Lisboa |
Cónego João António de Sousa (1928-2018)
“Percurso de entrega e serviço à Igreja”
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O cónego João de Sousa faleceu no passado dia 19 de janeiro e foi recordado, pelos paroquianos de Benfica – onde foi pároco durante 24 anos –, como um sacerdote com um “amor muito especial” à Igreja e uma atenção ao trabalho dos leigos. Na Missa exequial, o Cardeal-Patriarca, D. Manuel Clemente, lembrou a “serenidade” com que o sacerdote desempenhou as suas funções pastorais.

 

O Cardeal-Patriarca de Lisboa lembrou o cónego João de Sousa como “um grande servidor da Igreja”. Em declarações aos jornalistas, após a celebração das exéquias, no passado dia 22 de janeiro, D. Manuel Clemente falou do trajeto deste sacerdote que foi pároco de Nossa Senhora do Amparo, em Benfica, entre 1983 e 2007. “O seu percurso é um percurso de entrega e serviço à Igreja. Foi dos primeiros padres que o Cardeal Cerejeira mandou formar, tendo em vista o Seminário dos Olivais, onde foi professor”, recorda o Cardeal-Patriarca de Lisboa, enfatizando a “serenidade no serviço” que marcou a vida do cónego João de Sousa. “É o que se pede a um servidor da Igreja e, por isso, está muito presente em todos nós, na nossa memória e na memória deste povo a quem serviu. Ainda na última conversa que tivemos, há dias, era essa serenidade que ele manifestava, diante daquilo que já previa ser a última etapa da sua vida”, recordou o Cardeal-Patriarca.

Momentos antes, durante a Missa de exéquias, na Igreja de Nossa Senhora do Amparo, em Benfica, D. Manuel Clemente referiu-se à figura de Jesus Cristo, reproduzida, no tempo presente, pelos ministros ordenados. “Como sabemos, Cristo ressuscitado – e concretamente na sua realidade pastoral e sacerdotal – apresenta-se na Igreja pelos ministros ordenados no sacerdócio de Cristo. Por isso, as mãos de Deus, que em Jesus Cristo ganham forma e figura, agora ressuscitado, reproduzem-se nas mãos dos sacerdotes. E, por isso, as mãos do senhor cónego João António de Sousa, tantas vezes aqui estendidas, foram sinal de acolhimento e oferta do próprio alimento, Jesus Cristo, no pão eucarístico. Mãos que abençoaram, mãos que reconciliaram... foram as mãos de Deus, as mãos de Cristo sacerdote”, sublinhou o Cardeal-Patriarca de Lisboa, na celebração exequial, concelebrada pelos Bispos Auxiliares, D. Joaquim Mendes e D. Nuno Brás, e por diversos sacerdotes.

 

Vocação

O cónego João António de Sousa faleceu no passado dia 19 de janeiro, aos 89 anos, no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Natural de Casal da Fonte, Assentiz, Torres Novas, cedo sentiu a chamada para o sacerdócio, como recordou em entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, na edição de 14 de outubro de 2007 (ver caixa). “Desde pequeno que senti que queria ser padre. Durante a catequese e na escola primária, sempre que me perguntavam o que gostaria de ser, a minha resposta era sempre pronta: ‘Quero ser padre!’”, contava. Ordenado sacerdote a 29 de junho de 1951, desempenhou vários cargos, entre assistente da Ação Católica, presidente do Conselho de Gerência da Rádio Renascença, professor na Universidade Católica e pároco, entre 1983 e 2007, da Paróquia de Nossa Senhora do Amparo de Benfica. Nesta paróquia da cidade onde, até aos últimos dias, foi colaborador, muitos guardam do cónego João de Sousa a memória de um “grande amor à Igreja”.

 

Dedicação

A paroquiana Maria Suzete Jorge, que trabalhou com o cónego João de Sousa desde 1983, lembra que para este sacerdote “a Igreja era a mãe, era tudo”. “Era um amor muito especial” e isso também se manifestava na “dedicação” ao povo de Deus. “Ele tinha uma necessidade de estar sempre ao serviço das pessoas. Então, nestes últimos tempos em que estava mais livre, estava sempre a atender pessoas. Ele dizia: ‘Esta é a minha missão’. Era uma pessoa muito serena, que era capaz de dar uma orientação, um conselho, com serenidade e com muito discernimento. Essas são as grandes marcas que deixou, a mim e a muita gente”, aponta ao Jornal VOZ DA VERDADE Maria Suzete, recordando um episódio que evidencia a preocupação e seriedade com que o cónego João de Sousa tratava dos assuntos: “Em 2005 ele teve uma doença cancerígena. Foi operado e esteve muito mal por causa da quimioterapia. Recordo-me que, no meio dessa agitação, ele continuava a querer fazer o boletim paroquial. Mesmo perdendo muitas das faculdades, sobretudo a da escrita, eu e outra secretária da paróquia íamos com o despacho e, mesmo assim, numa mesa, ele tentava fazer uma assinatura e despachar. Foi sempre uma preocupação com o que era preciso fazer”, lembra Maria Suzete, funcionária do Centro Social da Paróquia de Benfica.

Também evidenciado por esta leiga é a atenção dedicada, por parte do cónego João de Sousa, ao papel dos leigos na Igreja. “Nós trabalhávamos muito bem com ele. Era uma pessoa que dizia o que queria e depois os leigos estavam livres para trabalhar, fazer as coisas e livres para irem ter com ele e fazer perguntas”, aponta. Com o acumular de diversos cargos, sobretudo com a presidência do Conselho de Gerência da Rádio Renascença e com a docência na Faculdade de Teologia da Universidade Católica, “foram os leigos que ‘aguentaram’ a paróquia porque, de outra maneira, era impossível”. “Ele deu essa liberdade”, salienta Maria Suzete.

 

Alegria em ser prior

Ao lado do cónego João de Sousa, como coadjutor na Paróquia de Benfica, durante 21 anos, esteve o padre Manuel Fernandes. Ao Jornal VOZ DA VERDADE, este sacerdote começa por recordar a proximidade que sempre sentiu com o seu colega, de que também foi aluno. “Na vida pastoral, sempre me tratou como um familiar. Na paróquia, existia uma intimidade que nos comprometia no trabalho pastoral. Os textos que ele escrevia, antes de serem publicados, mostrava-me. Era um sinal de confiança”, afirma o padre Manuel Fernandes, atualmente pároco do Beato, em Lisboa.

As diversas atividades que a populosa Paróquia de Benfica tinha, juntamente com o trabalho na Rádio Renascença e as reuniões do Cabido, eram, por vezes, “momentos difíceis” que obrigavam a muita organização por parte do cónego João de Sousa. “Ele tinha uma grande alegria em ser prior de uma freguesia tão grande, com um trabalho pastoral muito amplo e com muitas atividades. Ele vivia muito isso, com seriedade, sempre tudo feito antecipadamente. Tudo ele tentava fazer com antecedência e nunca em cima da hora. Preparava tudo, sempre. Era um professor de uma humildade grande. Eu tinha os seus conselhos sempre muito presentes”, recorda o padre Manuel.

Este sacerdote, de 76 anos, sublinha também a atenção dada pelo cónego João de Sousa ao trabalho dos leigos na Igreja. “Pôs o Conselho Pastoral a trabalhar de uma forma única. Fazia tempo de formação e retiros com todos. Tudo isso ele procurava dinamizar, pondo os leigos a orientar as reuniões, sob a sua orientação”, recorda o padre Manuel Fernandes, apontando também o tempo dedicado pelo sacerdote à oração diária. “Era um homem de Deus, de muita oração”, aponta.

 

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“O meu primeiro seminário foi a minha família”

Em 2007, no final da sua missão como pároco de Benfica, após 24 anos, o cónego João António de Sousa concedeu uma entrevista ao Jornal VOZ DA VERDADE, onde falou da sua vocação e da “corresponsabilidade” que procurou implementar. Publicamos agora alguns excertos da entrevista concedida em outubro desse ano.

 

Como e quando sentiu a vocação ao sacerdócio?

A vocação surgiu em mim com o leite da minha mãe! Desde pequeno que senti que queria ser padre. Durante a catequese e na escola primária, sempre que me perguntavam o que gostaria de ser, a minha resposta era sempre pronta: ‘Quero ser padre!’ Esta predileção vinha-me do ambiente cristão da minha família, onde existia oração, e de uma admiração muito grande pelo pároco de então, que muito me seduzia. Eu queria ser como ele! Quando acabei a escola primária pedi a meus pais que me inscrevessem no seminário. Costumava dizer ao Cardeal Cerejeira que o meu primeiro seminário foi a minha família.

 

O que mais o marcou nesta comunidade de Benfica?

Sem dúvida ver que os leigos, pouco a pouco, criaram uma comunidade em que a corresponsabilidade é uma referência permanente. Felizmente, sempre tive muitos leigos a trabalhar comigo. Sempre parti do pressuposto de que a Igreja não é do padre, ou dos bispos, mas é de todos, e por conseguinte procurei dar responsabilidade aos leigos. Alegrei-me, muitas vezes, por ver os leigos a dar uma tão generosa resposta de forma a criar, em Benfica, o Reino de Deus.

 

Para além de ser pároco em Benfica, ao longo dos anos teve muitas outras missões na diocese. Foi professor na Universidade Católica, esteve na Rádio Renascença, na Ação Católica e desempenhou ainda muitas outras tarefas. Alguma o marcou mais?

Gostei muito de ser professor, formador no Seminário dos Olivais e de ensinar Teologia na Católica. A Ação Católica marcou-me muito porque sempre me encantou ver leigos a fazer seus os problemas apostólicos e missionários da Igreja. A minha estada em Roma também me marcou profundamente, não apenas porque me concedeu um título académico, mas também porque despertou em mim o interesse por uma Igreja concreta sempre em comunhão com aquele que é o centro visível da sua unidade, o Papa.

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