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Retrato de Marawi, nas Filipinas, depois do ataque jihadista
Cidade fantasma
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A destruição é tão grande que Marawi se transformou numa cidade sem ninguém. Fantasma. Centenas de casas arruinadas, bairros inteiros sem moradores… Uma desolação impressionante. Nem a catedral escapou à violência dos terroristas islâmicos que atacaram Marawi em Maio do ano passado. Só agora, em Janeiro, o Bispo foi autorizado a regressar à sua igreja. A Fundação AIS acompanhou-o…


O vídeo tem apenas 1 minuto e trinta e nove segundos. Mostra diversos homens, muitos com o rosto coberto, alguns armados de metralhadoras, a pontapearem imagens, a rasgarem fotografias do Papa, a destruírem o altar e a incendiarem o edifício. No fim, já no exterior, a câmara mostra uma pesada nuvem de fumo. A Catedral de Marawi, nas Filipinas, já estava a arder. Foi a 23 de Maio de 2017. Um grupo de jihadistas iniciava assim o assalto à cidade, arrasando tudo à sua volta como se de um tsunami de ódio se tratasse. Durante largos meses, esta cidade situada no sul das Filipinas transformou-se num verdadeiro campo de batalha. Regressemos a esse dia 23 de Maio. A Catedral estava de portas abertas. Um grupo de cristãos rezava a Maria no último dia da novena da Festa de Nossa Senhora Auxílio dos Cristãos. Com um alarido assustador, os terroristas – pertencentes ao grupo islâmico “Maute”, ligado ao auto-proclamado Estado Islâmico – entram no templo, começam a disparar e fazem logo ali os primeiros reféns. Quinze pessoas, fiéis, irmãs e o Padre Teresito Suganub são levados dali para fora completamente aterrorizados. Depois, começam a destruir a catedral. Manifestando um desprezo absoluto, não poupam qualquer imagem, nada. É nessa altura que decidem gravar o vídeo. A destruição é impressionante.

 

Ódio jihadista

As autoridades militares lançaram de imediato uma enorme operação militar para a recuperação da catedral e da cidade. Foi uma guerra violenta e penosa. Centenas de casas foram destruídas, completamente arrasadas pelos bombardeamentos, pela troca de tiros, pelas explosões. De um dia para o outro esta pacata cidade esvaziou-se. Fugiram Praticamente todos. As ruas foram tomadas pelos soldados que combatiam os terroristas, entrincheirados nas ruínas das casas. O cheiro a pólvora e a morte tornou-se nauseabundo. Mais de mil pessoas morreram nos combates. Calcula-se que cerca de 400 mil pessoas tenham fugido de suas casas naquelas primeiras horas, naqueles primeiros dias. Foram necessários vários meses para que os militares filipinos conseguissem ir libertando as ruas, os bairros, a cidade. A Catedral de Marawi só foi reconquistada três meses depois. O templo era, então, a expressão do ódio jihadista sobre a comunidade cristã. A catedral foi libertada mas era necessário, ainda, esvaziá-la de todas as bombas, de todas as armadilhas colocadas pelos jihadistas.

 

O regresso

Dia 11 de Janeiro de 2018. O Bispo Edwin de la Peña, acompanhado por uma delegação da AIS, foi autorizado a rezar pela primeira vez na Catedral de Marawi, desde que a cidade fora ocupada pelos jihadistas. O Bispo já sabia o que ia encontrar. Já tinha visto fotografias e vídeos. Mas estar ali, voltar a cruzar aquela porta, voltar a olhar para a “sua” catedral depois da destruição foi completamente diferente. Foi de “partir o coração”, como confessou o prelado a Marc Fromager, o director do secretariado francês da Fundação AIS que o acompanhou naquele regresso. A estátua decepada de Nossa Senhora e a imagem completamente desfigurada de Jesus Cristo crucificado, saltavam à vista. Marc Fromager era o único estrangeiro na comitiva. “O momento mais emocionante foi, obviamente, quando o bispo se ajoelhou e ficou a observar todo o trabalho de reconstrução que agora tem de fazer.” Um trabalho, acrescenta, “não só de reconstrução da cidade, mas também de reconstrução espiritual da comunidade, para que possam todos voltar a viver juntos”.

 

Ajudar os Cristãos

Marawi é uma cidade islâmica, no sentido de que a maioria da sua população é muçulmana. Os Católicos são uma ínfima minoria. No sul das Filipinas faz-se sentir, desde há anos, a ameaça jihadista com grupos radicais que buscam a separação do território para a instauração de um “califado” na região. No entanto, o que sucedeu em Marawi em Maio do ano passado estava longe de ser previsível. Desde esse dia 23 que os cristãos sabem que, nesta cidade, são um alvo a abater. O que aconteceu com as imagens de Nossa Senhora ou de Jesus Cristo na catedral são apenas a afirmação do ódio destes grupos radicais. Marc Fromager, que acompanhou o Bispo Edwin de la Peña no regresso à sua catedral, ficou particularmente impressionado com o que viu. Não só na Igreja mas em toda a cidade. Como se fosse uma cidade fantasma. “O centro de Marawi foi quase totalmente destruído, o que me fez recordar as imagens de Alepo, onde estive no fim do mês de Outubro”, explicou numa carta enviada a todos os secretariados da Fundação AIS. “Não sobrou muito da cidade. Neste momento, a cidade está totalmente inacessível e é proibido entrar no perímetro que eles denominam de ‘ground zero’, como o local das Torres Gémeas, em Nova Iorque, onde só o exército pode entrar.” A cidade foi atacada por radicais islâmicos, a catedral e diversas igrejas foram destruídas, e milhares de pessoas tiveram de fugir de suas casas por causa dos combates. Agora, é tempo de sarar as feridas, de consertar as casas, as igrejas, de reconstruir vidas. Os Cristãos são uma ínfima minoria em Marawi. Foram atacados da forma mais violenta que podemos imaginar. O futuro deles nesta cidade depende da ajuda que receberem. Depende de nós.

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