Lisboa |
Visita Pastoral à paróquia da Buraca
Uma presença que dá esperança
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O bairro da Cova da Moura, na paróquia da Buraca, recebeu a Visita Pastoral de D. José Traquina, Bispo Auxiliar de Lisboa. Por entre cenários complexos de pobreza, nasce um trabalho de reconstrução da família, com a presença da Igreja a apontar caminhos de esperança para a população local.

 

Basílio é um dos moradores que acompanha a caminhada de D. José Traquina pelas ruas da Cova da Moura. Para este pai de cinco filhos e morador do bairro há 40 anos, o maior problema que ali se vive é “a falta de emprego que afeta os jovens e adultos” e “a falta de comunicação entre uns e outros”. Confiante na intercessão de Nossa Senhora para o futuro dos habitantes da Cova da Moura, Basílio pede a “intercessão de Maria para que encaminhe os filhos do bairro por um ‘caminho bom’”.

Também conhecedor da realidade que se vive neste bairro situado na Vigararia da Amadora, o padre Lucílio Neves Galvão, Missionário Redentorista que é, desde 2011, pároco da Buraca, considera que a Visita Pastoral foi uma “novidade revolucionária” para esta paróquia e em especial para a comunidade do bairro da Cova da Moura. Segundo este sacerdote, a presença de D. José Traquina entre as pessoas veio “despertar uma alegria messiânica nos corações”. Na tarde do passado dia 3 de outubro, no âmbito da Visita Pastoral à paróquia da Buraca, o padre Neves – como é chamado pelos paroquianos – guiou D. José Traquina e um pequeno grupo de fiéis numa visita a algumas moradas para se encontrar com os doentes. “A presença da Igreja nestes contextos é muito importante. Ajudamos os outros a viverem o sofrimento de uma forma diferente”, lembra o padre Neves, ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Para D. José Traquina, os testemunhos que foi escutando dos habitantes da Cova da Moura foram muito enriquecedores. “Ouvi das pessoas com quem me cruzei nesta visita que os sacerdotes Missionários Redentoristas são muito dedicados e estão presentes no meio do povo e isso é muito bonito de testemunhar. Ficamos muito felizes quando isso acontece”, destaca ao Jornal VOZ DA VERDADE o Bispo Auxiliar de Lisboa.

Inserida na Visita Pastoral à Vigararia da Amadora, D. José Traquina e o padre Neves percorreram, a pé, algumas das ruas do bairro da Cova da Moura contactando com muitos moradores. Para o padre Neves, a presença do Bispo Auxiliar de Lisboa neste dia foi, para os doentes, um “sinal de esperança para enfrentar a doença”.

 

Unidade na diversidade

“Simples!”. Assim é descrita a igreja da Buraca pelo seu pároco, padre Lucílio Neves Galvão. Depois de ter sido pároco da Reboleira, outra paróquia da Vigararia da Amadora, este sacerdote Missionário Redentorista chegou, há 3 anos, à Buraca onde continuou um trabalho iniciado há 50 anos atrás, desde o tempo de criação da paróquia por outros sacerdotes da mesma congregação. Este sacerdote, de 71 anos, recorda o carisma do fundador dos Missionários Redentoristas – Santo Afonso de Ligório – e diz-se também empenhado “na evangelização dos mais pobres”.

A Buraca é uma terra do concelho da Amadora que tem entre 15 e 20 mil habitantes. “Trata-se de uma paróquia heterogénea, complexa, na medida em que a comunidade se estrutura à volta de três grandes polos: o polo do Zambujal, com uma comunidade cigana; o polo da Cova da Moura, com a comunidade africana; e o polo central, com a chamada comunidade europeia, que está muito envelhecida”, descreve o padre Neves. Para este sacerdote, “trata-se de uma paróquia de culturas e até línguas diferentes”, mas é um sinal de diversidade em que se consegue “manter a unidade e comunhão”, aponta.

 

A família

A instituição família assume particular destaque na vida pastoral da paróquia de Nossa Senhora Mãe de Deus da Buraca. A missão popular que se realizou há cerca de um ano e meio deu importantes frutos, segundo o pároco. “Durante 15 dias, reunimos alguns grupos, com aproximadamente 20 pessoas, e debatemos o tema ‘Família’. Essa missão culminou com a edificação de dois espaços de encontro comunitários na Cova da Moura, tornando possível naquele bairro o culto e a formação cristã”, revela o sacerdote. Para o culto foi criado o Oratório de Nossa Senhora da Anunciação onde é celebrada Missa Vespertina, às 20h00, e onde a comunidade se reúne diariamente, pelas 19h00, para rezar o Terço.

O bairro da Cova da Moura tem “um grande desafio e uma grande aposta”, aponta o padre Neves. Para este Missionário Redentorista, doutorado em Psicologia Clínica, o desafio passa pela “reconstrução da família a três níveis: a nível afetivo, a nível legal, e a nível sacramental”. “A maior parte das famílias jovens encontram-se numa situação de ruptura ou separação. A mulher, uma vez grávida, e na maior parte das vezes muito nova, é deixada pelo marido. Este é um cenário muito comum”, lamenta.

O desafio a nível legal tem como objetivo “inserir os casais na vida própria de cidadãos. Com a legalização civil do matrimónio, têm até um outro estatuto social que faz diferença para a vida do dia-a-dia”, lembra. O terceiro e último nível deste desafio é o sacramental. “Trata-se do ponto máximo que ambicionamos, mas para lá chegar não podemos esquecer uma caminhada de fé e formação cristã”, recorda o pároco da Buraca.

O padre Lucílio Neves destaca igualmente a importância da igreja matriz de Nossa Senhora Mãe de Deus da Buraca para garantir a unidade no meio das diferenças culturais. “A nossa igreja matriz é um grande organizador das diferenças. Garante a unidade no meio da diversidade. Apesar de existir um oratório no interior do bairro da Cova da Moura, todos os seus habitantes têm uma honra muito grande em vir à igreja matriz. É uma referência de união cultural e religiosa”.

A grande aposta da paróquia da Buraca é a “promoção humana”. Para o seu pároco, padre Neves, é necessário “salvaguardar a humanidade desta gente”. “A humanidade está em risco de ser destruída devido à pobreza e à fome. A falta de trabalho, muito comum na população do bairro, gera a pobreza e a falta de esperança”, refere. “É claro que a Igreja não vai resolver o problema da fome mas o facto de nós estarmos no meio deles, e com eles, tem um efeito de esperança. Por estarmos ali, a nossa presença viva leva-os a reformular o sofrimento. Dá-lhes outro sentido à vida”, aponta, confiante, o sacerdote.

 

As forças vivas

Para pôr em prática um trabalho de evangelização “nem toda a gente de boa vontade serve”, afirma o padre Lucílio Neves. “É necessário gente com uma sensibilidade especial ao outro, com muita empatia e simpatia pelo sofrimento do outro. Não basta sentir o sofrimento do outro mas colocar-se na pele do outro. Isso é que é o mais difícil. É preciso criar este movimento afetivo”, alerta.

Para auxiliar no trabalho de evangelização, a paróquia da Buraca conta, no campo social, com o centro social paroquial, junto da igreja matriz, que oferece resposta aos mais idosos, através de apoio domiciliário e também tem todas as valências para cuidar das crianças. No interior do bairro da Cova da Moura, o rosto da caridade paroquial é o Centro Social de São Gerardo, que “está a fazer um trabalho muito importante, dando uma resposta às mães adolescentes, ajudando-as também a conseguir um trabalho”.

Na área pastoral, o pároco conta com o apoio de “forças vivas”, como, por exemplo, o Movimento da Ação Católica, que está no seu início nesta paróquia, e de um grupo de catequistas que se está a formar. “Temos a catequese, na igreja paroquial, com cerca de 250 crianças e procuramos integrar os jovens que terminam o habitual percurso de catequese nos acólitos e no movimento juvenil Shalom que existe na paróquia”. O padre Neves observa que estas “diferentes realidades eclesiais correspondem também a diferentes etnias – sinais de uma paróquia que procura ser integradora e que está a aprender a relacionar-se entre comunidades”, afirma.

 

Fortalecidos na fé

Em jeito de avaliação da Visita Pastoral à paróquia da Buraca, que decorreu de 30 de setembro a 5 de outubro, D. José Traquina destaca a importância das visitas pastorais para a comunidade, realçando a presença dos leigos empenhados. “Os cristãos de uma comunidade ao receberem a Visita Pastoral, sentem, a partir do Bispo, que são fortalecidos na sua fé cristã, sentem-se lembrados e isso fortalece o trabalho de comunhão que é feito na comunidade”. A paróquia da Buraca, segundo o Bispo Auxiliar de Lisboa, “tem uma estrutura que vem desde há alguns anos atrás e sempre com um grande sentido de responsabilidade”. “Vejo isso nos leigos que fazem parte dos grupos paroquiais com quem me encontrei. Vejo muita gente formada que dá o tom de uma dedicação com qualidade. Tudo isto resulta do empenho dos sacerdotes Missionários Redentoristas com 50 anos de dedicação a esta paróquia. É um testemunho notável!”, realça.

Das visitas que fez ao bairro da Cova da Moura, D. José Traquina considera a criação do Oratório de Nossa Senhora da Anunciação como “um fruto da evangelização”. Existem naquele bairro “pessoas com dimensões humanas muito interessantes em que vemos a solidariedade e entreajuda”. Uma solidariedade que é também fruto do trabalho de várias instituições. “Ali estão instituições, não só da Igreja, que procuram um caminho alargado, de qualidade e dignidade humana muito importante”, concluiu o Bispo Auxiliar de Lisboa.

 

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Paróquia de Alfragide desafiada a “levar Cristo a todas as periferias”

No encerramento da Visita Pastoral à paróquia de Alfragide, no passado dia 5 de outubro, D. Joaquim Mendes agradeceu à Congregação dos Sacerdotes do Sagrado Coração de Jesus (Dehonianos) pela “comunhão e colaboração” na edificação da comunidade paroquial que se tornou numa “comunidade viva, jovem e missionária”. Na homilia da celebração, o Bispo Auxiliar de Lisboa desafiou a comunidade local a “levar Cristo e a alegria do Evangelho a todas as periferias geográficas e existenciais, a começar por Alfragide”.

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