Lisboa |
Culto a Nossa Senhora da Nazaré
Da Nazaré para o mundo
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Imagem

A “mensagem universal” levada pelos “homens do mar da Nazaré” para todo o mundo – e que reúne, hoje, milhões de fiéis –, é “sinal de paz”, lembrou o Cardeal-Patriarca na celebração que assinalou o Encontro Internacional das Comunidades Devotas de Nossa Senhora da Nazaré, que trouxe a Portugal a Imagem da Virgem de Nazaré, de Belém, no Estado do Pará, no Brasil.

 

O culto a Nossa Senhora da Nazaré, agora candidatado pela Câmara Municipal da Nazaré a Património Cultural Imaterial da UNESCO, vai para além da geografia da terra que hoje é conhecida pelas suas ondas. É uma das mais antigas tradições marianas portuguesas que partiu de Portugal e está hoje presente em todo o mundo. No Brasil, a candidatura conseguiu contabilizar mais de 200 comunidades devotas à Virgem da Nazeré. A expressão mais significativa desse culto acontece no Círio da Nazaré, em Belém, no Estado do Pará, no Brasil, e reúne entre dois a três milhões de devotos. É de lá que veio a Imagem da Virgem que peregrinou, nos últimos dias, por Lisboa e pela Nazaré, no âmbito do Encontro Internacional das Comunidades Devotas de Nossa Senhora da Nazaré. Foi esta mesma Imagem que, inesperadamente, “veio ao encontro” de uma religiosa paraense que chegou a Portugal há pouco tempo. “O círio de Nossa Senhora da Nazaré é a maior festa do povo paraense. Não tem outra igual. É uma alegria, uma emoção muito grande”, testemunha a irmã Erica, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Para esta religiosa, a devoção a Nossa Senhora da Nazaré foi determinante para a sua vocação. “Há muitos anos vivia perdida, em busca da vocação. Sentia o meu chamamento e foi através d’Ela que pedi ajuda para encontrar a minha vocação, pedi que Ela me direcionasse. Então, sentia o deseja para a vida religiosa, mas não tinha a certeza. Foi por intermédio de Nossa Senhora da Nazaré que tive a certeza da minha vocação”, refere a consagrada, que pertence ao Instituto das Irmãs Missionárias de Nossa Senhora de Fátima e que chegou a Portugal para uma missão de três anos.

 

Mensagem universal

No último dia do encontro, no Domingo 26 de janeiro, o Cardeal-Patriarca de Lisboa saudou a iniciativa, que ocorre no âmbito da candidatura do Culto a Nossa Senhora da Nazaré a Património Cultural Imaterial da UNESCO, e sublinhou, na homilia da Missa, a universalidade desta devoção que “remonta às origens da nossa nacionalidade”. O milagre que, segundo a lenda, terá salvo D. Fuas Roupinho do precipício, e que deu origem à devoção, “é muito mais do que um acontecimento local”. “Alarga-se agora a uma mensagem universal”, referiu D. Manuel Clemente, no Santuário de Nossa Senhora da Nazaré. “Porque, perigo de cair em precipícios não nos faltam, quer físicos, quer de outra ordem, a todo o homem e mulher deste mundo. E ter esta tradição da Nazaré, da Senhora que nos salva de cair do precipício e nos salva com o Menino que nos traz nos braços, é muito bela e sugestiva. Por isso, não admira que os homens do mar da Nazaré a tenham levado a muitos outros pontos do nosso mundo e muito especialmente ao Brasil, em Belém do Pará”, sublinhou.

 

Pescadores

Na homilia da celebração, que foi concelebrada pelo Arcebispo de Belém, D. Alberto Taveira Corrêa, o Cardeal-Patriarca de Lisboa assinalou a “coincidência muito significativa” do Evangelho da celebração, onde Jesus também chamou pescadores para o seguirem, para sublinhar a dimensão da devoção a Nossa Senhora da Nazaré em todo o mundo. “O Evangelho de hoje fala do início da pregação de Jesus Cristo, uma pregação que Ele não quer fazer sozinho, um reino que Ele não quer alargar sozinho... E, muito significativamente, com quem Jesus quer alargar esse reino? Com pescadores. Foi o que nós ouvimos. Nas margens do Mar da Galileia, Jesus chama pescadores!”, observou D. Manuel Clemente.

 

Sinal de paz

Presentes na celebração que decorreu no Santuário de Nossa Senhora da Nazaré estava não apenas uma comitiva brasileira que acompanhou a Imagem, desde a cidade de Belém, no Brasil, até Portugal, mas portugueses, vindos de vários locais, como, por exemplo da Gafanha da Nazaré, onde existe uma forte devoção à Virgem. Para o Cardeal-Patriarca de Lisboa, a presença de tantos fiéis, de tantas latitudes diferentes, “é um sinal de paz”. “Estamos unidos, porque esta mensagem que aqui se evoca e repete é uma mensagem que nos une no essencial, naquilo em que nós precisamos de ser unidos. Uma mensagem que une o céu e a terra, como aconteceu em Maria, quando concebeu Jesus, no-Lo ofereceu e O acompanhou até à cruz e, agora, na Ressurreição, o torna presente em todo o lado. Isto une-nos no essencial, onde nós precisamos de ser unidos, na vida concreta, onde as coisas acontecem e onde o bem tem que prevalecer”, salientou D. Manuel Clemente, reforçando que “é nesta realidade e realismo das coisas, que as tradições, como as da Nazaré, são um sinal bonito e um incentivo certo para a união, para a paz, mesmo no campo ecuménico e religioso, porque aí, nessa humanidade que sofre e que precisa de ser salva dos precipícios do mundo, estamos certamente todos unidos e encontramos a Virgem com o seu Menino, e Nazaré torna-se também a nossa salvação”, concluiu.

 

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O culto “tem uma expansão mundial com mais de 300 comunidades”

 

Em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, o coordenador geral da Candidatura do Culto de Nossa Senhora da Nazaré a Património Cultural Imaterial da UNESCO, Carlos Laranjo Medeiros, destaca a universalidade do culto à Virgem da Nazaré e manifesta o desejo de que o Papa Francisco visite o Santuário de Nossa Senhora da Nazaré, em 2022, aquando da JMJ em Lisboa.

 

Para além de ser um homem da terra, que outros acontecimentos contribuíram para a sua devoção a Nossa Senhora da Nazaré?

Eu sou da Nazaré e lembro-me que, quando era miúdo – tenho 72 anos –, há 60 anos, o culto e as festas tinham uma importância muito maior no quotidiano, especialmente das gerações mais novas. Eu fui introduzido no culto pelo meu avô. Tinha 3 ou 4 anos, nasci aqui, neste hospital [junto ao Santuário], em frente a Nossa Senhora, e o meu avô, na sua primeira grande conversa a sério que teve comigo, trouxe-me ao Sítio, pela mão, levou-me a ver a imagem primitiva, agarrou-me ao colo, e disse-me: “Tu nasceste ali e foste logo encomendado a Nossa Senhora. O que aqui está é muito importante. Ela ensina-me a mim, filho, os valores de toda a minha vida e é nesses valores que tu tens de te agarrar. Quando tiveres aflições ou alegrias, dirige-te a Ela”.

 

O que esteve na origem desta candidatura?

Eu coordenei a candidatura do Cante Alentejano a Património da UNESCO. Verifiquei, nessa altura, uma coisa muito importante: houve uma reativação dos grupos! Os grupos eram constituídos, quase só, por homens muito velhos e os jovens, quando viram que o Cante Alentejano era considerado Património Mundial da UNESCO, encheram-se de autoestima e fez com que os grupos rejuvenescessem. Atualmente, este movimento está a recuperar comunidades que, durante muito tempo vinham à Nazaré, em peregrinação, e que estão a voltar. Portanto, esse movimento de alargamento já está a acontecer.

 

Como tem decorrido o processo de candidatura?

Temos dezenas de milhares de entradas, de todo o mundo, de documentos, fotografias, pequenos vídeos de onde Nossa Senhora da Nazaré é celebrada. É um orgulho enorme perceber que o culto a Nossa Senhora da Nazaré tem uma expansão mundial com mais de 300 comunidade onde é venerada. Outro dos privilégios que tive foi ter ido, no ano passado, ao Círio de Nossa Senhora da Nazaré em Belém, no Estado do Pará, e ter visto milhões de pessoas nas ruas com uma alegria e uma crença que nunca tinha sentido. Fiquei tão orgulhoso por ser da Nazaré e por ver como Nossa Senhora era venerada da maneira como era, e obtive ainda mais força para esta candidatura. Estou a tentar com que seja uma candidatura conjunta de Portugal e do Brasil, porque o que nós estamos a fazer é também a perspetiva sociológica, antropológica, cultural e de crença.

 

Que mensagem receberam do Papa Francisco quando apresentaram a candidatura, em novembro de 2018?

Depois de falar sobre a ideia ao Presidente da Câmara Municipal da Nazaré, Dr. Walter Chicharro – que apoiou entusiasticamente –, disse-lhe que tínhamos de fazer a ‘prova dos 9’, apresentando a candidatura ao Santo Padre. Disse-lhe para ir a Roma, dizer-lhe qual a intenção, e que se o Santo Padre a acolher, isso dar-nos-ia força para a levar para a frente. E o Santo Padre disse para avançar com a candidatura, mas para evidenciar os aspetos culturais. Claro que nos aspetos culturais estão lá os aspetos religiosos...

 

Que outras fases estão previstas no processo de candidatura?

Nesta primeira fase, que entregaremos em março à UNESCO, gostávamos que fosse uma candidatura conjunta de Portugal e Brasil – porque, apesar de o Círio de Belém, do Pará, ser Património Mundial da Humanidade trata-se de uma manifestação local – de modo a tornar-se uma manifestação universal, de todos os lugares. Esperamos também que, para o ano, se juntem outros locais onde existe este culto, como Angola, São Tomé e, até mesmo, o Canadá.

 

Que outras iniciativas vão existir?

Uma aposta é fazer uma liga, uma associação, com todas as comunidades do mundo onde existe o culto a Nossa Senhora da Nazaré. Depois, há um desejo muito grande, nosso e de todas as comunidades, que é o de conseguir que o Santo Padre venha ao Santuário de Nossa Senhora da Nazaré, em 2022. Estamos também a pensar fazer um grande museu, onde se mostre todo o percurso da Imagem que, segundo a lenda, é a imagem mais antiga do mundo e terá sido feita por São José, no tempo de Jesus. Há uma história fabulosa que, com a ajuda das novas tecnologias, queremos mostrar.

 

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Site da Candidatura do Culto de Nossa Senhora da Nazaré a Património Cultural Imaterial da UNESCO: https://cultosenhoradanazare.org

Todos os contributos relacionados com o culto podem ser enviados para: candidaturapci@cultosenhoradanazare.org

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