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“Sociedade indiferente ao sofrimento é uma sociedade cega”
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O Papa Francisco considera que os dramas como a pobreza, a doença, os refugiados e deslocados têm de ser mais do que um “incómodo”. Na semana em que o Vaticano esclareceu que hierarquia e carismas não são concorrentes na Igreja, o Papa fez um discurso incisivo na sessão anual do Programa Alimentar Mundial, ficou horrorizado com o massacre em Orlando e criticou quem considera que uma pessoa doente ou com deficiência não pode ser feliz.

 

1. O Papa considera que uma sociedade indiferente ao sofrimento dos outros é uma sociedade “cega”. As declarações de Francisco foram feitas durante a audiência-geral de quarta-feira, dia 15 de junho, na Praça de São Pedro. Na sua reflexão, lembrou dramas como a pobreza e a doença, mas também a situação dos refugiados e deslocados, que muitas vezes não provocam mais do que um sentimento de “incómodo”. “Quantas vezes vemos essas pessoas ao longo do nosso caminho e nos sentimos incomodados? É uma tentação, todos passamos por ela, mesmo eu”, referiu o Papa, lembrando no entanto que Jesus desafia todos a “colocarem no centro da sua vida quem está excluído”.

Baseando-se na passagem bíblica do cego que, à beira da estrada, pede a ajuda de Cristo que passa, Francisco lembrou que todos mais cedo ou mais tarde, também passam por “situações difíceis”. Tal como Cristo é sinal de “misericórdia” para com aqueles que cruzam o seu caminho, também os cristãos devem saber ser sinal e exemplo de misericórdia para a sociedade atual, para que esta possa aprender o valor daqueles que se perderam nas “margens da estrada”, os saiba “resgatar” e apontar-lhes o caminho da “salvação”. “A passagem de Jesus é também um convite a aproximarmo-nos dele, a sermos melhores, a sermos verdadeiramente cristãos, a segui-l’O. Que todos os dias saibamos dar este passo, da indigência à condição de discípulos”, exortou o Papa.

 

2. A hierarquia e os carismas não são concorrentes dentro da Igreja, nem se devem sobrepor, garantiu esta terça-feira, 14 de junho, a Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), realçando que ambos são essenciais. “Não há duas igrejas – a sacramental e a carismática –, o que há é diferentes carismas que enriquecem a Igreja”, afirmou o prefeito da CDF, cardeal Müller, num documento dirigido aos bispos de todo o mundo com o título ‘A Igreja rejuvenesce’.

Os movimentos e novas comunidades eclesiais têm um potencial que renova a vida da Igreja, na sua relação com o mundo contemporâneo, afirma o documento. A variedade dos carismas “é um dom que importa valorizar e inserir na vida da Igreja, sempre em comunhão com os pastores”, porque “a dimensão carismática nunca pode faltar na vida e na missão da Igreja”. O documento aponta ainda oito critérios para “discernir os carismas autênticos” e também define critérios para o “reconhecimento jurídico destas novas realidades”.“Não se trata de superar conflitos, nem de introduzir novos conceitos”, diz o Prefeito da Fé, mas sim de “integrar a dimensão carismática da Igreja, tal como sempre valorizou o Concílio Vaticano II”.

 

3. O Papa denunciou a ditadura das armas e a facilidade com que passam fronteiras alfandegárias, por oposição aos obstáculos que se colocam à circulação de alimentos. “Enquanto as ajudas e os planos de desenvolvimento se veem obstaculizados por intrincadas e incompreensíveis decisões políticas, por tendenciosas visões ideológicas ou por insuperáveis barreiras alfandegárias, as armas não. Não importa a sua origem, circulam com uma liberdade jactanciosa e quase absoluta em muitas partes do mundo”, afirmou Francisco, na abertura da sessão anual de 2016 do Conselho Executivo do Programa Alimentar Mundial (PAM), no dia 13 de junho. “E assim nutrem-se as guerras, não as pessoas. Nalguns casos, usa-se a própria fome como arma de guerra”, apontou.

Na sede do PAM, das Nações Unidas (ONU), em Roma, o Papa lamentou que, apesar de todos termos “consciência disto”, continuemos a deixar que essa “consciência se anestesie, tornando-se insensível”. “E as vítimas multiplicam-se, porque o número das pessoas que morrem de fome e depauperação soma-se ao dos combatentes que morrem no campo de batalha e a tantos civis mortos nos conflitos e nos atentados”, sublinhou. “Assim, a força transforma-se no nosso único modo de agir e o poder no objetivo perentório a alcançar. As populações mais frágeis não só padecem com os conflitos bélicos, mas ainda veem travado todo o tipo de ajuda”, concluiu.

 

4. O Papa Francisco expressou “horror” perante o “ódio sem sentido” do atirador que matou 50 pessoas num clube noturno em Orlando, no estado norte-americano da Florida, muito frequentado por homossexuais. “O terrível massacre que ocorreu em Orlando, que fez muitas vítimas inocentes, suscitou no Papa Francisco e em cada um de nós sentimentos muito profundos de horror e de condenação, de dor, de perturbação perante mais esta manifestação de uma loucura assassina e de um ódio sem sentido", declarou o porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi. “Desejamos todos que as causas deste ato de violência horrível e absurdo, que perturba profundamente o desejo de paz do povo americano e de toda a humanidade, possam ser determinadas e combatidas eficazmente e o mais rapidamente possível”, acrescentou.

 

5. O Papa Francisco criticou, no Domingo, dia 12, quem considera que uma pessoa doente ou com deficiência não pode ser feliz. Durante a homilia da Missa do Jubileu dos Doentes, que presidiu em Roma, criticou uma sociedade obcecada com o cuidado do corpo, que esconde o que é imperfeito. “Num tempo como o nosso, em que o cuidado do corpo se tornou um mito de massa e consequentemente um negócio, aquilo que é imperfeito deve ser ocultado, porque atenta contra a felicidade e a serenidade dos privilegiados e põe em crise o modelo dominante. É melhor manter tais pessoas segregadas em qualquer «recinto» – eventualmente dourado – ou em «reservas» criadas por um compassivo assistencialismo, para não estorvar o ritmo dum bem-estar falso”, condenou o Papa.

“Por vezes chega-se a sustentar que é melhor desembaraçar-se o mais rapidamente possível de tais pessoas, porque se tornam um encargo financeiro insuportável em tempos de crise. Na realidade, porém, como é grande a ilusão em que vive o homem de hoje, quando fecha os olhos à enfermidade e à deficiência”, sublinhou Francisco, lembrando que não existe apenas sofrimento físico. A “patologia da tristeza” é uma das mais frequentes nos dias de hoje.

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