Domingo |
À procura da Palavra
Ser “Charlie”
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DOMINGO II COMUM Ano B

“Disse-lhes Jesus: «Vinde ver».”

Jo 1, 39

 

Os acontecimentos dramáticos à volta do acto terrorista que causou a morte de 12 jornalistas e cartonistas do “Charlie Hebdo” em Paris, e a onda de indignação e solidariedade com a defesa da liberdade de expressão marcaram os últimos dias. Com humor e interpelação, a capa do novo número da revista mostra a arte de sorrir no meio do sofrimento, e exalta o valor do perdão: “Tudo está perdoado” encima o cartoon de Maomé, de lágrima no olho, a segurar o cartaz onde se lê “Eu sou Charlie”! Dou graças por ser cristão neste tempo, onde é possível brincar e rir com anedotas sobre o céu e sobre os “representantes de Deus”, meio embalado pelo humor judaico e com o mestre espanhol José Luís Cortés (e outros) na arte de fazer rir e pensar com os seus desenhos irreverentes, mas tão cheios da boa nova da alegria de Cristo! E lembro a história dos “Gato Fedorento” em que uma mãe chamava o filho que estava a jogar à bola com Deus dizendo: “Ó filho, olha que com Deus não se brinca!”, ao que ele respondia: “Mas foi Ele que começou!

Pois aí é que está o problema: esquecemo-nos que foi Deus que começou a brincar connosco! Não podemos ver na maravilhosa diversidade do mundo uma expressão do seu riso? Não ouvem também as suas gargalhadas quando nos enredamos em complicações sem utilidade, e com os acontecimentos risíveis do dia a dia? Não consigo imaginar aquelas horas de André e João, convidados por Jesus a ir ver “onde morava” (quer dizer, quem Ele era!), sem a alegria de um encontro cheio de amizade, de boa disposição e de um olhar aberto sobre a vida e o mundo. Sim, o humor tem a ver também com esse horizonte de espírito que humaniza, e com o saudável exercício de rir de nós mesmos. Não leram já “O Nome da Rosa”, obra na qual Umberto Eco tece uma narrativa admirável à volta de um pretenso livro de Aristóletes sobre o riso, proibidíssimo e cuja leitura causava a morte? Eu sou mais da opinião que a invenção do demónio não foi o riso, mas tudo o que o impede e aprisiona. Como as balas que mataram em Paris!  

E unido ao convite que Jesus continua a fazer aos que O seguem, gostava de sugerir a visita à exposição “Sete milhões de outros” que está patente no Museu da Electricidade (em Lisboa, com pena para os que estão mais longe!) até ao próximo dia 8 de Fevereiro. Especialmente a quem anda demasiado enrodilhado sobre si mesmo, com dificuldades de abrir o coração à beleza, e talvez para sorrir um pouco mais. Faz bem ver os milhares de rostos fotografados por Yann Arthus-Bertrand, e os testemunhos de mais de 6 mil pessoas, em 84 países, com 50 línguas diferentes, sobre 30 temas universais - família, amor, morte, perdão, clima, natureza, sentido da vida, desafios ou sonhos de infância. Ser “Charlie” é descobrirmo-nos tão próximos apesar das distâncias, tão ricos pelas diferenças, tão irmãos como Jesus nos quer ensinar a ser. É preciso mesmo ver para acreditar, como aqueles primeiros discípulos, que depois tiveram de ir contar a outros. E possamos sempre sorrir, na liberdade de exprimir ideias e diferenças, salvaguardando a vida de todos, e com a certeza de que Deus ama cada um, e gosta tanto de rir connosco!

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