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A uma janela de Roma
“Os filipinos estão chamados a ser exímios missionários da Ásia”
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O Papa esteve de visita às Filipinas, entre 15 e 19 de janeiro. Presidiu à Missa com a maior participação de cristãos – 6 milhões, segundo as autoridades locais –, celebrou a Eucaristia debaixo de uma tempestade e realizou uma visita surpresa a crianças de rua das Filipinas.

 

1. O Papa renovou, esta quarta-feira, o elogio às famílias numerosas e criticou quem associa o número de filhos ao aumento da pobreza. Depois da polémica que as suas declarações a bordo do avião, no regresso das Filipinas, sobre a "paternidade responsável", suscitaram – "Algumas pessoas pensam, e desculpem-me as palavras, que para ser bons católicos temos de ser como coelhos", disse na segunda-feira –, Francisco fez questão de lembrar que as famílias que escolhem ter muitas crianças são essenciais para a vida da sociedade. "Dá gosto e esperança ver tantas famílias numerosas que acolhem os filhos como um dom de Deus. É comum ouvir dizer que as famílias com muitos filhos e o nascimento de muitas crianças são causa de pobreza. Parece-me uma opinião muito simplista: a principal causa da pobreza é um sistema económico que retirou a pessoa do centro da vida e ali colocou o 'deus dinheiro'", referiu na audiência geral desta semana, no Vaticano.

 

2. No Domingo, 18 de janeiro, na última Missa nas Filipinas antes de voltar para Roma, o Papa foi recebido por seis milhões de pessoas, na maior participação de sempre numa Eucaristia. À medida que os céus ficavam mais cinzentos, o número de pessoas aumentava pelas ruas circundantes do local da Missa. Quem ali permaneceu, molhado até aos ossos, ouviu Francisco dizer que “os filipinos estão chamados a ser exímios missionários da Ásia”. E para cumprir essa missão o Papa deixou vários conselhos: “Recusar as seduções do diabo, que atua através da aparência do sofisticado, do fascínio de ser ‘moderno’, de ser 'como todos os outros’”, não se distrair “com a miragem de prazeres efémeros e passatempos superficiais”, nem desperdiçar os dons recebidos “com apetrechos fúteis” ou gastar “o nosso dinheiro em jogos de azar e na bebida”. Portanto, os filipinos devem centrar-se no essencial e “permanecer interiormente como crianças”. Francisco subiu depois para um papamóvel adaptado de uma camioneta típica de Manila e percorreu lentamente a vasta extensão do recinto, apinhada de gente, de pé e acenando, como num último abraço, antes do regresso do Papa a Roma, segunda-feira de manhã, dia 19.

Antes desta Missa com a maior participação de sempre, o Papa desafiou os jovens a aprender com “os pobres, os enfermos e os órfãos”. O encontro começou com testemunhos e perguntas de jovens. O dom das lágrimas foi uma das reflexões de Francisco: “Há certas realidades para as quais não há palavras suficientes, só pelas lágrimas chegamos lá”. Por isso, “sejam corajosos, não tenham medo de chorar!”. O Papa disse mesmo aos jovens que “se não aprenderem a chorar, não sereis bons cristãos”.

 

3. Um tufão obrigou o Papa a interromper a sua visita, no sábado, dia 17 de janeiro, à região de Tacloban. Uma visita que Francisco fez questão de incluir na sua viagem às Filipinas, precisamente para estar com as vítimas de um outro tufão que matou milhares de pessoas em novembro de 2013.Mas esta acabou por ser uma visita breve, perante a força de um tufão de grau dois.

No regresso a Manila, o Arcebispo de Manila e o porta-voz da Santa Sé, padre Federico Lombardi, deram uma conferência de imprensa, com o padre Lombardi a contar aos jornalistas a forma como o Papa Francisco fez questão de celebrar Missa e viver essa experiência com os habitantes de Tacloban. “O piloto do avião disse que tínhamos de partir o mais cedo possível, porque durante o dia a situação ia piorar. O Papa disse: ‘Eu vim às Filipinas, antes de tudo, para ir a Tacloban. Estou disposto a antecipar o que for preciso, mas temos de voar até lá, seja como for’”. O porta-voz acrescentou que “houve uma ligação telefónica com os organizadores de Tacloban, e eles disseram: ‘Há muita chuva e muito vento, é difícil celebrar Missa ao ar livre’, por isso, propuseram ir para a Catedral ou para a sacristia e transmitir pela televisão a Missa celebrada pelo Papa, mas Francisco respondeu que não, que isso era ‘absolutamente impossível: se o povo está lá fora no recinto, temos de estar com eles e celebrar com ele’. Segundo o padre Lombardi, “esta experiência de celebrar Missa debaixo de chuva e no meio da tempestade, é algo que tem para ele um profundo significado”. O cardeal Luís Tagle, Arcebispo de Manila, perguntou ao Papa "se alguma vez tinha celebrado com uma gabardine vestida por cima da casula e ele disse que não, que esta foi a primeira vez, portanto foi uma ocasião única! Um evento histórico".

 

4. O Papa deixou a agenda oficial e realizou na sexta-feira, dia 16 de janeiro, uma visita surpresa a crianças de rua de Manila, nas Filipinas. Após presidir à Missa na Catedral de Manila, Francisco deslocou-se à fundação ANAK-Tnk, que acolhe cerca de 300 jovens carenciados e foi recebido em ambiente de euforia pelas crianças. Alvin, de dez anos, um dos meninos ajudados por esta fundação dirigida por um padre francês, nem acreditou. “Foi incrível. O Papa deu-me um abraço grande e afectuoso”, conta Alvin. A fundação ANAK-Tnk, de Manila, lançou, em setembro do ano passado, uma campanha para sensibilizar o mundo para o problema das crianças de rua e para convidar o Papa a visitar a instituição. No âmbito desta campanha, milhares de cartas foram enviadas a Francisco.

Antes, da parte da manhã, o Papa apelou aos líderes filipinos que combatam a corrupção e reformem as estruturas sociais que perpetuam a pobreza e a exclusão no maior país católico da Ásia. Num encontro com o Presidente das Filipinas, Benigno Aquino, e outras autoridades públicas, Francisco desafiou os governantes a abraçarem uma conduta de honestidade. “Como muitas vozes na vossa nação assinalaram, agora, mais do que nunca, é necessário que os dirigentes políticos se distingam por honestidade, integridade e responsabilidade quanto ao bem comum”, declarou.

Depois deste encontro no Palácio Presidencial, o Papa presidiu a uma Missa com sacerdotes, seminaristas e religiosos, na Catedral da Imaculada Conceição, em Manila, onde desafiou a Igreja Católica nas Filipinas a ter um papel de liderança na propagação da fé católica na Ásia.

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