Lisboa |
Paróquia da Pederneira, Nazaré
“É necessário pescar linha a linha”
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“Jesus não chamou apenas pastores mas também pescadores”, lembra o padre Moisés Herves, pároco da Pederneira, Nazaré, que recebeu, nos últimos dias, a Visita Pastoral. Na terra que é mundialmente conhecida pelas suas ondas, existe uma população “em saída”, que leva respostas sociais que são o fruto da evangelização e que “não podem parar”.

 

Terra de lendas e de uma religiosidade popular muito forte, a paróquia de Nossa Senhora das Areias da Pederneira, Nazaré, concluiu, nos últimos dias, a Visita Pastoral, com D. Nuno Brás a garantir que “com Jesus a vida tem outros horizontes”. Na homilia da celebração que decorreu no pavilhão Stella Maris e onde foram crismados dezenas de jovens e adultos, o Bispo Auxiliar do Patriarcado de Lisboa convidou os jovens a “escutar o Senhor”, dando como exemplo o profeta Samuel. “Com todos, Deus quer falar, na vida de todos, Deus quer estar presente. A vida de Samuel transformou-se quando, à terceira vez, respondeu: ‘Falai Senhor que o vosso servo escuta’. Podemos dizer que também a nossa vida mudou a partir do momento que escutámos Deus na nossa vida. É aqui que começa a vida do cristão”, garantiu D. Nuno Brás.

Durante o tempo da Visita Pastoral, que segundo o pároco “foi inédita” e que procurou ir ao encontro de todas as realidades, houve algo que se evidenciou. “Descobrimos que as pessoas amam a Igreja!”, refere, satisfeito, ao Jornal VOZ DA VERDADE, o padre Moisés Herves. “Procurámos que a paróquia recebesse a visita do senhor Bispo naquilo que ela vive diariamente, não fazendo um momento para mostrar, mas procurar que a realidade fosse visitada, tal como ela é”, revela. “Muitas vezes olhamos para a vida das nossas comunidades e não nos damos conta da força que a dessacralização e a descristianização têm nas suas vidas. No entanto, esta força não destruiu o coração de uma tradição muito enraizada, fruto de uma evangeliza, em breve,acerdote, ainda este ano de 2015.esta parr isso, senti a necessidade de ção que se fez ao longo da história de Portugal, e em particular aqui no Oeste”, acrescenta este sacerdote. Esta Visita Pastoral, com a presença do Bispo, despertou na população “um desejo de estar próximo da Igreja, de ‘querer ver’, à semelhança da figura evangélica de Zaqueu”, conta o pároco da Pederneira, de 34 anos, que é também capelão do hospital local e reitor do Santuário de Nossa Senhora da Nazaré.

 

À flor da pele

De origem espanhola, o padre Moisés garante não se sentir sozinho no seu trabalho pastoral nesta cidade à beira-mar, que lhe ‘ofereceu’ uma “terra já cultivada” para ir cuidando. Formado no Seminário Diocesano ‘Redemptoris Matter’ de Lisboa, ligado ao Caminho Neocatecumenal, este sacerdote tem na “equipa” um seminarista em trabalho pastoral e o diácono italiano Paolo Lagatta que, em breve, será ordenado sacerdote. Chegado em julho de 2012 à paróquia da Pederneira, Nazaré, o padre Moisés encontrou uma “terra muito semeada”, fruto do “trabalho de sacerdotes anteriores”. “Sentimos que os frutos da evangelização deram-nos uma terra onde só viemos dar um pouco mais de força e ‘ceifar’”, salienta o sacerdote, apontando o seu primeiro objetivo quando chegou a esta terra. “Um dos aspetos centrais para o início da nossa missão na Nazaré foi criar comunhão entre todas as realidades da paróquia. Para isso, fomos acompanhando essas realidades, que são muitas. O Renovamento Carismático, o Caminho Neocatecumenal, a catequese das crianças, a Irmandade de Nosso Senhor dos Passos, a Irmandade de Santo António, a Confraria do Santíssimo Sacramento e a Confraria de Nossa Senhora da Nazaré”, descreve.

Quando questionado sobre as principais diferenças entre a população citadina a aquela que encontrou na Nazaré, o padre Moisés afirma, sem dúvidas: “Não noto muitas diferenças entre o coração do homem da cidade e o do homem das zonas mais rurais, como a Nazaré. O coração do homem precisa de uma coisa que é estarmos próximos”. Esta população, que está ligada ao mar, guarda duas características importantes, segundo o pároco. “Uma é a religiosidade popular e o sincretismo religioso, onde as seitas têm um terreno muito fácil; outra é o facto de ser uma sociedade matriarcal, devido à pesca. É uma religiosidade muito vivida à ‘flor da pele’”, destaca. “A resposta evangelizadora não pode ser apenas uma resposta de inculturação. O coração do homem da Nazaré precisa de crescer na fé e responder às situações do mundo de hoje que são praticamente as mesmas de quem vive na cidade. A característica fundamental é a necessidade de evangelização e de lugares na paróquia onde as pessoas se possam integrar e receber a possibilidade de um encontro com Cristo”, define o padre Moisés.

Para tornar este “encontro com Cristo” possível, este jovem sacerdote tem na paróquia de Pederneira, Nazaré, quatro locais de culto: o Santuário de Nossa Senhora da Nazaré, a igreja matriz da Pederneira, a igreja de Santo António e a igreja na aldeia de Fanhais. A paróquia conta ainda com um “local de congregação” que é o Centro Pastoral Stella Maris, que para além de receber, durante o Verão, a Missa que no resto do ano é celebrada na igreja de Santo António, junto à praia, acolhe também os “eventos maiores”, tal como foi a abertura da Visita Pastoral à Vigararia Alcobaça-Nazaré, que decorreu no passado dia 11 de janeiro e, mais recentemente, o encerramento da Visita Pastoral à paróquia. “Estimo que aproximadamente 800 a 1000 pessoas participem nas quatro Missas dominicais, mas esses números são variados, porque a pastoral é muito forte no Verão. A Nazaré passa de 15 mil para 100 mil pessoas durante esse período”, revela.

Uma das festas mais conhecidas, a festa de Nossa Senhora da Nazaré, é celebrada a 8 de setembro. Outra devoção é a procissão de Nosso Senhor dos Passos, que acontece no quarto Domingo da Quaresma, e a procissão do Dia do Homem do Mar, que se realiza no primeiro Domingo de maio.

 

Proposta  para os jovens

Lembrando que “Jesus não chamou apenas pastores mas também pescadores”, o padre Moisés utiliza a pesca como imagem para falar do que movimenta a evangelização. “Vejo que não existe um rebanho fixo para ser cuidado. É necessário ir pescar linha a linha, pessoa a pessoa. Antes de chegar à paróquia, já existiam mecanismos para esta ‘pesca’ acontecer e que davam resposta”, observa, acrescentando alguns exemplos: “O Renovamento Carismático contribui muito para combater a solidão das pessoas, algo que se vê muito nesta terra; outra das ‘ferramentas’ da evangelização é o Caminho Neocatecumenal, um lugar onde as pessoas podem vir e receber a Palavra. Ambas as realidades cresceram nestes últimos dois anos”, frisa o sacerdote.

No trabalho com os jovens, o padre Moisés aponta as Jornadas Mundiais da Juventude como a “ferramenta” para uma caminhada em Igreja e “aberta a todos”. “Não sou muito apologista de grupos de jovens. Penso que os grupos de jovens se tornam, muitas vezes, em grupos de amigos e não os ajudam a dar uma resposta à sua vida, faltando-lhes referências. A porta aberta por João Paulo II com a Jornada Mundial da Juventude veio ajudar os jovens a terem uma referência, dando-lhes a dar uma resposta à sua vida, nas diferentes idades. Aqui, procuramos fazer uma caminhada até à Jornada Mundial da Juventude que se chama ‘Eu rezo o terço’, onde integramos os jovens provenientes das diferentes realidades paroquiais e os que estão próximos. É um lugar aberto a todos, onde muitas vezes dá para fazer a ‘pesca linha a linha’, convidando-os para uma caminhada concreta. Nesse grupo, que não é só composto por jovens, estão já 60 inscritos”, revela o padre Moisés.

Quanto à catequese paroquial, o pároco considera estar “bloqueada”. “Por vezes, para algumas crianças, a catequese culmina com a Primeira Comunhão”, lamenta, apontando novas formas de “chegar a todos”: “Implantámos a ‘Festa dos Reis’ na paróquia. É uma festa muito bonita, porque com uma celebração da Palavra estamos a tentar dar outras dinâmicas. Na paróquia existem vários centros de catequese. Em Fanhais, numa aldeia que dista aproximadamente 10 quilómetros do centro da Nazaré, o grupo de catequese, que até se auto intitularam como ‘Os Fanheiros de Cristo’, é heterogéneo e com poucas crianças. Para criar este grupo, fomos porta a porta chamar as crianças que já não vinham à Igreja. Um seminarista e uma catequista asseguram a catequese nesta aldeia”. Na igreja matriz da Pederneira, Praia e Sítio da Nazaré, existem também outros centros de catequese, mas todos partilham da mesma realidade. “Existem poucas crianças e alguns grupos estão juntos. A grande aposta não é tentarmos incentivar ao máximo a catequese das crianças mas a catequese das famílias e daí surge, naturalmente, a vontade de colocar as crianças na catequese. A evangelização é a grande aposta”, afirma o padre Moisés, que tem no Caminho Neocatecumenal “um apoio” na iniciação cristã para não batizados, batizados e não crismados.

 

Âncora

“A paróquia tem um coração que é o Santuário de Nossa Senhora da Nazaré”, revela o pároco.  Nesse local, está sediada a Confraria de Nossa Senhora da Nazaré, que se dedica, como IPSS, a dar respostas sociais “mais naturais”, com as valências de creche, lar, jardim de infância, entre outras. “Criámos também sinergias para providenciar alimentos a quem mais necessita e abriu-se uma antiga casa religiosa para acolhimento de pessoas sem-abrigo. Oferecemos uma resposta imediata porque a pobreza é muito grande. Estamos também a tentar ver por onde caminhar na resposta às dificuldades sociais, mas sabemos que essa resposta não pode estar desligada da Evangelização”, explica o padre Moisés, dando como exemplo o Batismo e o Crisma de um jovem, proveniente da Casa de Acolhimento de Jovens em perigo da instituição a que preside na celebração de encerramento da Visita Pastoral à paróquia. “É fundamental a ligação entre caridade e evangelização para que, em verdade, as pessoas possam sair, não só da pobreza física, mas também da pobreza da própria dignidade, das escravidões em que a pessoa viva”, sublinha.

Também ligado à “gente do mar” existe um projeto que marca presença no meio dos profissionais da pesca. O projeto ‘Âncora’ é realizado em pareceria com a Confraria, com a Paróquia e com Câmara Municipal da Nazaré. “Há um ano e meio abrimos um armazém, no ‘Porto de Abrigo’, local onde os pescadores guardam os seus barcos. Nesse espaço, que se chama ‘Rumo à pesca’, faz-se atendimento social, mediação e auxílio nas questões jurídicas dos profissionais do mar”, explica o pároco, que destaca a importância da visita àquele local de D. Nuno Brás, Bispo Auxiliar de Lisboa. “Fomos de armazém em armazém, cumprimentando cada pescador. Eles sentem a presença de Deus porque os pescadores são muito religiosos. Vão-se abrindo, no meio das dificuldades naturais”, conta o padre Moisés, com a certeza de que todos os “frutos da evangelização” provêm de um “movimento não muitas vezes certo, como um rebanho certinho pelo mesmo caminho, mas por um rebanho muito disperso a quem é lançada a isca. Quando é pescado, procuramos manter ‘fresco’ o que lhes oferecemos. Não podemos parar de pescar”, considera.

texto por Filipe Teixeira; fotos por Filipe Teixeira e paróquia da Pederneira
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