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Paquistão: o pesadelo da Irmã Nasreen Daniel
“Não consigo esquecer”
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Muitas pessoas já conhecem a história de Asia Bibi, mas nunca ouviram falar em Maria Iqbal, nem em Shafilla, muito menos na amiga da Irmã Nasreen. Se os Cristãos são perseguidos no Paquistão, as mulheres, então, vivem em permanente sobressalto. E são apontadas a dedo por causa da sua fé.

 

Maria Iqbal andava no quinto ano. Era a única cristã da sua escola. Um dia, estava num grupo de raparigas quando ouviu uma frase que nunca mais conseguirá esquecer. “Não bebas do copo dela porque é cristã!”

Maria já tinha ouvido falar vagamente em Asia Bibi, uma mulher cristã, mãe de cinco filhos, que a justiça paquistanesa considerou culpada do crime de blasfémia, em 2009, por ter bebido água de um poço, “contaminando-o”. Provavelmente, Maria não conhece todos os pormenores desta história. Sabe que Asia Bibi está presa mas ignora, por certo, como é a vida, o dia-a-dia aterrador na prisão de Multan. Maria Iqbal desconhece talvez que Asia Bibi já perdeu todos os recursos possíveis na justiça paquistanesa e que lhe falta apenas aguardar que o Supremo Tribunal se pronuncie sobre o seu caso. Se os juízes lhe negarem razão, Asia Bibi será enforcada.

Discriminados

Maria continua a estudar. Ela sonha com um futuro melhor, mas dificilmente consegue imaginar-se num país onde possa viver a sua fé em total liberdade. Ela só conhece o Paquistão. E no Paquistão sempre foi assim. Emmanuel Yousaf é padre e pertence à Comissão Nacional de Justiça e Paz. Praticamente todos os dias chegam-lhe aos ouvidos histórias de cristãos discriminados por causa da sua fé. “Vocês são cristãos? Então, não podemos dar-lhes trabalho.” Esta é uma frase recorrente. Apontados a dedo, os cristãos vivem em permanente sobressalto. Maria Iqbal sabe que, por ser rapariga, corre ainda mais riscos.

 

Histórias trágicas

Shafilla tinha 14 anos quando foi raptada e violada. Esteve em cativeiro vários meses e o seu estado de saúde era tão frágil que acabou por ser libertada, a troco de um resgate. Apesar de tudo, Shafilla teve sorte. Não morreu, não foi apedrejada. Não foi queimada viva. A Irmã Nasreen, da comunidade de Loretto, tem um pesadelo que a sobressalta desde que visitou uma rapariga na província de Sindh. Não interessa o seu nome. Era jovem, cristã, e estava apenas no nono ano. Era amiga de Nasreen. Um dia, ninguém sabe porquê, contaram ao seu tio, com quem vivia, que estava grávida. Quando regressou da escola, ele chamou-a ao quarto – a casa só tinha um quarto – e despejou gasolina sobre ela. Depois, deitou-lhe fogo. É aqui que começa o pesadelo da Irmã Nasreen. “Quando fui ao hospital, desmaiei. Simplesmente não conseguia olhar. Muitas vezes, a meio da noite, vejo-a. Ela era uma ferida, todo o seu corpo era uma ferida. Eu queria dar-lhe a mão, só para lhe dizer que estava com ela, mas não sabia onde colocá-la.”

 

Condenadas

A menina morreu cinco dias depois. “Foram cinco dias de sofrimento, de gritos, de dor e de agonia. Não consigo esquecer. Ninguém lhe perguntou se estava grávida. O tio, por ser o homem da família, tinha o direito de o fazer.” E fê-lo. No Paquistão é assim. Nunca se vai saber se esta rapariga, amiga da Irmã Nasreen, estava realmente grávida. Se estivesse, o mais provável era por ter sido violada. Mas isso também pouco contaria a seu favor. No Paquistão, para a maior parte das famílias, as mulheres violadas são acusadas de adultério e condenadas. Demasiadas vezes, são mortas.

Ao contrário de Maria Iqbal, a Irmã Nasreen conhece em detalhe a história de Asia Bibi, e sabe que o seu marido e os seus cinco filhos são constantemente ameaçados, e que vivem praticamente na clandestinidade. Também a vida deles está em risco. Na verdade, nenhum cristão está seguro. A Irmã Nasreen não tem dúvidas. “Se Asia Bibi for libertada, não creio que possa continuar a viver no Paquistão. Qualquer pessoa, se for acusada de blasfémia, mais cedo ou mais tarde será morta. E quem a matar acredita que irá directamente para o paraíso.”

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