Mundo |
A aventura de uma freira italiana na Papua Nova-Guiné
O poder de um sorriso
<<
1/
>>
Imagem

Que faz uma freira italiana em Bereina, uma das dioceses mais pobres do mundo, onde falta quase tudo? A Irmã Gasparatto ensina a ler e a escrever, combate o consumo generalizado de uma droga tradicional que provoca um rasto de destruição e morte, e até conduz uma camioneta oferecida pela Fundação AIS. E sempre com uma alegria contagiante.

 

A Irmã Caterina Gasparatto tem sempre um sorriso plantado no rosto, até quando sobe para a camioneta e se agarra ao volante, com todas as suas forças, despertando palavras de assombro entre os mais novos: “Olhem, a irmã está a conduzir! Fantástico…” É apenas uma pequena camioneta de caixa aberta, oferecida pela Fundação AIS, e que, por ali, serve para transportar tudo o que for necessário. Até pessoas. “Ali” é a Diocese de Bereina, na Papua Nova-Guiné, a região mais pobre de um dos mais pobres países do mundo.

Quando Caterina Gasparatto decidiu que iria entregar a sua vida a Deus e ingressou na Comunidade de Jesus Bom Pastor, aprendeu a dar-se. Sem medos. Um dia, esta irmã italiana cruzou-se com o Bispo de Bereina. Até esse instante, nunca ouvira falar nessa diocese, nem no bispo, D. Josef Tatamai, e muito menos sabia sequer apontar no mapa onde ficava exactamente a Papua Nova-Guiné.

“Por favor, vem ajudar!” O bispo tinha acabado de lançar, em meia dúzia de palavras, o desafio que iria mudar para sempre a vida desta religiosa. E a irmã disse que sim, sem saber muito bem ao que ia. Como poderia dizer que não?

 

Idade da Pedra

Mais do que as inúmeras horas de voo entre Itália e a Papua Nova-Guiné, o avião levou-a a fazer uma verdadeira viagem no tempo, entre o século XXI e quase a Idade da Pedra. Dificilmente alguma vez a Irmã Caterina imaginaria que iria conhecer uma região tão pobre, com tantas pessoas analfabetas, mergulhadas em terríveis tradições ancestrais, como o de mascar a noz de betel, assim conhecida por ser nas suas folhas que se enrola a semente da palmeira de areca.

Em Bereina falta quase tudo. Quase não há escolas nem centros de saúde, as estradas não estão asfaltadas, as casas não têm sequer instalações sanitárias, falta a electricidade na maior parte das horas do dia e, como se não bastasse tudo isso, a esmagadora maioria da população vive em zonas rurais, por vezes em lugarejos mínimos, sem contacto uns com os outros. É por isso tão importante a camioneta oferecida pela Fundação AIS. Acudir a todos é uma tarefa imensa para esta italiana que abandonou o conforto da sua terra natal para ali, num lugar mágico mas tragicamente abandonado, ajudar a construir uma comunidade menos exposta à pobreza.

 

Droga maldita

Talvez o maior desafio que se colocou a esta irmã foi libertar quase toda a população desse terrível hábito de mascar a noz de betel, um poderoso alucinogénio que tem provocado inúmeros casos de cancro, mas que é também responsável por uma quase imediata sensação de euforia que leva cada vez mais pessoas a deixarem-se consumir por esta droga. “Isto tem paralisado toda a sociedade”, afirma a Irmã Caterina. Como lutar contra tudo isto? A Papua Nova-Guiné, no seu imenso rendilhado de ilhas, é uma realidade única, contabilizando-se mais de oito centenas de línguas numa população de apenas sete milhões de habitantes. A riqueza cultural aliada à enorme pobreza material – cerca de um terço da população sobrevive com menos de 1 euro por dia – tem sido um detonador formidável de conflitos, por vezes violentos, entre a população. Como combater isso? “Com a educação”, diz a irmã italiana.

 

Lágrimas de felicidade

Com a educação e com o sorriso da irmã, acrescentariam, por certo, quase todos os habitantes da diocese. Lucas, por exemplo, tem vinte anos. Nunca tinha entrado numa escola e era demasiado tímido para confessar que sonhava poder ler um livro ou um jornal. Ou simplesmente escrever o seu nome. “Fui eu que comecei a ensiná-lo”, recorda a Irmã Caterina. “Não se pode imaginar como é difícil ensinar alguém com 20 anos a começar a usar um lápis. Porém, nunca mais irei esquecer a felicidade estampada no seu rosto quando escreveu pela primeira vez o seu nome.” Ou a história de Leo, igualmente analfabeto e que conseguiu, através da paciência amável desta irmã, realizar pela primeira vez na vida uma conta de somar. Leo, aos 21 anos de idade, “nem podia crer naquilo”, lembra a irmã. “As lágrimas caíam-lhe pelo rosto… Foi um momento mesmo muito bonito”.

 

Revolução do amor

Pequenas coisas nas mãos de pessoas santas fazem verdadeiros milagres. A Papua Nova-Guiné continua a ser um dos mais pobres países do mundo, onde há quase tudo para fazer, onde há um povo inteiro para resgatar da miséria. A Irmã Caterina Gasparatto está a fazer, aos poucos, uma pequena revolução. Ontem foi Lucas, hoje foi Leo, amanhã será qualquer uma das crianças que se assombra ainda por ver esta mulher a conduzir a camioneta. Através do seu sorriso, da sua generosidade, esta italiana está a combater a pobreza, a marginalidade, o abandono em que se encontra toda uma comunidade. Esta é a revolução do amor. “Por favor, vem ajudar!”, disse-lhe o Bispo de Bereina. Nem ele imaginava o poder daquelas palavras. Só um amor gratuito justifica uma doação tão grande.

texto por Paulo Aido, Fundação Ajuda à Igreja que Sofre
A OPINIÃO DE
Pedro Vaz Patto
Foi muito bem acolhida, pela generalidade da chamada “opinião pública”, a notícia de que...
ver [+]

Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES