Depois sentou-Se e do barco pôs-Se a ensinar a multidão. Quando acabou de falar, disse a Simão: «Faz-te ao largo e lançai as redes para a pesca». Respondeu-Lhe Simão: «Mestre, andámos na faina toda a noite e não apanhámos nada. Mas, já que o dizes, lançarei as redes». Eles assim fizeram e apanharam tão grande quantidade de peixes que as redes começavam a romper-se. (Lc. 5, 4-7)
Santo Ambrósio, bispo de Milão no séc. IV e doutor da Igreja, foi grande pregador. Muitas das suas homilias, depois de transcritas, eram revistas e reorganizadas com uma preocupação pastoral e artística, tendo em conta as profundas linfas culturais abertas às solicitações do ambiente e dos estudos daquele tempo. Este é o caso do Comentário ao Evangelho de São Lucas IV, 68.70-72.79, que refere:
Subiu para a barca de Pedro. Esta é a barca que em Mateus é agitada pelas ondas, e em Lucas se enche de peixes, para que compreendas que a Igreja, no início, é agitada pela tempestade, mas depois transborda de peixes. E, os peixes são os homens que atravessam o mar da vida… Esta barca, que leva Pedro, não se deixa perturbar… Esta barca, conduzida pela prudência, não se perturba, a perfídia mantém-se afastada, e nela sopra a fé. Como poderia perturbar-se se é conduzida por Aquele que é o fundamento da Igreja? A tempestade só surge onde há pouca fé. E onde existe a caridade perfeita, aí se encontra a segurança. De resto, só a Pedro foi dito: Faz-te ao largo, ou seja, conduz nas profundidades das disputas. O que há de mais largo do que ver a profundidade das riquezas, conhecer o Filho de Deus, e ter a ousadia de professar a sua geração divina? E, embora o intelecto humano não a possa compreender, apesar de investigar com todas as forças da razão, a plenitude da fé pode abraçá-la. Se não me é lícito saber como nasceu, não me é lícito ignorar que nasceu. Ignoro o modo da sua geração, mas reconheço o princípio dessa geração. Nós, homens, não estávamos presentes quando do Pai nasceu o Filho de Deus, mas estivemos presentes quando o Pai o chamou Filho. Se não acreditamos em Deus, em quem devemos acreditar? Todas as noções que temos, acreditamos nelas, ou porque as vimos, ou porque ouvimos falar delas. Mas a vista engana-se com frequência, contudo, o que ouvimos funda-se na fé. Dever-se-á pôr em causa a pessoa que nos declara uma determinada coisa? Se homens de bem o dissessem, consideraríamos injusto não acreditar neles: e aqui é Deus que o declara, o Filho confirma-o, o sol, ao escurecer, confessa-o, a terra, ao tremer, proclama-o. Em direcção a estas profundidades teológicas a Igreja é conduzida por Pedro, para que possa ver, por um lado, a ressurreição de Cristo e, por outro, a efusão do Espírito Santo.
E o que significam as redes dos apóstolos, que Jesus ordenou que lançassem ao mar, se não o encadeamento das suas palavras, direi, as malhas do discurso e as profundidades das disputas que nunca deixam fugir aqueles que conseguem apanhar? E, precisamente, os instrumentos da pesca dos apóstolos são as redes, porque não matam a presa, mas conservam-na viva, e do abismo elevam-na para a luz, transportando criaturas flutuantes da terra para o Céu…Não temas confessar o teu pecado ao Senhor que te perdoa, não temas confiar ao Senhor mesmo o que é teu, porque Ele deu-te o que era d’Ele. Ele não é capaz de ser invejoso, nem de te tirar nada, nem de te levar nada. Vê como é bom o Senhor, que deu uma tal força aos homens, que lhes permite ter o poder de vivificar.
(Cl. CPL 143; PL 15, 1527 [1607]; CCL 14, 1-400; CSEL 32, 4; SAEMO 11/1, 355-363; SCh 45, 178-182)
Legenda da foto:
Barca com Cristo e os evangelistas
Fragmento de um sarcófago em mármore branco (início do séc. IV)
Museu Pio Cristão dos Museus Vaticanos
Pedro Vaz Patto
Foi muito bem acolhida, pela generalidade da chamada “opinião pública”, a notícia de que...
ver [+]
|
Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]
|
Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]
|
Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]
|