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Paquistão: a história esquecida das crianças escravizadas
O preço de uma mercadoria
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Todos os anos cerca de mil crianças cristãs paquistanesas desaparecem. São raptadas e acabam, quase sempre, nas malhas de redes de tráfico de seres humanos. Para estas redes mafiosas, as crianças cristãs são apenas uma mercadoria. Um negócio.

 

Pertencer a uma minoria pode ser trágico. Que o digam as crianças cristãs no Paquistão, vítimas, tantas vezes, de uma violência impensável. Retiradas à força de suas famílias, são violentadas, forçadas a converter-se ao Islão, acabam quase sempre por cair nas malhas do tráfico de seres humanos, escravizadas. É difícil saber o número exacto desta tragédia, mas as autoridades referem que, todos os anos, haverá cerca de mil casos de crianças e jovens cristãs paquistanesas que são vítimas de uma violência assustadora. Amaria, Sunil Masih, Shazia Bashir, Rimsha ou Samir são crianças que, um dia, caíram nas malhas destas redes de tráfico, de pessoas sedentas de lucro fácil, insensíveis, ignorantes. As crianças cristãs paquistanesas são olhadas como mercadoria. Têm um preço. Por isso, não possuem qualquer dignidade.

 

Justiça social

D. Sebastian Shaw, o novo Arcebispo de Lahore, tem denunciado sistematicamente o drama por que passa a comunidade cristã cuja diocese, com mais de 600 mil fiéis, representa quase metade de toda a população católica do país. Recentemente, em declarações à Fundação AIS, este prelado afirmou que o Paquistão “necessita urgentemente de uma maior igualdade de direitos, assim como de justiça social e de paz”. Sem isso, não se consegue resgatar a comunidade cristã do drama em que se encontra.
A cerimónia de tomada de posse de D. Sebastian, na Catedral de Lahore, a 14 de Fevereiro, contou com a presença de todos os bispos do país. No meio da multidão que enchia o templo, estava uma criança que todos por ali conhecem bem.

 

Dia 23 de Outubro

Hoje Samir tem 12 anos e, sempre que pode, continua a brincar junto à porta da catedral com o seu papagaio de papel. Foi também assim a 23 de Outubro de 2011, quando um homem de barba e vestido de branco o levou dali à força. As câmaras de vigilância destinadas a proteger o edifício não têm som, não permitem pois ouvir os gritos de ajuda do pequeno Samir, mas atestam bem como a criança tenta libertar-se das mãos do homem. Em vão. Quando sabem da notícia, os pais de Samir ficam desesperados. É a segunda vez que a tragédia bate à porta da família. Num atentado à catedral, a irmã mais nova de Samir perdeu a vida. Agora, o rapaz tinha sido levado.

 

Máfias internacionais

Entre a comunidade cristã de Lahore, sempre se contaram histórias de rapazes e de meninas que desapareceram. E o pior é que nenhum regressou. As histórias falam de crianças raptadas que foram levadas para o Afeganistão para se converterem em bombistas suicidas, ou de meninas que são vendidas a famílias muçulmanas ricas, ou a quem lhes cortam uma mão ou uma perna para integrarem os exércitos dos pedintes que são explorados por máfias internacionais. Nunca nenhuma destas histórias teve final feliz. Os pais de Samir, na sua infinita pobreza, agarraram-se à sua fé. Só Deus lhes poderia valer.

 

Final feliz

O Vigário Geral da Diocese de Lahore, Pe. Andrew Nisari, nunca permitiu que o desânimo se apoderasse daquela família: “O vosso filho vai voltar”, dizia-lhes a todo o momento. Mas era preciso agir. E depressa. O padre contactou as autoridades e mostrou-lhes a foto do menino. Com isso, conseguiu que a televisão mostrasse a sua imagem. Foi o que valeu. Quando já ia a caminho do Afeganistão, junto a um rio, o raptor atira Samir à água, calculando que o menino se ia afogar. Estava a livrar-se dele. É que já tinha visto a sua fotografia na televisão e teve medo de ser denunciado. Samir não sabia nadar, mas não morreu. Agarrou-se a umas canas de bambu e conseguiu chegar à margem. Cheio de medo pôs-se a correr até que, na cidade de Peshawar, vê um cartaz com a imagem de Nossa Senhora de Mariamabad, um santuário paquistanês, e pede a um muçulmano que o leve até lá. Ele ajuda-o. Nessa mesma noite, Samir consegue telefonar para casa. Na comunidade cristã de Lahore, todos dizem que a história de Samir é um verdadeiro milagre. Um milagre que não esconde o drama de milhares de rapazes e de raparigas raptados, vendidos, escravizados. Reduzidos a quase nada, ao preço apenas de uma mercadoria. Apenas por serem cristãos.

 

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