Lisboa |
Missão LX, na Paróquia de Santo Agostinho de Marvila
“Valorizar o estar com as pessoas”
<<
1/
>>
Imagem

Chegam “sem saber para o que vão”, acolhem outros jovens em suas casas, procuram respostas às inquietações vocacionais e recebem muito mais do que pensavam. Os 41 jovens da Missão LX “abdicaram de alguns dias de férias”, entre 28 de dezembro e 1 de janeiro, para se deixarem surpreender ao serem presença missionária, na Paróquia de Marvila, na Vigararia de Lisboa II.

 

Longe vai o tempo em que à estação de comboios de Braço de Prata, na freguesia de Marvila, em Lisboa, se via chegar gente do interior de Portugal com o desejo de uma vida nova. Desses tempos, nos anos 60, até aos dias de hoje, muita coisa mudou. Os imponentes edifícios fabris permanecem, roubando destaque aos inúmeros edifícios desprovidos de beleza arquitectónica. As casas de antigamente, construídas com o objetivo de albergar gente para trabalhar nas florescentes indústrias, são hoje habitadas por uma população com uma idade que ultrapassa os 65 anos. Com vista de rio, entre o centro empresarial do Parque das Nações e a afamada zona turística de Alfama, a Paróquia de Santo Agostinho de Marvila ofereceu, entre 28 de dezembro de 2016 e 1 de janeiro de 2017, um terreno fértil de missão para 41 jovens, vindos de toda a diocese.

 

Surpresa

Joana Pereira tem 25 anos e vive com a mãe, na Paróquia de Marvila. Foi numa Missa que ouviu falar, pela primeira vez, da Missão LX. Prontamente pesquisou mais sobre o que se tratava e convenceu a mãe a acolher jovens missionários em sua casa. “Estamos a acolher duas raparigas em nossa casa, uma com 15 e outra com 16 anos. A minha mãe nunca tinha acolhido jovens. Fiquei muito contente porque não estava à espera”, partilha esta jovem, que também participou na Missão LX, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Joana faz parte do grupo de jovens da paróquia e lamenta a escassez da presença juvenil. “No grupo, somos 6 a 8 jovens. É uma paróquia muito idosa, não há muita gente que possa ajudar. Acabam por ser sempre as mesmas pessoas e depois não conseguimos chegar a toda a gente”, lamenta. Por isso, a Missão LX foi, para esta jovem, “uma experiência fantástica”. “Não estava à espera, admito. As pessoas têm sido muito receptivas”, sublinha.

 

Ajudar mais

Todos os dias, o grupo de 41 jovens inscritos dividiu-se por diversas atividades, entre visitas a idosos, a pessoas que estão sós, visitas a um lar, centro de dia ou outras instituições. Para Joana Pereira, a visita à SPEM - Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla foi a que a marcou mais. “Nunca tinha estado com pessoas que têm esta doença e foi muito emocionante ver a alegria que lhes demos, naqueles momentos de festa”, sublinha esta jovem que destaca o facto de esta Missão LX ter despertado nela um desejo de “ajudar mais as pessoas, chegar-lhes ao coração”. “Era algo que tinha um bocado de receio. Sabia que as pessoas queriam mas tinha medo de me aproximar. Agora consigo estar mais à vontade com as pessoas”, realça. “A Missão LX está a contribuir imenso para a nossa paróquia e vamos ver se conseguimos dar continuidade ao que está a ser feito”, ambiciona esta jovem estudante.

 

Arriscar

Hesitante e “sem saber para o que vinha”, António Raimundo esperou até à data limite para se inscrever na Missão LX. Ao Jornal VOZ DA VERDADE, este jovem de 26 anos, já habituado a algumas experiências missionárias, garante que o facto não saber para o que vai torna-o “mais aberto, mais disponível para ajudar Jesus a entrar na vida das pessoas”. E isso garante ter presenciado. No movimento juvenil Jovens Sem Fronteiras, António teve amigos que lhe falaram da Missão LX. “Falaram-me de uma passagem de ano diferente, numa paróquia de Lisboa. Arrisquei e estou a gostar”, assegura.

O tempo, que é de missão, é também de discernimento e procura de respostas. “Nestes dias, já deu para refletir e responder a algumas perguntas que eu trazia, como por exemplo se devia avançar numa relação de amizade para algo mais a sério”, conta este jovem, da Paróquia da Benedita, na Vigararia de Alcobaça-Nazaré.

 

Permanecer

Das diferentes atividades que esta Missão LX proporcionou, António destaca uma conversa com uma utente da Residência e Centro Dia da Quinta das Flores, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. “Falou-me da vida dela, apesar das várias repetições que ia tendo... Senti que ela precisava de falar. Emocionou-se, chorou. Tem dois filhos que a visitam esporadicamente”, revela.

Outros dos momentos que tocou este jovem foram dois testemunhos que escutou no primeiro dia, em que se falou da edição anterior da Missão LX que decorreu em Alcabideche. “Um colega perguntou o que era preciso para fazer um grupo de jovens continuar a existir, uma vez que no início do ano eram 20 elementos e, com o passar dos meses, passou a cinco. Senti que aquilo era também para mim, porque estou num grupo com uma situação semelhante. ‘Permanecer’ foi a resposta que encontrei”, aponta este jovem consultor assegurando que a Missão LX “serve para abanar” as ideias e para ajudar a “não ter medo de assumir compromissos, responsabilidades e estar presente junto dos outros”.

 

Estar com as pessoas

Esta foi a 7ª edição da Missão LX. À frente deste projeto que congrega jovens, a partir dos 14 anos, provenientes de várias paróquias, grupos, movimentos ou “até sem crença”, está o padre Hugo Gonçalves. Ao Jornal VOZ DA VERDADE, este sacerdote começa por fazer um “balanço muito positivo” desta edição. “As pessoas que nos recebem em casa, nas instituições, reagem todas muito bem”, assegura o padre Hugo, sublinhando o trabalho de preparação desta atividade que contou com a colaboração do pároco, padre Dominic, sacerdote de nacionalidade indiana.

Para este responsável, a ‘marca’ da Missão LX é “valorizar o estar com as pessoas”, garante. “O contacto pessoal, ouvir a pessoa, rir e chorar com ela. Falar de Jesus... As pessoas mais velhas têm essa saudade, dos tempos em que conseguiam ir à Igreja, que conseguiam rezar... É bonito encontrarem estes jovens e verem esta alegria”, sublinha este sacerdote, assegurando, por outro lado, que “a Missão LX, só por si, não resolve os problemas de nenhuma paróquia”. Porém, para muitos dos jovens que participam, esta “é, muitas vezes, determinante para uma nova atitude na sua pertença eclesial, na forma como encaram a vida, na sua espiritualidade e até na sua vocação pessoal”, refere.

A Missão LX já decorreu em Famões (2010), Portela (2011), Algés e Cruz Quebrada (2012), Óbidos (2013), Baixa de Lisboa (2014) e Alcabideche (2015). Na vida dos paroquianos que contactaram com esta iniciativa, “há vidas de pessoas que mudam”, assegura o padre Hugo Gonçalves. “Acredito que os jovens da Paróquia de Marvila que se associam à Missão saem com o desejo de reproduzir esta vivência, no dia-a-dia, e com a esperança de dar um novo fôlego à comunidade cristã. Penso que deixamos sementes”, afirma.

 

Novidade

A juntar aos 41 jovens inscritos, acrescem mais nove animadores, onde se incluem três padres, que ficam responsáveis pela organização das atividades e a preparação de toda a logística necessária para estes quatro dias de missão, que contempla uma passagem de ano “diferente”, em Vigília de Oração.

De ano para ano, o padre Hugo Gonçalves procura acrescentar algo novo. “Este ano procurámos garantir que estivesse sempre um grupo, na igreja paroquial, em oração pela missão, pelos missionários e pelos que vão ser encontrados. No início, os jovens ficaram apreensivos com esta proposta, mas tivemos testemunhos que asseguravam que aquele momento acabou por ser o melhor momento do dia. Perceberam que isso também é missão... A oração é o combustível da missão”, atesta.

 

____________________

 

Família, fermento de paz

O Cardeal-Patriarca de Lisboa celebrou a Missa da Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus com os jovens que participaram na Missão LX. Na Paróquia de Marvila, D. Manuel Clemente apresentou a Sagrada Família como “semente e fermento de paz” e convidou os cristãos a olharem para o exemplo dos pastores que foram ao presépio e viram a família. “Esta é a resposta que Deus dá. Apresenta-se no mundo da maneira mais simples e mais original porque a origem da vida está na família e quando nós apoiamos as famílias, confortamo-las, ali está uma semente, um fermento de paz”, assegurou, lembrando que estes jovens da Missão LX “passaram estes dias visitando famílias e casas e que, por isso, estiveram bem”.

No primeiro dia do novo ano, e Dia Mundial da Paz, o Cardeal-Patriarca recordou ainda a mensagem do Papa para aquele dia e sublinhou que “é na família que devemos começar a edução para a paz”.

 

____________________

 

Generosidade agradecida

Na Missa que concluiu a Missão LX, na Paróquia de Marvila, o pároco, padre Dominic Kuppayilputhenpurayil, agradeceu a presença “tão importante” dos jovens que “abdicaram das suas férias de Natal para se dedicarem ao bem comum e aos outros”. “Isso denota uma grande capacidade de generosidade e boa formação. Que Deus permita que mantenham estas características que diferenciaram, sempre de uma forma positiva”, desejou o sacerdote indiano.

texto e fotos por Filipe Teixeira
A OPINIÃO DE
Pedro Vaz Patto
Foi muito bem acolhida, pela generalidade da chamada “opinião pública”, a notícia de que...
ver [+]

Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES