um pouco menos.” Muitas destas raparigas são menores de idade. “O rapto é um crime”, diz com veemência D. Sebastian. “Tem que ser tratado como tal. Essa é a única maneira de se acabar com esta realidade.” Shafilla foi resgatada ao fim de alguns meses de inferno, mas uma parte de si morreu no dia do rapto. Por mais que viva, dificilmente conseguirá esquecer a dolorosa experiência de cativeiro. Foi agredida, maltratada, violada. Negociada como se fosse apenas uma coisa. Foi usada como uma mercadoria por ser apenas uma rapariga cristã.

 

Pedido de ajuda

É possível que a mãe de Huma não conheça sequer a história de Shafilla. Não precisa de saber pormenores do que lhe aconteceu. Imagina o tormento. Para a mãe de Huma, basta-lhe o próprio sofrimento. É uma mulher angustiada. Precisa de ajuda e pede-nos ajuda. Sente-se desesperada, impotente. Sabe que é insignificante aos olhos da sociedade. Sabe que é apenas uma mulher pobre e cristã. Mas é mãe. “A minha filha tem 14 anos. Que teriam feito vocês se uma filha vossa, com apenas de 14 anos, tivesse que passar por tudo isto? Imaginem apenas que Huma é vossa filha também. Ajudem-nos, por favor!” Os pais de Huma precisam de ajuda. Precisam de nós, da nossa solidariedade. Das nossas orações. Esta é uma luta contra os poderosos, contra uma sociedade que finge não ver, não se incomodar com o sofrimento dos Cristãos. A Fundação AIS está empenhada profundamente na ajuda aos pais de Huma Younus. Não podemos fechar os nossos olhos ao drama desta família.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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