Lisboa |
Centenário da Associação dos Médicos Católicos Portugueses
“Medicina deve retomar-se como ‘ciência humana’”
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“Trata-se hoje em dia de defender a sociedade duma desvalorização fatal que lhe corroesse a centralidade humana e responsável”, apontou D. Manuel Clemente, como objetivo para os membros da Associação dos Médicos Católicos Portugueses (AMCP). No encontro que decorreu no passado sábado, 7 de novembro, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, o Cardeal-Patriarca referiu os incalculáveis “resultados positivos” que a associação trouxe à sociedade, ao longo destes 100 anos de existência, e fez uma resenha dos tempos primórdios de criação da AMCP, num período de transformação da sociedade portuguesa. “Há cem anos correspondia à novidade dos tempos, que exigiam participações livremente conjugadas para defender causas e promover valores. Em Portugal, e depois dos graves problemas levantados pela Lei de Separação de abril de 1911, (...) o Episcopado conclamou à “união” dos católicos, para defenderem o direito de o serem publicamente também”, referiu o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, destacando depois alguns desafios para a medicina: “Os desafios culturais são grandes, pela fragmentação evidente de saberes, práticas e propósitos. Mais do que nunca, a medicina deve retomar-se como ‘ciência humana’, atendendo a cada pessoa na respetiva totalidade psicofísica e relacional”.

 

 

Na primeira linha

A celebração do centenário da Associação dos Médicos Católicos Portugueses contou igualmente com a participação do Ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, que no seu discurso, na sessão de abertura, enalteceu a importância das associações da Igreja Católica na prestação de cuidados de saúde, em Portugal. “Muitas vezes, assistimos a alguma confusão relativamente à avaliação daquilo que tem sido [a atuação] de muitas associações da Igreja Católica no contexto da produção de cuidados de saúde, onde, com alguma frequência, se cai numa confusão entre aquilo que é a defesa do laicismo, com aquilo que, muitas vezes, não acaba por ser mais do que um anticlericalismo de primeira linha e que, logo de seguida, se tenta disfarçar com um outro qualquer discurso que, na realidade, não é consentâneo com aquilo que se disse anteriormente”, referiu o ministro, defendendo ainda a “enorme importância” que a Associação dos Médicos Católicos tem para o país.

A primeira parte da comemoração do centenário contou igualmente com o discurso de abertura, pelo presidente nacional da Associação dos Médicos Católicos Portugueses, Carlos Alberto da Rocha, com uma reflexão do professor catedrático Walter Osswald, com o tema ‘Médicos e Católicos: 100 anos de uma associação’, e ainda com a entrega de medalhas comemorativas do centenário aos antigos presidentes da AMCP.

 

Cuidar com ternura

Na Sala Luís de Freitas Branco, no CCB, a presidente da Associação dos Médicos Católicos de Lisboa, Sofia Reimão, apresentou uma reflexão sobre ‘Ser Médico, ser Católico: pertencer, hoje, à Associação de Médicos Católicos?’, apontando um duplo desafio para quem pertence, hoje, a esta associação profissional católica: “Procurar perceber o mundo e o contexto em que estamos inseridos na prática da Medicina e tentar, depois, encontrar uma resposta concreta, através de uma vivência, em Igreja, do testemunho de ser discípulos de Cristo, partilhando e recebendo de outros profissionais a experiência da sua vida”. Para esta profissional de Saúde, existem três pontos centrais que podem ser resposta aos desafios da Medicina nos dias de hoje. No primeiro, sobre a “Evolução e domínio da Técnica e da Ciência”, Sofia Reimão apela ao facto de “o médico não poder menosprezar os recursos tecnológicos existentes” e ser chamado a “utilizá-los como um recurso e não como finalidade em si mesmos”. O segundo ponto referido, sobre “O que é o homem? A dignidade da pessoa humana”, toca na questão do aborto e da eutanásia. São “questões fulcrais ligadas profundamente à dignidade do ser humano, dessas resultando a forma como olhamos o homem concreto”, afirma Sofia Reimão, lembrando o termo ‘cultura do descarte’, tantas vezes usado pelo Papa Francisco, na encíclica Laudato si’, para se referir ao mundo atual, onde se “esquece que o valor inalienável do ser humano”. No terceiro ponto, esta médica do Hospital de Santa Maria salienta a reflexão sobre ‘A imortalidade e o enigma da morte na sociedade moderna’ como um dos pontos centrais que podem responder aos desafios da Medicina. “Ao refletir sobre o problema da morte, somos confrontados com o derradeiro mistério do homem, encerrando em si a essência do que é ser humano: ser mortal. Centram-se, aqui, muitos dos problemas éticos da medicina e da sociedade pós-moderna, nomeadamente a eutanásia, o suicídio ou os cuidados dos doentes terminais”, considerou Sofia Reimão, deixando ainda um desafio aos médicos católicos, citando palavras do Papa Francisco, na sua última carta Encíclica: “Aprendermos e vivermos a ‘grande ternura, própria não de quem é fraco, mas de quem é verdadeiramente forte, atento à realidade para amar e servir humildemente’, aprender ‘a cuidar, motivando-nos a trabalhar com generosidade e ternura para proteger aqueles que Deus nos confiou’”.

  

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Bênção Apostólica para os Médicos Católicos

O encontro comemorativo do centenário da Associação dos Médicos Católicos Portugueses culminou com a leitura da Bênção Apostólica do Papa Francisco, pelo Núncio Apostólico, D. Rino Passigato, que também presidiu à Missa, no Mosteiro dos Jerónimos, no final do encontro.

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