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À procura da Palavra
Cem palavras
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DOMINGO XV COMUM Ano C

“Passou junto dele e, ao vê-lo,

encheu-se de compaixão.”

Lc 10, 33

 

Com pouco mais palavras (contando artigos e partículas gramaticais) chegou até nós a parábola que Jesus contou para responder à pergunta: “quem é o meu próximo”! E ficamos “sem palavras” diante dum relato onde cabe a vida toda, e podemos “entrar na pele” de todos os personagens. A história, que não seria notícia de capa de nenhum jornal, nem “post” das redes sociais (pois o samaritano não tiraria nenhuma “selfie”!), ressoa no íntimo de quem a lê ou escuta.


Quem somos nós neste relato? Um homem no caminho que desce de Jerusalém a Jericó: 1100 metros de desnível. Figura de todos os homens e mulheres, que sobem e descem tantos caminhos, anónimo e tão igual a todos nós, sem saber o imprevisto que o espera. Bandidos, profissionais do mal, especialistas no roubo violento e na fuga, indiferentes à sorte dos frágeis e desprotegidos, de consciência adormecida para as consequências dos seus actos, cobardes que atacam pela força da maioria, tão diferentes do que cada um de nós pode ser?! Um sacerdote, homem de Deus, íntimo do sagrado, purificado pelo culto, de olhar cego pelos rituais da pureza, passa adiante: a dureza de coração é maior do que a compaixão, e connosco tal não aconteceria! Um levita, um funcionário zeloso do templo, habituado às coisas de Deus e esquecido do amor dos outros, vê e segue adiante: a pressa ou a falsa humildade de achar que nada se pode fazer distinguem-no de nós! Um samaritano, raça desprezada pelos judeus, que tinha programa a cumprir, salva a honra de todos nós, e é o herói improvável por uma abundante compaixão. E ainda um estalajadeiro, que também podia ser um de nós, capazes de cuidar a pedido (e ainda mais com pagamento antecipado)!


Do saber ao fazer vai um pequeno grande passo. Em 11 gestos, 11 verbos, o samaritano revela a compaixão em acto. Não é quem muito sabe que faz avançar a história; nem quem muito diz. Mas quem muito ama. O segredo não é saber quem é nosso próximo, mas de quem é que nos aproximamos. A nossa religiosidade vai ao encontro da vida, das pessoas na sua realidade, ou passa de largo, enredada em discussões vazias e guerrinhas de poder? A criatividade do amor abre futuros, provoca outros a fazer melhor, não se limita a constatar o mal ou a desistir antes de tentar.


O Samaritano é Jesus; e não nos pede Ele que sejamos nós também? Na atenção a um e a todos, aqui e agora, nos pequenos e nos grandes problemas da humanidade. Como continuam actuais estas palavras da Gaudium et Spes: “a profunda e rápida transformação da vida exige com grande urgência que ninguém, por despreocupação ou por inércia, se conforme com uma ética meramente individualista. Os deveres da justiça e da caridade cumprem-se cada vez mais contribuindo para o bem comum de acordo com a capacidade própria e a necessidade do próximo, promovendo e ajudando as instituições, públicas ou privadas, que se dedicam a melhorar as condições de vida dos homens” (n.30). Ficamos “sem palavras”, não é verdade? Passemos então aos actos!

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