Lisboa |
Igreja Greco-Católica Ucraniana de Lisboa
Celebrar a Páscoa a 4 mil quilómetros do país natal
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Celebraram este ano a Páscoa exatamente uma semana após o rito romano. Em Lisboa desde 2002, a Comunidade Greco-Católica da Ucrânia reúne entre duas a três mil pessoas para celebrar a festa da Ressurreição de Cristo. O capelão desta comunidade estrangeira do Patriarcado de Lisboa, padre Maryan-Mykola Yarema, OSBM, descreve os principais momentos destas celebrações e enaltece a “comunidade viva” que faz com que os seus conterrâneos se “sintam em casa”.

 

As “datas vermelhas” (nome dado, na Ucrânia, aos dias importantes do calendário) assinalam o Natal, o dia da mãe, o dia da primeira comunhão e o dia da independência do país. “Apesar das tradicionais festas, nenhuma se sobrepõe à festa da Ressurreição de Jesus!”, garante, ao Jornal VOZ DA VERDADE, o padre Maryan-Mykola Yarema, OSBM, capelão da Comunidade Ucraniana Greco-Católica, no Patriarcado de Lisboa, que celebrou a Páscoa no passado Domingo, dia 12 de abril. Tal como a Igreja Ortodoxa, também a Igreja Greco-Católica da Ucrânia segue o calendário juliano. A decisão histórica, tomada no Concílio de Constantinopla, em 1583, após o Papa Gregório XIII ter apresentado o calendário "estilo novo" ou “gregoriano” - que é seguido, hoje, pelas Igrejas de rito romano – continua presente nos nossos dias e também na comunidade ucraniana, em Lisboa.

“Chegam-se a reunir cerca de duas a três mil pessoas nas celebrações de Domingo de Páscoa, em Lisboa”, revela este sacerdote ucraniano, que enaltece a “alegria com que é vivida, em família e em comunidade, a festa da Ressurreição de Jesus” (ver caixa). Habituada a reunir no centro da cidade, na igreja de Nossa Senhora da Nazaré, perto da Praça do Chile, a comunidade greco-católica ucraniana de Lisboa vê-se na ‘obrigação’, na celebração de Domingo de Páscoa, de trocar o habitual local de culto pela igreja de São Jorge de Arroios, que fica na proximidade e tem capacidade para acolher mais pessoas.

 

Agradecido

Provenientes de um país onde a Igreja predominante é a ortodoxa, os ucranianos greco-católicos encontraram no Patriarcado de Lisboa “uma casa”, o que “também ajuda minimizar as dificuldades de adaptação”. À capelania, em Lisboa, chegou, há seis anos atrás, o padre Maryan-Mykola Yarema, hoje com 37 anos. Pertencente à Ordem de São Basílio Magno (OSBM), este sacerdote, de rito bizantino, é o responsável pela comunidade de fiéis desta Igreja oriental católica que está presente na diocese. Assim que foi ordenado sacerdote, em 2009, o padre Mykola Yarema viu-lhe ser atribuída, como primeira missão, a responsabilidade desta capelania. Com ele, estão atualmente outros cinco sacerdotes compatriotas, da mesma ordem religiosa que, juntos, acompanham a comunidade ucraniana greco-católica que reside no Patriarcado de Lisboa.

O sacerdote ucraniano recorda os passos que foram dados para criar, em Lisboa, uma capelania que acompanhasse os emigrantes que viajavam para Portugal, em busca de uma vida melhor. “Houve um acordo com o então Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, e o então responsável da Igreja Greco-Católica Ucraniana, o Arcebispo Maior Lubomyr Husar. Nesse acordo, foi pedido um padre que acompanhasse a comunidade ucraniana a residir em Portugal”, conta. Esse Arcebispo ucraniano, “que consultou várias ordens religiosas, recebeu apenas uma resposta afirmativa: a da Ordem São Basílio Magno”. Por isso, “desde 2002, esta ordem religiosa está presente na Diocese de Lisboa, com vários locais de culto”, explica o sacerdote.

Atualmente, são seis as comunidades de ucranianos greco-católicos em Lisboa. Além de responsável diocesano, o padre Maryan-Mykola Yarema acompanha diretamente a comunidade que se reúne, semanalmente, na igreja de Nossa Senhora na Nazaré – antigo mosteiro jesuíta e hospital para tuberculosos –, no centro de Lisboa, e que é a maior das comunidades ucranianas existentes na diocese, com uma média de 250 a 300 pessoas nas celebrações. Em Sintra, reúnem-se todas as semanas entre 100 a 150 pessoas e nas comunidades de Caldas da Rainha e Cascais cerca de 70 pessoas, cada uma. Em Alenquer, o culto é participado por aproximadamente 35 pessoas e em Torres Vedras reúnem-se, a cada Domingo, cerca de 30 a 50 ucranianos. De entre estes números, “existem muitas famílias! Muitos vieram com as suas famílias completas para Portugal”, refere.

O capelão, em Lisboa, daquela que é considerada a maior Igreja Oriental em comunhão com o Bispo de Roma, Papa Francisco, diz ter “muito a agradecer a D. José Policarpo e ao então diretor da Pastoral da Mobilidade do Patriarcado de Lisboa, padre Delmar Barreiros, por terem trabalhado para que a criação desta capelania fosse possível”. Quando chegou a Lisboa, logo após ter saído do seminário, o padre Mykola Yarema recorda-se que “era muito ‘verde’”. “Tinha muita teoria e pouca prática. Foi um período difícil, mas com essa ajuda consegui adaptar-me”, lembra.

 

Ajuda para o país natal

Cauteloso na escolha das palavras para descrever o clima de guerra que se vive no seu próprio país, o padre Mykola Yarema, refere: “O dono da casa tem que ser dono na sua casa. Os que chegam não podem querer o que não é deles. O maior problema é que na região que agora pretendem tornar parte da Rússia, desde a independência, em 1991, sempre houve comunismo e nada mudou. Nos partidos políticos mudavam as pessoas mas era tudo a mesma coisa. Na zona de onde somos provenientes, todos queremos ser livres, estar na Europa e procurar desenvolvimento. É por isso que existem diferenças nas duas partes da Ucrânia”, explica o sacerdote, que também refere ações, realizadas pela comunidade de Lisboa, para ajudar os seus conterrâneos, no seu país natal. “Não só nesta igreja, no centro de Lisboa, mas em todos os locais de culto que existem na diocese, foram recolhidos fundos, roupa e tudo o que as pessoas puderam dar para enviar para a Ucrânia, onde aí foram distribuídos por quem mais precisava. Por exemplo, recentemente contribuímos para que os hospitais pudessem ter condições financeiras para comprar medicamentos e providenciar tratamentos que ajudassem a curar os que ficaram feridos com a guerra”, aponta.

Agora, a milhares de quilómetros de distância da sua terra natal, o capelão da comunidade greco-católica ucraniana destaca, na sua missão, “uma comunidade muito viva”. “Há muitas crianças e pessoas novas que visitam a igreja. O facto de termos em Lisboa o rito celebrativo que os nossos irmãos ucranianos encontravam no seu país, faz com que se sintam em casa, ajudando-os a ultrapassar algumas barreiras, como a língua”.

 

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Celebrações Pascais na Comunidade Greco-Católica Ucraniana

 

Quinta-Feira Santa

Neste dia, na Ucrânia, existe uma celebração, presidida pelo Arcebispo Maior, responsável pela Igreja Greco-Católica Ucraniana. Nessa celebração, existem três momentos que são característicos: o primeiro é a consagração dos Antimins (ícones, em linha ou seda, decorados com momentos que descrevem a descida de Jesus Cristo da cruz). Estes símbolos são confirmados e carimbados pelo presidente da celebração e entregues durante a bênção de um novo sacerdote. Na mesma celebração, existe igualmente a bênção dos santos óleos e o rito do lava-pés com 12 sacerdotes. Na celebração da noite são lidos 12 evangelhos que narram a Paixão de Jesus.

 

Sexta-Feira Santa

Chama-se o ‘Tempo dos Reis’ ao momento de oração que precede a celebração principal, na manhã desse dia. Na igreja, no espaço em frente ao altar, após cânticos e leituras, é feita a adoração ao Sudário. A liturgia da noite é marcada pelos cânticos que preparam a grande celebração do dia seguinte e pelo espírito de recolhimento e oração.

 

Sábado Santo

Na liturgia da Ressurreição existe a bênção da Páscoa. Todos os fiéis trazem alguns cestos, decorados, com alimentos dos quais se viram privados durante o tempo da Quaresma, tais como carnes variadas, queijos, chouriços, ovos decorados (de acordo com a tradição ucraniana). Existe também um bolo chamado “Páscoa”. Todos estes alimentos são abençoados, levados para casa e, no dia seguinte, Domingo de Páscoa, são partilhados em família.

 

Domingo de Páscoa

A partir deste dia as pessoas cumprimentam-se com as palavras "Cristo ressuscitou! - Em verdade, ressuscitou!”. É o dia da Ressurreição e, por isso, é dia de festa em família. Depois da partilha dos alimentos, que foram abençoados na noite anterior, a família reúne-se na igreja para celebrar a liturgia de Domingo. De seguida, segue-se um momento de convívio, com danças, que pode durar toda a tarde. Deste dia guarda-se um bolo até ao Domingo da Oitava da Páscoa, que é partilhado com todos os que participam da Missa, nesse dia.

  

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Integração em Portugal afasta desejo de regressar

 

Cristina nasceu na Ucrânia, há 25 anos, e chegou a Portugal em 2002. Tornou-se na primeira criança ucraniana a viver e estudar nas Caldas da Rainha. Após um ano de emigração do seu pai em Portugal, a família decidiu mudar-se para a região Oeste de Lisboa. “A separação custava muito à minha mãe e com um irmão muito pequeno, o pai fazia muita falta”, lembra Cristina, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Depois da escola secundária, de onde recorda alguns “momentos de timidez”, esta jovem ucraniana obteve a licenciatura em Direito mas, “apesar de gostar muito da teoria”, reconhece que se “afasta da prática”. Casada, Cristina tem um filho e, juntamente com o marido, é dona de “uma empresa familiar de importação grossista”, em Lisboa. Durante estes quase 13 anos em Portugal, Cristina regressou ao seu país natal três vezes, “apenas para visita”. Apesar de ter ainda alguns familiares a viver na Ucrânia, esta jovem recorda uma “adaptação que não foi fácil”, mas afasta, agora, a possibilidade de regressar ao seu país para viver, por se considerar “perfeitamente estabelecida em Portugal”.

 

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Mensagem Pascal em ucraniano


Na sequência desta reportagem, o Jornal VOZ DA VERDADE desafiou o padre Maryan-Mykola Yarema, OSBM, capelão da comunidade greco-católica ucraniana no Patriarcado de Lisboa, a escrever, em ucraniano e com a respetiva tradução, uma mensagem de Páscoa para todos os leitores do semanário diocesano.

 

Христос воскрес із мертвих, смертю смерть подолав і тим, що у гробах, життя дарував.

Воскресній Утрені ми співуємо цей день такими словами: „Цей провіщений і святий день, перший по суботі царський і Господній, свято над святами, торжество всіх торжеств, в цей день прославляймо Христа навіки”.

„Воскресіння день, просвітімся люди! Пасха Господня, Пасха – від смерти бо до життя і від землі до небес Христос Бог нас перевів, перемоги пісню співаємо. Христос Воскрес із мертвих”.

 

«Cristo ressuscitou dos mortos. Pela morte ele venceu a morte aos que estavam no túmulo, Cristo deu a vida»

«Dia da Ressurreição! Resplandecei de alegria, Povos todos Ó Páscoa, Páscoa do Senhor da morte para a Vida, da terra para os Céus Cristo Deus nos transportou, a nós que cantamos este hino triunfal.

Purifiquemos nossos sentimentos, e veremos a Cristo resplandecente da ofuscante Luz da Ressurreição, e ouvi-lo-emos exclamar: Rejubilai cantando o hino do triunfo.

É justo que os Céus rejubilem, que a terra permaneça na alegria, que o mundo esteja em festa, o visível e o invisível, pois Cristo, a Alegria Eterna, ressuscitou.»

texto por Filipe Teixeira; fotos por Filipe Teixeira e Comunidade Greco-Católica
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