Lisboa |
Semana da Caridade (8 a 15 de dezembro) na Vigararia de Vila Franca de Xira-Azambuja
O isolamento como periferia
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Neste ano pastoral dedicado à caridade, as 17 paróquias da Vigararia de Vila Franca de Xira-Azambuja vão dedicar maior atenção aos casos de isolamento, em particular dos idosos. Esta é a conclusão do encontro plenário de sacerdotes e leigos desta vigararia, que decorreu na Paróquia do Forte da Casa, durante a Semana da Caridade.

 

Proporcionar um acompanhamento diferente às pessoas isoladas. É este o objetivo das 17 paróquias da Vigararia de Vila Franca de Xira-Azambuja para este ano pastoral dedicado à caridade, e foi escolhido durante a Semana Vicarial da Caridade, que decorreu de 8 a 15 de dezembro. “É consensual olharmos para os idosos, em especial para o isolamento dos idosos”, referiu o padre Paulo Pires, responsável pela pastoral vicarial da caridade, no encontro plenário, no auditório do Forte da Casa, na noite do passado dia 12 de dezembro. Na presença de D. Joaquim Mendes, Bispo Auxiliar de Lisboa, e dos párocos e responsáveis paroquiais desta pastoral, este sacerdote sublinhou que “o facto de se escolher um ponto comum não quer dizer que ele seja realizado da mesma maneira em toda a vigararia”. “O isolamento, em particular dos idosos, sendo o ponto comum, depois, na realidade concreta, cada um irá tentar perceber melhor como é que pode dar resposta a esta problemática”, explicou. “Ação comum não é fazermos todos a mesma coisa, mas estarmos todos unidos pela mesma preocupação. Será uma ação transversal. A forma como se concretiza passa agora por cada paróquia”, acrescentou, durante o encontro plenário.

Nesta noite em que a vigararia debateu o tema do ano pastoral na diocese, o padre Paulo Pires, que é pároco de Azambuja e Vila Nova da Rainha, recordou palavras do Cardeal-Patriarca, D. Manuel Clemente. “Como tem referido o senhor Patriarca, o importante não é fazermos algo novo, mas aquilo que já fazemos fazê-lo com um espírito novo. Criar coisas de raiz, por vezes, pode ser um risco. Temos que potencializar o que já temos. Temos de olhar para a periferia mais periférica, àquelas pessoas a quem ninguém presta atenção e estão mais esquecidas. Penso que pode ser um grande desafio”, reforçou o sacerdote.

 

Escutar as pessoas

A Semana da Caridade na Vigararia de Vila Franca de Xira-Azambuja teve lugar de 8 a 15 de dezembro e serviu para encontrar a “ação comum” a desenvolver, neste ano pastoral, pelas 17 paróquias. O padre António Cardoso, pároco de Aveiras de Cima e de Aveiras de Baixo, pertence também à equipa vicarial da pastoral da caridade e sublinhou a oportunidade deste encontro. “Não queríamos uma semana para fazer caridade. Quisemos que esta semana fosse de arranque para o ano todo”, referiu este sacerdote, desafiando a vigararia à “organização de um novo encontro vicarial antes do Congresso Diocesano da Pastoral Social”, a 15 e 16 de maio, em Torres Vedras, para “fazer um ponto da situação do que cada paróquia realizou até lá”.

Presente neste encontro plenário no Forte da Casa, D. Joaquim Mendes começou por recordar os elementos constitutivos que formam a caridade cristã. “Quando falamos de caridade cristã somos levados a ir para a caridade institucional, com estatísticas, levantamentos… não! A caridade cristã é a resposta àquilo que numa determinada situação constitui a necessidade imediata. Temos de descobrir estas necessidades concretas”, apontou o Bispo Auxiliar de Lisboa. A atividade caritativa cristã deve, também, “ser independente de partidos e ideologias”. “Mais do que fazer coisas, temos de escutar as pessoas. É estabelecer uma relação de proximidade. As pessoas estão muito isoladas, estão muito sós, e precisam de ter alguém que as acompanhe, que as ‘adote’”, exprimiu. Finalmente, em terceiro lugar, a caridade cristã é “amor gratuito”. “Imediata, independente e gratuita, assim se carateriza a caridade cristã”, resumiu.

Sobre a periferia do isolamento, escolhida pela vigararia, D. Joaquim Mendes apelou a “não esquecer as prisões”. “Entre os presos, há os isolados, aqueles que não têm visitas de ninguém. Há que estabelecer uma relação de confiança com os reclusos, até porque há alguns que estão de licença precária e ao fim-de-semana não têm para onde ir”, lembrou o Bispo Auxiliar de Lisboa. “Basta amar as pessoas, fazê-las sentir que elas contam para alguém”, terminou.

No início do encontro plenário, o responsável vicarial desta pastoral, padre Paulo Pires, sublinhou que “a caridade é uma dimensão absolutamente constitutiva do ser cristão”. O sacerdote, de 33 anos, recordou, depois, a Carta do Cardeal-Patriarca aos diocesanos de Lisboa no início do ano pastoral 2019-2020, para destacar o tema do ano, ‘Sair com Cristo ao encontro de todas as periferias’. “Este mote unifica todo este ano pastoral”, referiu, lembrando palavras de D. Manuel Clemente no referido documento. “‘A insistência na ação caritativa há de levar-nos a trabalhar mais e melhor em conjunto para servir quem precisa’. Sublinho as palavras ‘trabalhar mais e melhor em conjunto’. Nesta pequena frase, estão os elementos essenciais que devem pautar a nossa preocupação”, apontou.

 

Uma vigararia, duas realidades

A Vigararia de Vila Franca de Xira-Azambuja é composta por 17 paróquias: Alcoentre, Alhandra, Alverca do Ribatejo, Aveiras de Baixo, Aveiras de Cima, Azambuja, Cachoeiras, Calhandriz, Castanheira do Ribatejo, Forte da Casa, Manique do Intendente, Póvoa de Santa Iria, São João dos Montes, Sobralinho, Vialonga, Vila Franca de Xira e Vila Nova da Rainha. “Tendo em conta a extensão da vigararia, aquando do elenco das necessidades mais prementes, diferenciámos a zona sul (com as paróquias no concelho de Vila Franca de Xira) e a zona norte (das comunidades cristãs do concelho de Azambuja)”, esclareceu, desde logo, o sacerdote.

Sobre as carências assinaladas na zona sul da vigararia, o padre Paulo Pires destacou a necessidade de “inclusão de pessoas marginalizadas”, normalmente associadas “a bairros desfavorecidos”. “Temos de trazer estas pessoas para a comunidade cristã, para que haja maior à vontade e, com isso, maior inclusão”, observou. No entanto, a necessidade que “mais vezes surgiu nos inquéritos foi a do isolamento de idosos”. “Entre as soluções, apareceu a sinalização dos idosos – saber quem são, onde estão –, e a implementação de programas já existentes, em especial das autoridades, câmaras municipais e IPSS’s, para assegurar uma assistência imediata”, frisou. Foram ainda destacados “os idosos isolados, sem suporte familiar”, e que “é, hoje, uma necessidade tão básica como a alimentação”. Isso levanta a possibilidade de “organizar grupos de visitadores”, o que traz consigo “a necessidade de formação prévia dos visitadores/voluntários”.

 

Mudar uma realidade

No que se refere às carências mais prementes na zona norte da vigararia, aquela que compreende o município de Azambuja, este responsável vincou a necessidade de “acentuar as respostas sempre numa lógica de evangelização”, que “não o proselitismo”. “Dar testemunho autêntico de vida cristã. A caridade autêntica é já, em si, evangelização”, reforçou, destacando também o “isolamento/solidão dos idosos”, a “carência de voluntariado jovem” e a “pobreza mascarada ou envergonhada”. “Temos de cultivar a abertura, a franqueza e a confidencialidade, para que as pessoas possam sentir, nas nossas instituições, o rosto de Cristo que acolhe”, apontou.

Por haver um estabelecimento prisional na zona norte desta vigararia, em Alcoentre, foi também apontada como necessidade a “visita às prisões”. “Assinalou-se a falta de voluntariado, que necessita de decisão e compromisso. Nas prisões, não é possível existirem voluntários pontuais”, observou o padre Paulo Pires, pedindo para “ser divulgado nas comunidades este voluntariado”. Por outro lado, há que organizar “campanhas de recolhas de produtos para as prisões”, especialmente produtos de higiene.

“Nós não podemos mudar o mundo, mas podemos começar por mudar um aspeto. Se nós todos pudermos, como vigararia, pelo menos durante um ano, dedicar atenção a uma realidade e essa realidade começar a mudar, bendito seja Deus”, referiu o padre Paulo Pires, responsável pela pastoral da caridade na Vigararia de Vila Franca de Xira-Azambuja.

 

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“Não é suficiente acreditar que Jesus é o Filho de Deus, é preciso manifestá-lo, mostrá-lo com as obras”

Na Missa de envio dos agentes da pastoral da caridade da Vigararia de Vila Franca de Xira-Azambuja, o Bispo Auxiliar de Lisboa D. Joaquim Mendes convidou a mostrar a fé com obras. “Não é suficiente acreditar que Jesus é o Filho de Deus, mas é preciso manifestá-lo, mostrá-lo com as obras, com a vida. Só assim é que nos tornamos precursores de Jesus, abrindo caminho em nós e à nossa volta para o seu acolhimento, para a fé n’Ele, para o seu seguimento”, apontou o prelado, na celebração que presidiu, na Paróquia de Castanheira do Ribatejo, na tarde do passado Domingo, 15 de dezembro.

Nesta celebração, com que encerrou a Semana Vicarial da Caridade da Vigararia de Vila Franca de Xira-Azambuja, o Bispo Auxiliar do Patriarcado apontou que “não basta evocar e celebrar a vinda de Jesus, é necessário acolhê-lo como o Filho de Deus”. “Continuamos a precisar que o Senhor venha, porque as mãos continuam fatigadas e é preciso fazer o bem, estendê-las para acolher, ajudar, acariciar”, referiu D. Joaquim Mendes. “Peçamos ao Senhor que fortaleça os nossos corações para fazermos o bem, a não nos queixarmos uns dos outros, antes ajudemo-nos reciprocamente, sobretudo aqueles que mais precisam, os mais periféricos, isolados, mergulhados numa solidão dolorosa. Vamos ao seu encontro, resgatemo-los do abandono e do esquecimento, trazendo-os para o centro da nossa atenção e da atenção da comunidade, manifestemos-lhes o nosso amor com «obras»: a atenção, a escuta, o afeto e a proximidade solícita”, terminou.

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