Lisboa |
Paróquia de Alcainça recebe Nossa Senhora da Nazaré
Fé que se faz vida
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E a tradição cumpriu-se: depois de 17 anos, a Paróquia de Alcainça, em Mafra, voltou a receber a Imagem de Nossa Senhora da Nazaré. “Durante todo este ano, esta Imagem estará aqui, a recordar-nos que Jesus é verdadeiramente o centro da nossa vida, como o foi para a Virgem Maria”, salientou D. Nuno Brás, Bispo Auxiliar de Lisboa.


Foi dos primeiros alertas, em tom de desafio, que a comunidade cristã de Alcainça lançou ao seu novo pároco, padre Manuel Custódio Langane, que acabava de chegar à paróquia: preparar a receção da Imagem de Nossa Senhora da Nazaré! Estávamos em 2012, a precisamente seis anos do dia que a Paróquia de São Miguel de Alcainça viveu no passado sábado, 15 de setembro. Afinal, há 17 anos que esta freguesia não recebia Nossa Senhora da Nazaré. “Há dois, três anos que começámos a preparar a chegada do Círio da Prata Grande. Desde que cheguei a Alcainça que as pessoas me falavam das festas deste ano. Diziam que era para me preparar psicologicamente para este momento, que deve congregar as pessoas. Porque realmente, esta é uma ocasião para unir as pessoas, para desafiar as pessoas a trabalharem para o mesmo ideal, para o bem da terra e da comunidade”, afirma o padre Custódio, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Foi ao início da tarde que Alcainça recebeu, da Paróquia de Nossa Senhora do Ó da Carvoeira, a Imagem de Nossa Senhora da Nazaré. Iniciou-se, então, o cortejo do Círio da Prata Grande, acompanhado pela charanga da GNR e milhares de pessoas pelas estradas fora, que passou pela Ericeira, Seixal, Cabeça Alta, Achada, Sobreiro, Paz, Mafra e Carapinheira. “Toda a caminhada foi um momento rico de crescimento na fé. Foi um momento, também, de muita alegria e foi o momento de viver o acolher de Maria em Alcainça. Foi como que um sonho realizado, porque as pessoas vivem à espera deste dia e querem dar continuidade àquilo que se vai fazendo de 17 em 17 anos”, manifesta o sacerdote.

O pároco não tem dúvidas de que Nossa Senhora da Nazaré mexeu, e está a mexer, com Alcainça. “Todas as pessoas de Alcainça foram, realmente, desafiadas. Temos as casas pintadas, as ruas ornamentadas, muita gente tem ido à igreja confessar-se. É uma festa cristã, em que muita gente se preparou espiritualmente para este momento”, salienta o padre Custódio, destacando a “experiência rica de união” que o Círio da Prata Grande traz consigo.

 

Jesus, centro da vida

Quem chegasse a Alcainça no passado Domingo, 16 de setembro, podia ser surpreendido pelo ‘rosto’ de toda a terra: as casas pareciam novas, devido às pinturas que levaram nos últimos dias; estas mesmas casas estavam também ornamentadas com ‘flores’ azuis e brancas e colchas brancas nas varandas e janelas; também as ruas estavam enfeitadas. Tudo foi preparado com um único objetivo: receber Nossa Senhora da Nazaré. E eram centenas, senão milhares, as pessoas que queriam estar com a Mãe de Deus.

Nas traseiras da igreja paroquial de Alcainça, junto à Capela do Espírito Santo, numa celebração campal, D. Nuno Brás presidia à Eucaristia e lembrava que, no próximo ano, a Imagem de Nossa Senhora da Nazaré “fará parte da vida de Alcainça”. “Durante todo este ano, esta Imagem estará aqui, a recordar-nos, a todos, que Jesus é verdadeiramente o centro da nossa vida, como o foi para a Virgem Maria”, frisou o Bispo Auxiliar de Lisboa.

Nesta Missa campal, que contou com as presenças do presidente da Câmara Municipal de Mafra, Hélder Sousa Silva, do presidente da União das Freguesias de Malveira e São Miguel de Alcainça, Vítor Gomes, e de confrades das 17 freguesias que recebem a Imagem de Nossa Senhora da Nazaré, D. Nuno Brás lembrou que o Círio da Prata Grande “marca tanto as várias comunidades por onde passa” e desejou: “Que a Virgem da Nazaré nos ajude a aumentar a nossa fé, que Ela nos ajude a perceber o lugar que Jesus tem para a nossa vida. Hoje, o Senhor pergunta-nos: ‘Quem sou Eu para ti?’. Que daqui por um ano sejamos capazes, com a interceção da Virgem da Nazaré, de dar uma resposta a esta pergunta, uma resposta mais profunda, uma resposta que não seja apenas uma teoria ou uma doutrina, mas que seja a própria vida. Porque a fé faz-se sempre vida, faz-se sempre ação, faz-se sempre existência”.

 

Uma paróquia dinâmica

O padre Custódio Langane chegou a Alcainça em 2012 e encontrou “uma paróquia bastante ativa”. “Tinha estado como pároco, durante sete anos, o padre Luís Barros, que está atualmente em Mafra, e encontrei uma paróquia pequena, mas com uma dinâmica bastante forte e pessoas muito unidas e envolvidas na vida da paróquia”, recorda o sacerdote natural de Moçambique. Esta terra do concelho de Mafra tem uma população que não chega às duas mil pessoas. “Alcainça é quase um dormitório, porque a maior parte das pessoas trabalha em Lisboa. É uma terra acolhedora, que está perto da autoestrada do Oeste. Há muita gente que veio de fora, mas um número significativo da população é filho da terra”, expõe.

Destes seis anos que leva como pároco de São Miguel de Alcainça, o padre Custódio sente que “a paróquia cresceu e evoluiu muito”. “Há muita gente envolvida nas atividades da paróquia e em vários movimentos, tais como os Cursilhos de Cristandade ou as Equipas de Nossa Senhora. Temos também uma catequese com mais crianças, cerca de 90, para 20 catequistas”, refere, sublinhando que as suas apostas são na pastoral da família e na catequese. “Alcainça tem três Equipas de Casais e temos também todos os volumes da catequese”, frisa.

Este sacerdote, que pertence ao clero do Patriarcado de Lisboa e é também pároco da Paróquia de Igreja Nova, vai iniciar brevemente um novo projeto dirigido sobretudo às crianças, adolescentes e jovens das suas duas paróquias. “Vamos começar este ano com um projeto de criação de um agrupamento de escuteiros, que serão da Igreja Nova e Alcainça”, revela. “Foram os escuteiros de Mafra que me vieram desafiar, e eu abracei o projeto”, conta. Em termos de juventude, a Paróquia de Alcainça tem também um grupo de Jovens Marianos Vicentinos, “ligado à Congregação dos Padres Vicentinos” e cuja missão se centra “na pastoral social”, com “os doentes, os pobres e os mais necessitados”.

 

Dia de São Miguel com o Cardeal-Patriarca

Neste próximo ano pastoral, muitas das atividades paroquiais vão ter a presença de Nossa Senhora da Nazaré. “A Imagem vai ficar na igreja e também nas casas dos festeiros e dos tesoureiros. Ao longo do ano, vamos visitar as várias forças vivas da paróquia, os centros de dia, o lar, as escolas, os vários lugares da paróquia, os doentes. É Nossa Senhora a ir ao encontro do povo de Alcainça”, destaca o sacerdote.

Depois da presença de D. Nuno Brás – “uma experiência riquíssima, em que as pessoas acharam a presença do senhor Bispo um motivo de ligação à diocese” –, no dia de São Miguel, a 29 de setembro, pelas 11h00, Alcainça vai receber o Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente. “O senhor Patriarca vem cá celebrar connosco. Acredito que será, também, um momento alto na vida da Paróquia de Alcainça, agora que tem a Imagem de Nossa Senhora da Nazaré”, salienta o pároco, padre Custódio.

 

Festa Nossa Senhora da Nazaré - Alcainça 2018/19: Veja em www.facebook.com/FestaNossaSenhoraNazare

 

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Círio da Prata Grande

Desde o século XVII, foram muitos os povos, de diversas localidades, que se deslocaram em romaria para prestar devoção a Nossa Senhora da Nazaré do Sítio da Pederneira (atual Nazaré). São três os Círios que ainda hoje estão presentes nas celebrações religiosas anuais, nomeadamente, o Círio da Prata Grande, Penela e Olhalvo. Contudo, o culto a Nossa Senhora da Nazaré é anterior a esta data. Apesar de não haver registos físicos do mesmo, julga-se que as peregrinações coletivas remontam ao início do século XV e a crença na Imagem de Nossa Senhora da Nazaré começou a ganhar destaque a partir do milagre de Dom Fuas Roupinho, em 1182.

O Círio da Prata Grande começou, precisamente, na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição da Igreja Nova, há muitos anos, quando um morador da Arrifana, João Manuel, nascido nesse mesmo lugar em 1611, já idoso, resolveu ir em romagem à Nazaré. Um dia, estando João Manuel a descansar do seu trabalho, debaixo de uma árvore, aproximou-se dele um grupo de peregrinos, tendo chegado à conversa que vinham da Nazaré, onde se tinham feito milagres nomeadamente a salvação de Dom Fuas Roupinho. João Manuel ficou bastante admirado com a fé dos peregrinos, sendo que a sua mulher, Domingas Ruiva, havia anos que estava doente e não tinha cura para tal doença. Com a sua fé, combinou juntar-se a eles, no ano seguinte, em peregrinação à Nazaré. Como combinado, juntou-se à caravana dos peregrinos, prometendo à Virgem Santíssima, com a sua fé e esperança num milagre para a sua esposa, que iria nos anos seguintes também em peregrinação à Nazaré, o que veio a acontecer. Após ter pedido ao pároco da Igreja Nova as credenciais eclesiásticas para ter aceitação no Santuário e poder participar na peregrinação nos anos seguintes para agradecer à Virgem de Nazaré, levou com ele mais companheiros, um da Arrifana e dois da Igreja Nova, e entre os quatro compraram uma bandeira com as insígnias de ‘Nossa Senhora da Nazareth da Pederneira’, que no regresso ficava na igreja da sua freguesia.

O movimento de adesão por parte dos moradores da Igreja Nova e dos arredores foi-se enraizando, dando origem à Confraria de Nossa Senhora da Nazareth da Pederneira – Círio da Prata Grande (http://ciriodapratagrande.com), que teve compromisso redigido em 1732, foi aprovado em 1741 e conta com 17 freguesias, sendo 13 do concelho de Mafra, 3 do de Sintra e uma de Torres Vedras: Igreja Nova – Mafra – Santo Isidoro – Montelavar – Cheleiros – Encarnação – São Pedro da Cadeira – Ericeira – Carvoeira – Alcainça – Terrugem – São João das Lampas – Sobral da Abelheira – Santo Estêvão das Galés – Gradil – Azueira – Enxara do Bispo. Em cada ano, a Imagem de Nossa Senhora da Nazaré visita uma das 17 freguesias, demorando por isso 17 anos a regressar a cada terra.

texto e fotos por Diogo Paiva Brandão
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