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Grupo de Teatro da Paróquia da Brandoa
Fazer do teatro um serviço aos outros
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Existe há quase 30 anos e o propósito ainda é o mesmo. O Grupo de Teatro da Paróquia da Brandoa, na Vigararia da Amadora, experimenta o “fervilhar” do número de jovens que, através das dezenas de peças, continuam a aproximar-se da Igreja. Ao jornal VOZ DA VERDADE, o coadjutor da paróquia da Brandoa, padre Francisco Simões, garante que o ‘segredo’ é a iniciação cristã, apresentada pela “radicalidade do Evangelho”.

É Domingo e o sino da torre da igreja paroquial da Brandoa toca às 20 horas em ponto. O auditório enche-se de uma simplicidade feliz nos gestos, sorrisos genuínos, de uma alegria própria de quem está em família. São mais de 40, entre crianças e jovens de todas as idades, que regressam para mais um longo e produtivo ensaio do Grupo de Teatro da Paróquia da Brandoa, na Vigararia da Amadora. Uns chegam ainda com as malas, vindos de viagem, outros em grupo, mas quase todos trazem o guião da nova peça, a apresentar em breve. Acontece assim há quase 30 anos. A aventura começou em 1990 com a peça intitulada “Cantares de Ontem, Hoje e Amanhã”. Tinha sido pensada para celebrar e inaugurar o complexo paroquial recém-construído. Na altura, os jovens da paróquia juntaram-se com o que tinham. Não havia guião, foi quase tudo improvisado. As luzes e o som alugados à Rádio Renascença. Fizeram coreografias e danças tradicionais, ensaiaram anedotas e a peça nasceu assim... para servir a comunidade. Hoje, o propósito ainda é o mesmo.

José Marcos era um desses jovens. Nunca lhe perdeu o gosto. É, desde o início, o encenador. Adapta os guiões, pensa os cenários, coordena o grupo. Um trabalho difícil, tendo em conta os mais de 70 jovens e crianças envolvidos, todos os anos. E outros tantos também filhos dos que, há quase 30 anos, fundaram o grupo. Os ensaios começam no fim de maio, abrandam em julho, param em agosto e retomam, em força, no início de setembro. Pelo pequeno estrado, que todos os anos parece transformar-se num grande palco, já passaram musicais, contos da Disney, histórias bíblicas. Ao todo, 22 peças.

 

Serviço

Para José Marcos, todos os anos são “os últimos”. Mas nunca é assim. O entusiasmo dos jovens, a motivação que lhes vê, levam-no sempre a continuar. Em cada ano, uma peça nova, várias apresentações ao longo dos meses e incontáveis horas de esforço e dedicação. O auditório enche sempre. Chegam autocarros da Nazaré, de Calhariz de Benfica, de Caxias, de São Domingos. E até os Bispos são presença habitual nas apresentações.

José Marcos garante que tudo só é possível com um grande “espírito de serviço” da parte de todos os que, ano após ano, fazem o improvável acontecer. E que os participantes - todos amadores - respondem de livre vontade à chamada. Isso entusiasma-o e não o deixa parar. Também a alegria que recebe na paróquia - onde já passou por diferentes apostolados - o faz querer retribuir. “Até porque não podemos dar o que não temos”, sorri.

 

Comunidade paroquial

Também João Bandeira, de 24 anos, conta já muitas horas de dedicação às peças apresentadas na última década. Diz que o objectivo do grupo é “mobilizar os jovens, a partir do teatro”, para “viverem uma experiência em comunidade”. Já foi Rafiki, José, Moisés. Mas conta que “o papel nem é o essencial”. Basta estarem todos juntos.

Aliás, a unidade na diversidade é uma constante. Todos os jovens estão integrados noutros grupos ou atividades na paróquia. Fazem uma caminhada de iniciação cristã, no Caminho Neocatecumenal, são escuteiros, pertencem ao Movimento Pós-Crisma, grupos de jovens, ou estão na catequese. João garante que essa diversidade é uma alegria e que o teatro é também uma forma importante de se “criar um sentimento de comunidade paroquial”. E sublinha, com um sorriso, que surgem amizades que vão além daquilo que é a “caixinha” de cada um. “Criam-se relações de fraternidade muito fortes” e nascem amigos para a vida, garante.

Todos os ensaios começam com uma oração. Pede-se a intercessão de São José e de Santa Teresinha do Menino Jesus, padroeira da paróquia. “Primeiro, somos um grupo de cristãos e só a seguir vem o teatro. Tudo é feito com sentido de serviço, para chamar a comunidade, estar com a comunidade, promover um bom momento para a comunidade”, conta João. Querem também fazer chegar uma mensagem cristã a quem assiste. Mas garante que não há só propósitos para fora. “É para nós próprios crescermos na fé. É importante quando vem cá um padre e está connosco nos ensaios, quando fazemos uma oração no início, quando o padre celebra a Missa antes de nós ensaiarmos”. Afirma, com convicção, que o grupo de teatro consegue “chamar os jovens à paróquia”, e, mais do que isso, fazê-los sentirem-se “parte da paróquia” e capazes de darem o seu “contributo”.

 

Tudo se resolve

No grupo está, desde 2013, Maria Inês Barreira, com 18 anos. Gosta tanto dos ensaios que está presente mesmo não tendo, nesta peça, nenhum papel como atriz. Fica, pela primeira vez, responsável pelos cenários e adereços. Quis levar mais além o gosto e interesse pela cenografia, e decidiu, desta vez, experimentar um papel diferente. É da Nazaré, chegou à Brandoa há quatro anos e garante que o teatro foi a melhor maneira de fazer amigos. “Estamos aqui semanas inteiras, duas ou três vezes por semana, uma ou seis horas juntos”. E o espírito de sacrifício de todos os participantes ainda a surpreende. “Há crianças pequenas; ao Domingo, por vezes, saímos daqui às duas da manhã e o dia seguinte é de escola. Há pessoas que trabalham e estão aqui várias horas sem ganharem dinheiro nenhum. Esta abertura chama-me muito a atenção”, aponta. Do teatro, leva para a vida o espanto de “tudo se resolver”, mesmo com os habituais imprevistos de última hora. E com esperança, afirma que “nas pessoas que assistem também deve ficar alguma coisa”. Confessa que o mais difícil é mesmo a gestão de tantas pessoas... conciliar ensaios, horários, vontades. “Mas nada que não se resolva”, afirma com um sorriso de quem sabe olhar com alegria para os entraves.

 

Dar de graça

Também o padre Francisco Simões, coadjutor na paróquia da Brandoa, costuma ter um papel que vai além da celebração da Eucaristia nos momentos que antecedem as apresentações. Na próxima peça, dará um contributo em voz off. Com um sorriso acolhedor, garante que o que acontece no grupo são “momentos de comunhão muito grandes”. Até porque os elementos do grupo “são, acima de tudo, jovens cristãos que fazem teatro. Não é um grupo de teatro cristão”, sublinha. Lembra que o grupo tem o propósito de angariar fundos para as suas atividades mas vai muito além disso. Existe “para animar a paróquia, para os jovens estarem juntos, para evangelizar através das peças que são escolhidas com alguma moral”, explica.

Para este jovem sacerdote, tudo se faz com muito trabalho, muito esforço, mas também com muita alegria. “Aqui há uma visão maior da realidade. Eles têm esta experiência de que o encontro com Cristo lhes dá alegria e lhes dá esta disponibilidade para entregarem a vida, porque a receberam. Procuram dar de graça aquilo que receberam de graça. E sem esforço. Com alegria”, conta entusiasmado. “É verdade que nem todos os dias estão todos animados”, confessa. “Mas animam-se uns aos outros e a própria Palavra os vai animando”, garante. E só “estarem juntos” já é metade do remédio. O teatro é também “um instrumento para sentirem que isto é deles. É feita a proposta e eles respondem”, atesta o padre Francisco.

 

Segredo

Sobre o fervilhar de jovens ativos na paróquia, o sacerdote garante, sorridente, que “o segredo é a iniciação cristã”. “A paróquia é muito fundada na redescoberta do Baptismo. Quando redescobrimos esta graça que é sermos filhos de Deus, desejamos corresponder a esta missão para a qual somos chamados. E isto abre-nos o horizonte para tanta coisa. Não necessariamente para irmos para fora. Mas já aqui dentro, abrirmo-nos para o outro. Cristo está presente no outro. E esta redescoberta de sermos filhos de Deus, de percebermos que Deus é Pai e que o outro é nosso irmão, é uma maravilha”, refere, garantindo que os jovens perceberam isso. “Não é um Deus que está distante. É um Deus que está próximo, com o qual eles falam, que os perdoa, que os acolhe, que os corrige, e sentem-se amados por isso”. Este sacerdote de 33 anos explica que esta autenticidade do testemunho é “fundamental” para os mais novos. “Percebem que aqui ninguém os está a enganar. Que não estamos aqui a fazer uma proposta aliciante só porque queremos atraí-los para estarem aqui. Nós falamos-lhes com o Evangelho, sem querer tirar as partes que são mais incómodas: a da cruz, do dar a vida pelos outros, de amar os inimigos, da obediência. Nós apresentamos tudo o que é a pessoa de Jesus, que tem implicações morais, de renúncia e de acolhimento”, refere o padre Francisco Simões, certo de que os jovens correspondem procurando “viver na radicalidade do Evangelho”. “E isso é muito bonito de ver a acontecer”, conclui.

O sino já tocou as 22 horas e o ensaio continuou no auditório do Centro Paroquial, pela noite dentro. Muitos outros ensaios se vão seguir até a próxima peça (O Feiticeiro de Oz) ser apresentada – ainda sem data marcada.

texto e fotos por Clara Nogueira
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