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Egipto: jihadistas atacam peregrinos em viagem para o mosteiro de São Samuel
Morrer outra vez
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Foi há um mês. Um autocarro que se dirigia para o mosteiro de São Samuel, situado numa região desértica no Egipto, foi atacado por terroristas. Morreram sete pessoas. Quando soube da notícia, Nadia voltou a lembrar-se do seu filho, assassinado mesmo à sua frente, há ano e meio, quando se dirigiam também em peregrinação para aquele mosteiro. Quando soube da notícia, Nadia voltou a chorar…

 

Sete cristãos morreram trespassados por balas num atentado reivindicado pelo Daesh, o auto-proclamado Estado Islâmico, no Egipto. Foi na sexta-feira, dia 2 de Novembro, faz este domingo um mês. Os cristãos eram peregrinos. Dirigiam-se num pequeno autocarro para o mosteiro de São Samuel, situado numa região desértica. Todos sabiam que a viagem era arriscada. Por mais vigilância que o exército possa colocar na estrada que liga a cidade de Minya ao mosteiro, é virtualmente impossível garantir a segurança de todos os que procuram aquele minúsculo oásis de Deus no meio do deserto. Aliás, a meio da viagem fica-se sempre sem ligação ao resto do mundo. Não há redes de comunicações, não há nada. Os que se aventuram pelo deserto avançam sempre por sua conta e risco. Naquela sexta-feira, um pequeno grupo de peregrinos fez-se à estrada. Iam a caminho do deserto para um dia de oração no mosteiro de São Samuel, símbolo da presença cristã na região desde o séc. IX, quando o mini-bus foi bloqueado por um grupo armado. Tudo aconteceu num instante. As marcas das balas na carcaça do autocarro são a prova da violência do ataque. O barulho das balas, das rajadas das metralhadoras, não calou os gritos de dor e de medo de todos os que foram apanhados naquela armadilha fatal. Não havia por onde fugir. Sete morreram logo ali. Dezanove ficaram feridos. O Daesh reivindicou logo o atentado.

 

Recordar o ataque

A notícia do ataque depressa chegou aos jornais. Horas depois, Nadia soube de tudo. A notícia do ataque fê-la viajar no tempo até ao dia 26 de Maio do ano passado em que viveu a experiência de um ataque em tudo semelhante. Tal como agora, os autocarros em que viajavam os peregrinos também foram imobilizados. Os primeiros tiros, para os pneus, fizeram-nos rebentar com estouro. Depois, aos gritos e com as armas empunhadas, os terroristas entraram nos veículos e obrigaram todos os passageiros a sair. Nadia, o seu filho, Hany, a filha, Zoraida, e o genro, Sameh. E todos os outros. Mais de 50 pessoas. Mais de 50 cristãos. Com eles ia também o neto de Nadia, de apenas 3 anos de idade. Foram momentos de caos absoluto. Debaixo da ameaça das armas, os terroristas obrigaram os homens a deitarem-se no chão. Depois, ordenaram-lhes que renunciassem a Cristo e que se convertessem ao Islão. O primeiro a quem apontaram a metralhadora à cabeça foi Sameh, o genro de Nadia. “Ele foi o primeiro a ser martirizado.” Sameh levantou um braço, arregaçou a manga e mostrou a Cruz tatuada no pulso. Nadia voltou a recordar estes pormenores como se estivesse a viver tudo de novo, como se estivesse a escutar de novo as palavras do seu genro: “Não, não o farei!” Não renunciou a Cristo. Foram as suas últimas palavras. Mataram-no imediatamente. Sameh foi apenas o primeiro. A todos os outros homens foi colocada a mesma questão. Um a um, todos foram interrogados. Um a um, todos deram a mesma resposta. Também Hani, o filho de Nadia. Também ele não teve dúvidas: antes a morte, o martírio, do que renegar Jesus.

 

Perseguição sem fim

Agora, com este novo ataque a um autocarro de peregrinos, a memória do que aconteceu há ano e meio regressou com a força de um pesadelo. É difícil esconder as lágrimas, é difícil esconder as saudades. É difícil esconder-se de tantas recordações carregadas de dor, de aflição, de tristeza. No entanto, apesar de tudo, Nadia tem um orgulho imenso sempre que lembra a forma como o genro, o filho e todos os outros se sacrificaram por fidelidade a Deus. Que orgulho! O Papa Francisco ficou também profundamente consternado com mais este ataque. No domingo seguinte, lembrou ao mundo que aqueles peregrinos foram “mortos apenas por serem cristãos”. A perseguição aos Cristãos no Egipto parece não abrandar. A comunidade, que não ultrapassa os 10% da população do país, tem sido uma das mais martirizadas em todo o Médio Oriente. Nos últimos anos, multiplicaram-se os ataques a igrejas e são inúmeros os exemplos de intimidação e violência contra os coptas. Só no ano passado, calcula-se que mais de 120 cristãos tenham sido assassinados no Egipto por causa da sua fé. Dos sete cristãos mortos no ataque ao autocarro de peregrinos que se dirigia para o mosteiro de São Samuel, no dia 2 de Novembro, seis eram da mesma família…

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