Missão |
Maria Emília Cunha Freitas
“O que eu trouxe vai ficar no meu coração para toda a vida!”
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Maria Emília Cunha Freitas nasceu a 9 de Setembro de 1951, em Felgueiras, no seio de uma família católica. Filha de professores primários, tem um bacharelato em Filologia Românica e é licenciada em Literaturas Modernas na vertente de Português e Francês. Foi professora de Português e Francês no Ensino Básico durante 37 anos. Esteve durante dois meses em Moçambique, com as Missões Carmelitas.

 

Durante cinco anos estudou num colégio de religiosas em Braga. Frequentou o curso Humanístico-Filosófico na Faculdade de Filosofia e, apesar de nos primeiros dois anos tudo ter “corrido bem”, “no terceiro ano, entrava-se verdadeiramente no mundo da Filosofia e eu, muito jovem, com nenhuma formação, não aguentei o elevado nível dos Jesuítas e vim embora. Fiz o Bacharelato em Filologia Românica e uns anos depois acabei a Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas/ Português- Francês”, partilha. Foi professora no segundo ciclo do Ensino Básico durante 37 anos. Aos 22 anos casou-se e diz que o fez “completamente ingénua“ e conta-nos: “O mundo para mim era completamente desconhecido. Os meus pais já não eram novos quando eu nasci e, por isso, estava pouco a par do que acontecia com os jovens da nossa idade. Eu e as minhas irmãs vivemos uma infância e adolescência muito reprimida. Casei com 22 anos. Tive dois filhos maravilhosos. Mas o meu casamento foi muito complicado e não deu para aguentar. A um mês de fazer 25 anos de casada, tive de me separar. Se o não fizesse, já não estaria cá para contar a minha história, creio. Durante esses 25 anos, vivi muito afastada das coisas de Deus. Eu falava muito com Ele. Contava-Lhe a minha vida difícil, mas nos dias em que eu falava com Ele, as coisas pioravam muito. E eu afastei-me. Parece que Ele não me ouvia. Hoje entendo que Ele me estava a dizer que eu não podia viver assim. Um dia tive coragem e acabei com o tormento! Que passo maravilhoso!”

 

A mudança que a reaproximou de Deus

Após essa mudança na sua vida, começou a ir à Missa na sua paróquia (Aldoar) e sente que em cada Domingo o padre Lino lhe deu uma grande ajuda na fase da separação que não foi fácil. “Assim me fui aproximando cada vez mais da Igreja e comecei a sentir necessidade de pôr em prática aquilo que mais me agradava na Palavra de Deus: o amor ao próximo, o viver para o outro. Fui voluntária durante um ano no IPO do Porto, trabalhei durante um ano na Casa do Caminho, canto num coro de música sacra em que animamos as Missas do Domingo e damos alguns concertos e, antes de me reformar, fiz um curso de voluntariado na Universidade Católica. No fim do curso deram-me uma senhora que vivia sozinha para acompanhar. Há uns sete anos que saio com ela de 15 em 15 dias: levo-a a passear, fazer compras… Como agora vivo em Matosinhos, comecei a ir aqui à Missa durante a semana. Como gosto muito do trabalho que a Igreja faz, ofereci-me para a Pastoral da Saúde e visito todas as semanas uma senhora idosa que já não sai de casa. Mas, os 25 anos em que estive casada não foram sempre maus! Além dos filhos maravilhosos que tenho, uma bênção de Deus, viajei muito pelos 5 continentes. Uma das viagens que mais me ficou gravada, foi a S. Tomé e Príncipe. A cada lugar que chegávamos, ainda hoje vejo aquelas revoadas de miúdos atrás de nós, com os seus lindos sorrisos, muita alegria e completamente reconhecidos por qualquer coisa que lhes déssemos, como uma simples caneta ou um insignificante rebuçado. E fiquei sempre com a ideia de um dia ir para lá numa missão”, partilha.

 

“Em Moçambique sinto que deixei alguma obra”

Há sete anos atrás, conheceu uma rapariga argentina no Convento de Avessadas (onde foi descansar uns dias) com a qual começou uma profunda amizade. “Ela é uma verdadeira católica, com uma formação excelente, e aproximou-me dos Carmelitas, da Santa Teresa, de São João da Cruz. Formamos um Grupo de Oração Teresiana (GOT), aprendi imenso sobre as coisas de Deus”, diz-nos. Começou então a ajudar o padre João Rego (Carmelita) no apoio a duas missões de Moçambique. “E, de repente, tudo se proporcionou na minha vida para que eu pusesse a minha ideia antiga em prática. Da ideia à prática foi muito rápido. Fiz quatro formações da FEC que adorei e me deram uma preparação muito boa para eu enfrentar as dificuldades que poderia encontrar. A primeira, essencialmente, com o Professor Juan Ambrosio, sobre A Alegria do Evangelho que eu já tinha lido e me tinha aguçado ainda mais a minha vontade de partir, foi muito importante”. Quando questionada sobre o porquê de partir e não ficar em Portugal diz-nos: “O que eu queria verdadeiramente era sentir uma das partes do Evangelho de que mais gosto, que é quando Jesus convida os Apóstolos a seguirem n’O e eles largam tudo e vão, simplesmente. Eu também queria ir, largar tudo e entregar-me de alma e coração a uma causa. E fui. Comprei o bilhete do meu bolso (só Deus sabe com que dificuldade) e fui”. Partiu para a Missão de S. Roque, em Moçambique, para um Orfanato com 47 crianças onde nos diz que foi “muito feliz. Ficava mesmo no mato, nem TV tínhamos, as dificuldades eram algumas, mas tudo ultrapassei. Tive muita sorte com a colaboradora que se encontrava lá, com quem vivi os dois meses. Era argentina, já lá estava há quatro meses, era uma pessoa excecional, com quem aprendi imenso e de quem tenho muitas saudades. Pus de pé uma biblioteca com 1506 livros classificados segundo a Classificação Decimal Universal, devidamente etiquetados e registados. Ficou bonita! Dei aulas de Português aos meninos e a quatro postulantes moçambicanas. Dei aulas de Francês, ensinei a fazer tricot, acompanhei os trabalhos dos meninos. Sinto que deixei alguma obra, mas o que eu trouxe vai ficar no meu coração para toda a vida e foi muito. É claro que os Apóstolos deixaram tudo para sempre, eu deixei só por dois meses, mas foram dois meses de uma entrega total. As saudades que sentia da minha família e dos meus dois netos lindos, eram colmatadas pelo trabalho intenso (mas muito bom, muito compensador, muito bonito) da Missão”.

Sobre o futuro, diz-nos que gostaria de voltar mas por agora por cá vai “continuar a ajudar os que precisam de mim, vou continuar a dar apoio ao trabalho das missões, vou envidar esforços para conseguir padrinhos para aqueles meninos que de tanta coisa precisam, vou contar a grupos de meninos de cá como vivem os meninos de lá…. E, quem sabe, regressar um dia se a idade e as minhas forças o permitirem”.

texto por Catarina António, FEC – Fundação Fé e Cooperação
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