Doutrina social |
Encontro Nacional de Agentes Sociopastorais das Migrações
A Europa entre o sonho e a realidade
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Nos dias 13, 14 e 15 de Janeiro, no Centro Pastoral de Leiria, teve lugar o Encontro Nacional de Agentes Sociopastorais das Migrações, com o objetivo de refletir sobre as causas e consequências dos fluxos de pessoas, analisar os constrangimentos por parte da UE, tomar consciência dos desafios postos à comunidade e conjugar esforços a nível pastoral. A Mensagem do Papa para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, realçando o cuidado a ter com as crianças, porque as mais frágeis, constituiu o pano de fundo para os trabalhos.

 

O sonho europeu

Estamos no sexagésimo aniversário do sonho europeu. Com a assinatura do Tratado de Roma, a 25 de Março de 1957, apresentava-se como missão da CEE a promoção de um desenvolvimento harmonioso das atividades económicas, uma expansão contínua e equilibrada, uma maior estabilidade, um rápido aumento do nível de vida e relações mais estreitas entre os Estados. Quanto mais perto desse alvo, tanto mais se afastaria o perigo de novos confrontos.

Já não é fácil “engolir” esse sonho perante o fosso agravado entre o seu norte de países ricos e o sul dos periféricos, bem como a abertura de uns e o fechamento de outros às tentativas de solução dos problemas emergentes.

A democracia é a imagem de marca da Europa, que a aprendeu de um povo que hoje tem dificuldade em ser aceite e em aceitar as exigências que o vão sufocando. Da Grécia aprendeu a pensar, a integrar o povo no governo da cidade, a dar à vida coletiva uma dimensão de estética e de beleza. É contraproducente e injusto etiquetar a situação com recurso a termos como indolência e corrupção. O sonho não está realizado e teme-se que possa tornar-se num pesadelo. Quando as pessoas vão sendo progressivamente tratadas como números, e aos números do dinheiro se dá a primazia, então podemos afirmar que a Europa vai perdendo o coração e a alma. Assim o escreveu há mais de uma década Korthal Altes num ensaio sobre a renovação espiritual que se impõe na Europa; e Jacques Delors, numa entrevista em 2010 afirmava: “Falta, entre os europeus, uma verdadeira compreensão do legado deixado pelos pais da Europa. Afirmei, uma vez, que a Europa necessita de uma alma.”

 

Os interesses antes da união

A agenda dos influentes da UE parece não ser a dos começos, mas antes a de criar estruturas económicas fortes, onde os parceiros mais frágeis, se não tiverem capacidade de aguentar as exigências impostas, devem convencer-se a sair.

O fenómeno dos refugiados mostra-nos essa UE insegura e sem chama, criticada pela inoperância das medidas apontadas para lidar com a crise. Portugal periférico manifestou uma notável disponibilidade para acolhê-los; no entanto, embora o plano estivesse montado, os entraves burocráticos tornaram o processo tão lento que gerou algum desencanto no entusiasmo inicial. A isto adicione-se o terrorismo, o populismo e a inoculação de dúvidas e de temores perante uma “invasão” de desconhecidos. Assim a Europa tornou-se pouco convincente na capacidade de receber quando comparada com países mais pobres como o Líbano, a Jordânia e a Turquia. Os 10 países que acolhem 56% dos refugiados representam menos de 2,5% do PIB mundial. A Amnistia Internacional recentemente acusou os países ricos de desenvolverem políticas “de interesse próprio e de egoísmo”, agravando a crise.

 

Defensores dos fracos ou padrinhos de interesses?

Isso contrasta com a agilidade de atuar em termos militares. Quando o Parlamento Britânico aprovou, com 60% dos votos, bombardeamentos na Síria, não foi preciso esperar um dia, bastaram umas horas para que quatro aviões Tornado lançassem bombas Paveway sobre alvos situados nos depósitos petrolíferos de Omar. Há dias, na Agência Ecclesia, a Ir. Mafalda Leitão apresentava o testemunho de um refugiado sírio (que, em Portugal com um filho, aguarda a chegada da mulher e mais três filhos que ainda se encontram na Turquia) e que confessa que a primeira palavra aprendida em Portugal foi espera, espera. Ela já tem dificuldade em dirigir-lhe tal palavra. E o que é mais grave é que a UE, agindo desta forma, deixa o caminho aberto aos traficantes que ela quer combater. E eles não perdem a oportunidade. Por contraposição, a insistência na atenção aos pobres, marginalizados e necessitadas é um tema recorrente no ensino do Papa, como se viu na mensagem enviada a Donald Trump por ocasião da sua tomada de posse.

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