É o grupo musical litúrgico que anima a Missa das 19 horas de Domingo, na Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa. Sete Cantus é constituído por famílias e há um ano publicou o livro CD ‘Hoje vou contar-te: Missa para famílias inspirada no Evangelho de São Lucas’.

“Quisemos fazer um projeto familiar, em que os filhos aprendam música, em que cada um possa trazer o instrumento que toca, ou simplesmente a sua voz, e pudessem sentir-se integrados. No fundo, criar um ambiente jovem, em que eles sentissem alegria e gosto em estar”. Ana Rita Gamboa, juntamente com o marido, Hugo, é uma das fundadoras do grupo musical litúrgico Sete Cantus, um projeto que nasceu de uma necessidade da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, situada na zona das Avenidas Novas, em Lisboa. “Somos uma paróquia envelhecida, numa igreja muito tradicional, enorme, que mesmo quando tem 200 pessoas parece que está vazia, e a pergunta que fizemos foi: ‘O que fazer para entusiasmar os nossos filhos para que eles não fujam?’. Porque, com a adolescência, muitas vezes eles começam a encontrar outras coisas. O objetivo do Sete Cantus é evangelizar e, no início do ano, dizemos sempre às pessoas para virem ter connosco”, explica esta leiga, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Para Hugo Gamboa, que teve a ideia original e conceito do projeto, o nascimento do Sete Cantus tem feito “crescer os talentos dos miúdos”. “Um deles, quando começou no coro, não sabia quase tocar guitarra e foi aprendendo com as Missas e com o entusiasmo de pertencer a este projeto. Foi libertando os seus dons”, salienta. Ao mesmo tempo, foi possível também começar a criar comunidade entre os cerca de 20 elementos do grupo, tal como frisa este leigo. “O Sete Cantus gerou algo que também ansiávamos, que era criar comunidade à volta de um projeto. Uma comunidade de famílias, porque nós somos cerca de seis, sete casais, que nos juntámos e nos envolvemos, juntamente com os nossos filhos”, aponta, ao Jornal VOZ DA VERDADE. Sobre o nome escolhido para o grupo, Sete Cantus, Hugo sublinha a marca do número sete. “Sendo a Missa das sete (19h00), no sétimo dia, encontrámos o sete como uma marca e ficou Sete Cantus. Acho que funcionou bem e nos identificámos com o nome”, refere.

Um projeto com as filhas

Ana Rita e Hugo Gamboa estão casados há 19 anos e têm três filhas adolescentes, de 16, 14 e 12 anos. A ligação a esta paróquia do centro da cidade de Lisboa é relativamente recente. “Viemos morar para a Paróquia de Nossa Senhora de Fátima há cerca de 10 anos. Quando chegámos, oferecemo-nos para dar catequese e integrar a paróquia”, recorda Ana Rita, investigadora que vem da área da engenharia eletrotécnica. Hugo salienta a importância de todas as filhas participarem neste projeto. “As nossas três filhas estão num percurso de educação de música e têm muito gosto de ir crescendo na música aqui, na paróquia”, frisa este engenheiro eletrotécnico, que é também professor do Departamento de Física da Universidade Nova de Lisboa. Ana Rita é madeirense e assume que nunca se sentiu muito ligada a nenhuma paróquia, mas que pertenceu ao movimento da Verbum Dei, no Campo Grande, onde foi animadora de jovens e integrou o coro.

Neste desejo de colaborar na paróquia, porquê a música? Ana Rita responde: “Nós gostamos muito de música, fizemos as músicas do nosso casamento, portanto, para nós, a música sempre foi uma forma de expressão da nossa espiritualidade”. Ana Rita diz ter formação na área. “Aprendi música e piano, mas as minhas filhas já sabem mais de música do que eu”, graceja. Hugo é de Lisboa e recorda a juventude, no Bairro da Serafina. “Tínhamos um coro, onde eu ajudava a tocar. Foi nesse coro que aprendi a tocar guitarra”, lembra.

A ‘profissionalização’

A colaboração deste casal com a Paróquia de Fátima teve início por altura do batizado da filha mais nova e quando a mais velha estava também prestes a entrar na catequese. “Quando nos colocámos ao dispor, o mais importante era acompanhar a catequese. Nesse tempo, um grupo de jovens animava, e muito bem, a Missa das 19 horas de Domingo e tinha já um estilo de canto mais jovem, acompanhado a guitarra. Na nossa paróquia, a Missa do meio-dia é uma celebração com um cântico mais clássico e, à tarde, é um canto mais jovem, para as crianças e para os jovens da catequese. Há cerca de cinco anos, esse grupo foi começando a pedir o apoio das crianças e começámos a dar uma animação mais continuada”, conta.

A certo momento, o sentimento era de que seria necessário dar o salto qualitativo. “Sentimos que, para ser mais maduro, precisávamos de uma pessoa para dirigir o coro. Pedimos à paróquia a disponibilidade para ter alguém a acompanhar-nos nesse sentido e o pároco recomendou a Maria Meireles, que aceitou o desafio, passou a frequentar a paróquia e foi neste processo que se batizou”, recorda Hugo. Ana Rita destaca a “postura muito boa, muito aberta” de Maria Meireles. “Ela não conhecia estes cânticos mais jovens da Igreja, em que muitos até não estão escritos, mas integrou-se muito bem”, refere. “Nós sentimo-nos amadores, mas contamos com o apoio de alguém profissional”, acrescenta o marido.

Escrito pelas famílias

Em dezembro do ano passado, o Sete Cantus lançou o livro CD ‘Hoje vou contar-te: Missa para famílias inspirada no Evangelho de São Lucas’, uma obra que reúne dez cânticos escritos pelas famílias que integram este grupo musical litúrgico. “Lançámos um projeto para escrevermos, a partir de um ano em concreto, no caso o Ano C, de São Lucas, um cântico para os vários momentos da Missa”, explica Hugo. “Isto começou em 2015 e, em 2016, começámos a fazer os cânticos. Lembro-me de termos feito um fim-de-semana de retiro, na Ericeira, só para preparar os cânticos que já estavam escritos e preparar o início das gravações. Foi um fim-de-semana para tocar, mas que proporcionou também experiências de oração para percebermos o que Deus queria deste projeto, o que nos levava a querer trazer música nova para a Igreja. Claro que nem tudo é perfeito – não quisemos fazer uma coisa ‘super-profissional’ –, mas que saísse do nosso coração, com pessoas que, não sendo profissionais da música, conseguem também expressar-se, através da música, desta forma”, acrescenta.

Ana Rita lembra o desafio que foi, às famílias do Sete Cantus, a escrita de cânticos originais. “Quando desafiámos as famílias a escrever cada uma um cântico, pegámos nas parábolas e vimos as histórias mais conhecidas do Evangelho de São Lucas, que agora retomamos, selecionámos as leituras e distribuímos por cada família, para fazer um cântico, de raiz, sobre uma leitura. Isto levou a que muitas famílias ficassem aflitas, mas foi muito bonito porque o desafio foi aceite”, lembra Ana Rita. “Nós, com as nossas filhas, também escrevemos um cântico, mas o objetivo não é sermos nós a fazer. O objetivo é dar espaço aos nossos filhos”, sublinha.

Ana Rita e Hugo Gamboa destacam “a participação de todas as famílias”, em particular do casal Joana e Venâncio, “que tinham casado há pouco tempo, e que escreveram, num mês, o cântico final”. “Eles são da área das artes e toda a parte de desenho do livro CD foi feito por eles”, referem, destacando igualmente “quatro artistas convidados” que apoiaram nas gravações do CD, vindos da Paróquia de São Vicente, em Abrantes, e da Paróquia de São Sebastião da Pedreira, em Lisboa. “Este foi um projeto muito eclético, no sentido de ter cânticos escritos por pessoas de idades diferentes, com sensibilidades diferentes. Foi bonito neste aspeto. O objetivo não era fazer uma coisa perfeita, mas que tivesse um sentido verdadeiro, de família”, destacam.

Um livro CD solidário

‘Hoje vou contar-te: Missa para famílias inspirada no Evangelho de São Lucas’ foi publicado pela Paulinas Editora. “Somos muito influenciados por música que tem aparecido em outras comunidades e que vamos usando nas nossas Missas mais jovens. Foi um sentimento de responsabilidade publicar este livro, de forma a ‘pagar de volta’ e contribuir para a música jovem de Igreja em Portugal, com algo que pudesse ser reutilizado. Daí o cuidado de termos alguém que depois escrevesse as pautas, os arranjos de vários instrumentos e gravar algo que depois as pessoas pudessem ouvir e reproduzir, para cantar”, explica Hugo.

Este é um CD solidário. “Nós podíamos ter colocado simplesmente os cânticos na internet, no YouTube por exemplo, mas quisemos fazer um livro CD com o sentido de fazer uma coisa séria, bem-feita, com formalismo. Ao mesmo tempo, os lucros do trabalho revertem para o grupo de jovens da paróquia, para as suas atividades”, revela Ana Rita.

Para o futuro, há o desejo de fazer novos livros CD. “Daqui a pouco tempo, poderemos editar um trabalho com cânticos de Taizé, em português, que há poucos. A mais longo prazo, poderemos tentar fazer livros CD com os Anos A (São Mateus) e B (São Marcos)”, deseja este casal do Sete Cantus.

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“Um eco da Palavra que é fonte de Vida”

O pároco de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em Lisboa, considera que o livro CD ‘Hoje vou contar-te: Missa para famílias inspirada no Evangelho de São Lucas’, que o grupo musical litúrgico Sete Cantus apresentou, procura ser um eco da Palavra de Deus. “Profundamente enraizadas nos textos bíblicos que as inspiram, as palavras que o Sete Cantus ousa cantar não pretendem nem ser comentário brilhante do Evangelho nem trazer consigo beleza poética inaudita. Apenas querem ser um dos ecos possíveis desta Palavra que é fonte de Vida e que, onde quer que é proclamada e escutada traz sempre ressonâncias novas, tantas quantas as pessoas e os tempos e momentos em que as mesmas pessoas a escutam”, escreveu o cónego Luís Alberto Martins de Carvalho, no prefácio da obra. “Trazem consigo o pulsar da Fé que a Palavra de Deus tem o poder de criar e alimentar e o dinamismo de partilha que está sempre presente no coração d’Aquele que a pronuncia. E dessa Palavra também faz parte a música que, em conjunto harmonioso, lhe transmite uma ambiência que a revela na sua verdade mais profunda, capaz de tocar o coração de todo aquele que a ouve”, acrescenta o sacerdote.

O cónego Luís Alberto faz ainda uma comparação “com a simplicidade e a inteireza do gesto da viúva pobre que pôs no tesouro do Templo tudo o que possuía”, para referir que “o Sete Cantus apresenta-nos aqui esta expressão de Vida que brota do Evangelho”. “Acreditando na grandeza do que é autêntico e que antes de ser produzido foi (e continuará certamente a ser, pelo Sete Cantus e por quem escutar estes cânticos) longamente rezado, esta obra apresenta-se com a certeza de quem se sabe instrumento, a tem consciência de que quanto mais pobre é o instrumento mais sobressai e se revela a riqueza e a beleza d’Aquele que dele se serve”, termina o pároco de Fátima, em Lisboa, a propósito do livro CD ‘Hoje vou contar-te: Missa para famílias inspirada no Evangelho de São Lucas’.

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Hoje vou contar-te - Missa para famílias inspirada no Evangelho de São Lucas

Faixas do CD:

1. Hoje vou contar-te

2. Senhor tende piedade

3. Aleluia - só Tu sabes

4. Amor Igual

5. Santo

6. Deixa a Paz entrar em ti

7. Cordeiro de Deus

8. 1, 2, 3 Multiplicar os pães

9. Como Maria

10. Subir aos céus

Preço: 10,00¤

Informações: http://bit.ly/hojevoucontar-te

Site: www.facebook.com/setecantusnsrf