Lisboa |
Solenidade de São Vicente diácono e mártir, padroeiro principal do Patriarcado de Lisboa
“Culto de São Vicente pôde reunir uns e outros”
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O Cardeal-Patriarca de Lisboa considera que “São Vicente foi consolação na tribulação”. Na solenidade do diácono e mártir, na Sé Patriarcal, D. Manuel Clemente considerou que o padroeiro principal do Patriarcado de Lisboa pode ser “o grande inspirador” de “uma reintegração social e intercultural” da cidade.


Na sua homilia, na celebração do passado dia 22 de janeiro, D. Manuel Clemente começou por lembrar a palavra tribulação para se referir a Vicente. “Creio que a experiência cristã de cada um dos que aqui estamos, como a de quantos a compartilham connosco, reside neste preciso ponto. Na certeza de que Cristo nos acompanha muito especialmente onde a nossa cruz se une com a sua, onde a tribulação que soframos se transmuda na sua consolação. É este o absoluto realismo cristão, onde fulgura a glória da cruz. Soube-o o diácono Vicente, na tribulação que lhe coube e a que também não fugiu. A fé redobrou-lhe na sua carne as chagas de Cristo na cruz. Foi tão heroica que logo se espalhou a justa fama, prenúncio da ressurreição garantida. Fora também consolado pela experiência de que não sofria sozinho, mas com o próprio Cristo”, garantiu.

 

A devoção dos moçárabes

Na Sé Patriarcal de Lisboa, o Cardeal-Patriarca recordou depois a devoção dos moçárabes a São Vicente, diácono e mártir do século IV: “Guardaram-lhe as relíquias como quem guarda um troféu. Depois, segundo a tradição aqui recebida, trouxeram-nas mais para Ocidente, até ao cabo que ganhou o seu nome. E aí ficaram até ao primeiro século português. Não esperaram por Portugal para serem veneradas. Os cristãos que permaneceram na Península Ibérica durante o domínio árabe – os chamados moçárabes –, constituíam boa parte da população desses séculos. Particularmente aqui, na cidade de Lisboa e arredores. Não sabemos muito deles, pois são escassas as notícias escritas. Mas sobram comprovações arqueológicas, etnográficas e religiosas. Quando D. Afonso Henriques e os seus aliados conquistaram a cidade, não se tratou realmente duma “reconquista cristã”, designação já de si duvidosa. A cidade árabe e moçárabe tinha igreja, tinha bispo e tinha fiéis. Mantinha certamente as memórias dos santos da antiga tradição ibérica, como os Mártires de Lisboa – que poderão estar figurados num dos capitéis do pórtico desta sé -, ou os santos Félix, Justa e Rufina. Mantinham também a devoção a São Vicente. Precisamente este facto deve ter levado o primeiro rei português a trazer-lhe as relíquias do Algarve, ainda árabe, para Lisboa, já portuguesa. Quer isto dizer que São Vicente foi, também ele e nessa altura, consolação na tribulação”.

 

Grande inspirador

Nesta celebração, que em Lisboa ficou ainda marcada pela renovação das promessas diaconais dos diáconos permanentes da diocese, D Manuel Clemente sublinhou que “o culto de São Vicente, sendo ao mesmo tempo peninsular e católico – pois desde o século IV se universalizara na cristandade –, poderia, como de facto pôde, reunir uns e outros”. “Creio que isto se traduziu espontaneamente na adoção do Santo como símbolo da cidade a refazer-se. Juntando passado e presente, aproximando quem estava e quem viera. A nau que o trouxera e os corvos que o guardavam foram justamente o seu brasão. E assim deverão continuar, sem esbatimento inexpressivo”, apelou o Cardeal-Patriarca, na Solenidade de São Vicente, destacando que o padroeiro principal do Patriarcado de Lisboa pode ser “o grande inspirador” de “uma reintegração social e intercultural” da cidade.

 

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“São Vicente foi um grande resistente cristão às perseguições”

O Cardeal-Patriarca lembrou que São Vicente, padroeiro principal do Patriarcado de Lisboa, “ficou como exemplo de um grande resistente cristão às perseguições”. “Vicente foi martirizado com requintes de malvadez. Impressionou muito, não só os da altura, mas também os seguintes, de tal maneira que, do outro lado do Mediterrâneo, um homem como Santo Agostinho, no século quarto, quinto, lhe dedica vários sermões. São Vicente ficou como exemplo de um grande resistente cristão às perseguições”, explicou D. Manuel Clemente, no programa ‘Aura Miguel Convida’, transmitido na Renascença, na noite do passado Domingo, 21 de janeiro. Nesta entrevista, o Cardeal-Patriarca apresentou este mártir do princípio do século quarto. “Historicamente, o que é sabido é que São Vicente era diácono, em Saragoça, junto do seu bispo, que tinha dificuldades em falar, pelo que ele era, digamos, o porta-voz. Com a perseguição diocleciana, a última perseguição dos romanos e talvez a mais drástica, São Vicente é martirizado por ser cristão”, referiu.

Aos microfones da emissora católica portuguesa, nesta conversa com a jornalista Aura Miguel, o historiador D. Manuel Clemente destacou o momento em que as relíquias estavam no Algarve e foram mandadas trazer para Lisboa pelo primeiro rei de Portugal. “A mão de São Vicente, colocada numa caixa que apenas se abre no dia 22 janeiro de cada ano, é o que sobra do terramoto de 1755, de algum incêndio e de outros desastres que aconteceram ao longo dos tempos. Traz esta lembrança do santo padroeiro do Patriarcado de Lisboa, porque aqui se conservam os restos de São Vicente, desde o tempo de D. Afonso Henriques”, salientou o Cardeal-Patriarca de Lisboa.

A entrevista pode ser escutada na íntegra em http://rr.sapo.pt/artigo/103574/d-manuel-clemente.

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