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À procura da Palavra
A tua cruz
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EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ Ano A

"Deus amou tanto o mundo

que entregou o seu Filho Unigénito”

Jo 3, 16

 

A tua cruz senhor é pouco funcional / Não fica bem em nenhum jardim da cidade / dizem os vereadores e é verdade”: começa assim Ruy Belo um dos seus magníficos poemas. E para lá da funcionalidade, a cruz de Jesus, entrelaçada com as nossas cruzes, é sempre motivo de interrogação e inquietação. “Porquê? Para quê?”, são perguntas que permanecem depois de termos tentado dar respostas (quantas vezes vazias ou ditas de “cor”, sem coração nenhum, da lista das respostas religiosamente correctas!) e evocam uma busca de sentido, senão a interrogação pelo próprio Deus. Este e outros poemas estão presentes numa antologia organizada pelo P. José Tolentino Mendonça e por Pedro Mexia, a que deram o nome: “Verbo, Deus como interrogação na poesia portuguesa”. Tem sido um dos meus livros de oração nestes tempos!

A festa da “exaltação da Santa Cruz”, cuja liturgia interrompe a cadência dos domingos, parece contraditória com uma mentalidade que busca desenfreadamente o bem-estar, mas convive ainda com resquíscios de modos de viver que exaltam a dor e o sofrimento. Quando olhamos para a cruz de Jesus vemos como mais importantes a dor, o sofrimento e a morte, ou o amor, a entrega, a identificação de Deus com a nossa vida até ao fim? É o sofrimento que salva ou o amor total de Cristo que na cruz se faz pleno? Ficamos “com muita pena de Nosso Senhor que sofreu tanto por nós” ou a cruz aponta-nos a “viver como Jesus e com Ele este amor até ao fim”? De braços abertos, para acolher e abraçar, viveu Jesus todos os dias: por isso a vida cristã não é uma busca de “quanto mais sofrimento melhor” mas abraçar a entrega quotidiana de resposta ao amor de Deus, de solidariedade com todos, de trabalho pela paz e pela justiça, mesmo que isso implique sofrimentos que uma vida acomodada não traria.

Amar a cruz seria doentio. Acreditar que Deus gosta do sofrimento talvez uma heresia. Amar as pessoas comporta também cruz e sofrimentos? Sim, e infelizmente muitos deles somos nós que os inventamos! Custa dar a vida mas só essa dádiva nos faz plenamente felizes. A cruz lembra-nos que o triunfo nem sempre é imediato (três dias no sepulcro, não foi?), que não somos “super-heróis” (e mesmo esses têm sempre um calcanhar de Aquiles!), mas somos chamados a “mais”. Mas tantas vezes nos acomodamos a uma “vida menor”! Ruy Belo continuava assim o poema: “E além disso os nossos olhos cívicos / ficam-se nos corpos de que nos cercaste / Saudamo-nos por fora como bons cidadãos / Submetemos os ombros ao teu peso / mas há tantos outros pesos pelo dia / E quando tu por acaso passas / retocado pelas nossas tristes mãos / através dos pobres hábitos diários / só desfraldamos colchas e pegamos / em pétalas para te saudar / Queríamos ver-te romper na tarde / e morrem-nos as pálpebras de sono”.

 

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