Lisboa |
Festa da Família, no parque da Quinta das Conchas, em Lisboa
Sem o núcleo familiar, “tudo o mais, oscila”
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A sexta edição da Festa da Família registou cerca de quatro mil participantes – o maior número de sempre. No parque da Quinta das Conchas, no Lumiar, o Cardeal-Patriarca salientou a importância das famílias cristãs no ‘combate’ às “solidões acumuladas”. “É na unidade familiar que se sustenta a própria unidade humana”, observou D. Manuel Clemente.

 

As famílias cristãs têm uma “responsabilidade particular e também uma graça para porem em atuação”: “mostrar que, apesar de todas estas dificuldades que o mundo atual traz, a família é uma realidade básica, fundamental para a vida e convivência. Sem este núcleo, tudo o mais, oscila”, sublinhou o Cardeal-Patriarca de Lisboa, na sexta Festa da Família. No centro do parque da Quinta das Conhas, no Lumiar, D. Manuel Clemente começou por denunciar as alterações sociais que “não favorecem a estabilidade familiar, nem para constituir a família nem depois para a perpetuar”, e alertou para as “solidões acumuladas” que estão presentes nas cidades. “Há, por vezes, avenidas inteiras em que, na maior parte das habitações, vive uma pessoa sozinha. Isto é um enorme desafio que as famílias cristãs, porque estão convictas da importância do núcleo familiar, não podem abandonar”, apontou o Cardeal-Patriarca, na intervenção ao início da tarde, nunca deixando de incentivar as largas centenas de famílias que marcaram presença: “Se Deus não desiste, a gente também não!”.

 

Coerência de vida

Para a família Frazão, esta não foi a primeira vez que esteve presente na Festa da Família. A participar num dos ‘Percursos’ disponíveis, esta família falou, ao Jornal VOZ DA VERDADE, do motivo pelo qual este “é um evento a apoiar”. Segundo Margarida – a mãe –, “a família é a base na educação dos filhos e dos valores da sociedade”. “Gostamos de conhecer associações e conhecer um pouco mais da diversidade dentro da Igreja. Achamos que devemos apoiar e comemorar a família”, assinala. Para Margarida, é também importante uma “coerência de vida”, para que o testemunho passe. “Temos muitos amigos que não acreditam em Deus, mas sabem que nós acreditamos. É engraçado porque, às vezes, mesmo sem terem fé, se alguém está doente ou vai ter um exame, pedem-nos para rezar por essa intenção. Algumas vezes, até admiram e têm pena de não ter essa fé, essa alegria de viver”, revela Margarida que, juntamente com o marido, Carlos, estão integrados numa equipa de casais de Nossa Senhora, em Oeiras, e fazem parte de uma equipa do Centro de Preparação para o Matrimónio, em São Domingos de Rana, estando também ligados ao Opus Dei.

 

Viver a família

Sobre os desafios que se colocam, atualmente, às famílias cristãs, Carlos Frazão garante que “não é difícil” ser família cristã, hoje em dia, “desde que uma pessoa tenha fé e queira ser coerente com a fé que tem”. “No mundo em que vivemos, verificamos que existe muita gente que não partilha a nossa fé, nem a compreende. Isso é algo que nos acicata mais a tentar ser coerentes e a aprofundar para tentar explicar a alegria que temos pelo facto de, ao vivermos, sabermos que estamos em casa, que este mundo é, de facto, aquilo para o qual fomos feitos. É esse sentido que nos ajuda a enfrentar as dificuldades e a fazer o resto com muita alegria”, partilha Carlos.

Para a filha Teresa, de 10 anos, “é ótimo viver numa família cristã, que tem fé em Deus” e rezar por todos os que não têm. “Quem tem fé em Deus, é muito mais feliz!”, afirma, confiante. Para Gonçalo, o irmão mais velho, a família é a “base” para “repor as forças”, em especial durante o tempo de estudo. “A família é fundamental. Andei numa escola onde tinha muitos amigos, a maior parte, sem fé. Eu gostava muito do que via em casa e gostava que eles tivessem o mesmo nas casas deles. Eu vinha à família beber e depois tentava dar aos meus amigos... E continuo a tentar”, conta este jovem de 24 anos, que está a fazer um doutoramento.

 

Caminhar em conjunto

Ao longo do dia, passaram cerca de quatro mil pessoas pelo parque do Lumiar, na Vigararia Lisboa IV. O número de participantes é o maior de todas as edições. Mesmo com a dificuldade em contabilizar o número de famílias presentes, o balanço da organização é “muito positivo”. “O espaço é muito agradável, tudo funcionou bem, os percursos, os stands da feira familiar... Senti um ambiente muito alegre e de muita comunhão”, revela o padre Rui Pedro Carvalho, diretor da Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa, ao Jornal VOZ DA VERDADE. “A comunicação correu muito bem, tanto da parte do Patriarcado, como das várias equipas e movimentos que foram espalhando a notícia e fazendo com que muita gente participasse na festa. Também tivemos 250 casais inscritos para assinalarem o seu jubileu matrimonial (10, 25, 50 ou mais anos de matrimónio) – um número muito superior aos 160 inscritos do ano anterior”, acrescenta.

Contudo, o sucesso desta edição da Festa da Família começou a ganhar forma muito antes, em dezembro, e dinamizou a Pastoral Familiar da própria vigararia, sublinha o padre Rui Pedro, salientando o trabalho e a participação que também foi demonstrada pelos vários movimentos e outras realidades eclesiais que foram responsáveis por dinamizar “percursos” e preparar os stands para a “Feira Familiar”, ao longo do dia, no parque da Quinta das Conchas. “É um caminhar em conjunto. Foi muito bonito, estarmos tantos carismas, tantas realidades eclesiais, sentadas à mesma mesa, no mesmo projeto. Trouxe bastante unidade à nossa Igreja Diocesana”, aponta o diretor da Pastoral Familiar do Patriarcado.

 

Promoção do matrimónio

Apesar de ser uma das iniciativas mais faladas, a celebração dos jubileus matrimoniais para os casais que completam 10, 25, 50 ou mais anos de casamento serve muito mais do que “para ter pessoas na festa”. “Acaba por ser a promoção do matrimónio e das próprias famílias, que se sentem reconhecidas por terem ali um momento de valorização daquilo que é a sua missão como famílias cristãs, de pequenas igrejas domésticas. Fazemos esta iniciativa porque é uma manifestação da Igreja valorizar esta missão tão bela que é a missão da família. Ser família cristã, celebrar o matrimónio, é uma missão eclesial”, aponta o diretor da Pastoral Familiar. Certo é que a tradição de receber o diploma que assinala o jubileu matrimonial veio para ficar. “Vamos visitando algumas famílias, na diocese, e nalgumas casas já vejo o quadro com a bênção do senhor Patriarca. Isto começa a criar alguma cultura”, aponta, satisfeito, o padre Rui Pedro.

 

Maior do que as divisões

Na homilia da Missa que assinalou o encerramento da sexta Festa da Família do Patriarcado de Lisboa, o Cardeal-Patriarca salientou a importância deste encontro anual e incentivou as famílias presentes, “vindas de vários pontos da diocese”, a “agradecer e cuidar” da “marca de origem e que tanto nos assemelha a Deus como família, como unidade de vários e num só Espírito Santo”. “O amor de Deus é maior do que as nossas divisões. Não podemos dispensar a família porque, em cada família, este amor circula e, se não encontrar obstáculos ou superando-os, há de manter na unidade aquilo que é mais importante que é a humanidade à imagem e semelhança de Deus”, garantiu D. Manuel Clemente, no Domingo em que a Igreja celebrou a Solenidade da Santíssima Trindade.

No palco do parque da Quinta das Conchas, o Cardeal-Patriarca criticou a “sociedade tão dispersa e tão dispersante”, onde “é difícil, com a correria do dia-a-dia, manter um ritmo familiar”. “Por isso, nunca foi tão importante esta verdade total da família cristã, que nos aproxima da família divina e que faz com que, apesar de tudo, e para além de tudo, nos reencontremos em dinamismos que mantenham a unidade familiar. Porque é na unidade familiar que se sustenta a própria unidade humana”, observou D. Manuel Clemente. “Não tenhamos dúvidas que muitíssimos dos problemas que nos afligem hoje, como humanidade, resultam da falta de vida familiar, da falta de vizinhanças ativas, da falta de acompanhamento mútuo, da dispersão que hoje é, tecnologicamente, muito potenciada. Apesar de tudo isto, nós mantemos – e eu agradeço muito a Deus –, em cada família que se casa no Senhor, aquele caminho que é o caminho para que Deus nos quer e para o qual nos cria”, salientou o Cardeal-Patriarca.

Nos dias de hoje, até com a “feliz longevidade acrescentada”, “onde estão as casas, os espaços onde as pessoas se possam encontrar?”, questionou o Patriarca, sublinhando que a resposta a esta pergunta é um “enorme desafio às famílias cristãs, em particular, porque, tocadas pela caridade divina que o Espírito Santo infunde, podem realizar plenamente o projeto de Deus para a humanidade que nas famílias começa”. “Que as vossas comunidades sejam famílias de famílias. Deus reina onde existe e Deus existe na unidade da comunidade. O Espírito vos guiará e está muita gente à vossa espera”, concluiu D. Manuel Clemente, perante centenas de famílias presentes e de 250 casais que assinalaram o jubileu matrimonial.

 

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Óbidos vai receber a próxima Festa da Família

A sétima edição da Festa da Família, em 2020, vai decorrer no Domingo, dia 7 de junho, Solenidade da Santíssima Trindade, na Paróquia de Óbidos, na Vigararia de Caldas da Rainha-Peniche. O anúncio foi feito no final da Missa de Domingo, no parque da Quinta das Conchas.

Para o pároco de Óbidos, padre Ricardo Figueiredo, esta escolha é “um momento de alegria e um voto de confiança”. O sacerdote está seguro de que esta iniciativa “vai ser um motor para rejuvenescer e reforçar a Pastoral Familiar na Vigararia de Caldas da Rainha-Peniche”. “O objetivo passa agora por pôr a vigararia a pensar, numa lógica mais familiar, para servir as famílias, sabendo que no próximo ano pastoral somos convidados a ir às periferias, ou seja, somos chamados a ir àquelas famílias que estão mais na periferia para as chamar para o centro, para Jesus Cristo”, assinala o sacerdote, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

texto por Filipe Teixeira; fotos por Pastoral Familiar do Patriarcado de Lisboa
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