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Índia: dois irmãos consagram as suas vidas a Deus após ataques de Orissa
O poder do perdão
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Dez anos depois de terem sido obrigados a fugir de uma multidão em fúria que atacava a comunidade cristã em Orissa, na Índia, dois irmãos regressaram agora a casa, a esse lugar que esteve a ferro e fogo. Vieram em paz. Dez anos depois, ele é padre franciscano e ela ingressou numa ordem religiosa. Vieram falar de reconciliação.

 

No Verão de 2008, uma multidão enfurecida atacou a comunidade cristã em Orissa, na Índia, procurando vingar a morte de um líder hindu. O que aconteceu naqueles primeiros dias de Agosto foi de tal forma trágico que hoje, dez anos depois, há ainda quem consiga perturbar-se até às lágrimas quando recorda o tumulto que se gerou. Os Cristãos nada tiveram que ver com a morte do líder religioso, mas para a multidão embalada por gritos de vingança isso não era importante. O balanço da tragédia que se abateu sobre Orissa ainda não está completamente apurado. Provavelmente nunca será. Pelo menos 120 pessoas foram assassinadas e cerca de 300 igrejas e capelas destruídas. Mais de 60 mil pessoas tiveram de fugir para as florestas para salvar a sua vida. Conhecem-se poucos episódios tão dramáticos provocados nos últimos anos pela violência religiosa. Ninguém foi poupado naquelas horas, naqueles dias de infâmia. Anand e Anjali Pradham também foram forçados a fugir, também viram a sua vida ameaçada pela violência que se abateu sobre Orissa. Ninguém gosta de recordar os gritos assustados de crianças ameaçadas, as mulheres perseguidas nas ruas para serem violadas, as casas transformadas em tochas ardentes com pessoas lá dentro.

 

Discernimento

Anand e Anjali são irmãos. Anand estava no segundo ano do seminário quando teve de fugir, com a irmã, para a floresta. Naqueles momentos de incerteza e medo, ele percebeu que a sua própria fé estava a ser posta à prova. Também Anjali sentiu que toda aquela violência, todo aquele ódio, só podiam ser vencidos com um sentimento maior, de verdadeiro perdão. Se combatessem a violência com mais violência, Orissa ter-se-ia transformado num inútil campo de batalha. A multidão enfurecida deixou um rasto de destruição e morte que ainda hoje é visível em Orissa. Mas para Anand e Anjali Pradham, toda aquela violência ajudou-os a discernir sobre o que queriam fazer das suas vidas. Ele continuou os estudos no seminário e ela, dois anos depois, entrou como noviça na Sociedade de Santa Ana de Lucerna. No final do ano passado, quatro dias depois do Natal, o Padre Anand e a Irmã Anjali regressaram a Orissa para uma cerimónia de reconciliação e agradecimento.  As suas vidas já estavam embaladas por Deus quando tiveram de fugir para a floresta e agora, quando regressaram a casa, à terra que os viu nascer, foi tempo de se oferecerem definitivamente ao Céu.

 

Uma família

Mais de 1.500 pessoas associaram-se a esta cerimónia, a este regresso que foi também um ponto de partida para duas vidas consagradas. Alguns eram hindus. A esmagadora maioria, porém, eram sobreviventes do ataque de Orissa. Todos, no entanto, estavam ali com um propósito fundamental. Aprender a perdoar. Só o verdadeiro perdão poderá oferecer o caminho para a reconciliação que é a única maneira de se ultrapassar o sofrimento e a dor. O Padre Anand, que agora pertence à Ordem dos Frades Menores, foi convidado a falar. “Somos todos indianos, cidadãos do mesmo país, do mesmo Estado, como uma única família. Deus criou-nos à sua imagem e semelhança para vivernos em unidade, paz e prosperidade. A reconciliação é a grande virtude da fé católica.”

 

Outra irmã…

Dez anos depois dos ataques, em Orissa começa a haver mais futuro do que passado, começa a esbater-se a memória daqueles dias de violência e verdadeiro inferno para se começar, aos poucos, a construir uma comunidade. Quando fugiam para a floresta, os irmãos Pradham não sabiam sequer se iriam sobreviver. E muito menos poderiam imaginar que todo aquele ódio estava a moldar as suas vidas para sempre. A família Pradham é, de facto, muito especial. Anand e Anjali têm outra irmã, Jitima, que também seguiu a vida religiosa nas Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo. Anjali Pradham lembrou, no passado dia 29 de Dezembro, há apenas três semanas, que eles, os três irmãos, são a prova viva de que “nenhuma destruição, nenhuma perseguição ou ameaça pode mudar a vontade de Deus”. De facto, o poder do perdão é sempre mais forte do que a força do ódio.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
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