Lisboa |
Visita Pastoral à Vigararia de Vila Franca de Xira-Azambuja
“A comunidade cristã é o lugar da evangelização”
<<
1/
>>
Imagem
O Patriarca de Lisboa considera que as visitas pastorais que se realizam às vigararias da diocese são importantes para crescer no sentimento do que é ser Igreja.

 

No passado Domingo, dia 12 de janeiro, D. Manuel Clemente deu início, em Azambuja, à Visita Pastoral à Vigararia de Vila Franca de Xira-Azambuja. No encontro que realizou com leigos das 17 paróquias que constituem esta vigararia, o Patriarca de Lisboa realçou que estes momentos são importantes para que “cresçamos em consciência do que somos enquanto Igreja, como Povo de Deus, Corpo de Cristo e Templo do Espírito Santo”. “Por isso – refere – quando nos aproximamos de qualquer comunidade cristã estamos a aproximarmo-nos desta realidade para que esta se alargue”.

 

Viver o Domingo

Neste encontro, que se realizou no auditório do Centro Social e Paroquial de Azambuja, D. Manuel Clemente apontou algumas dimensões da Igreja destacando, no anúncio da Palavra, o papel dos catequistas “pela sua dedicação à missão”, caracterizando-a como um “esforço muito grande”. “Com a transmissão da Palavra e com o seu eco vem depois a liturgia”, salientou, centrando a sua reflexão no sentido da celebração dominical na vida dos cristãos. “O centro da nossa atividade está aí, colocado na Liturgia, é o louvor a Deus, como Igreja, como corpo de Deus a nosso Pai”. “Quando nos perguntam o que a Igreja faz numa sociedade como a nossa, nós podemos dizer aquelas coisas quantitativas, mas há algo que a Igreja faz e que é fundamental: garantir para muita gente a cadência dominical da vida”. Neste contexto, e esclarecendo o que significa a celebração dominical, D. Manuel destaca o sentido de “culto, convivência e festa” que dela advém deixando um alerta: “É necessário garantir este ambiente de culto, absolutamente gratuito. É um bem precioso que a Igreja proporciona à sociedade”. “O que seria a nossa sociedade sem isto?”, questiona o Patriarca de Lisboa.

 

Convivência cristã

Salientando o facto de que este “bem preciosíssimo” é garantido por “centenas de leigos que colaboram na liturgia”, também na Vigararia de Vila Franca de Xira-Azambuja, D. Manuel Clemente apela para o sentido da fé, que define como “uma confiança que se ganha na convivência cristã”. “O próprio Deus é, em si mesmo, uma convivência”, refere, sublinhando que “não se capta Deus sem convivência cristã. Cada comunidade cristã, através dos seus organismos proporciona, em cada um dos seus locais, aquilo que é a experiência de Deus”.

 

Experiência de vida comunitária

Para que haja esta vivência de Igreja, o Patriarca de Lisboa considera que é necessário fazer a experiência de vida comunitária, em contacto direto, sem instrumentos que sirvam de intermediário. “A evangelização é uma inclusão na vida comunitária que é a única maneira de nós aprendermos o que quer que seja de Deus. Se não fazemos esta experiência, começando pela primeira realização eclesial que é a Igreja doméstica, a família cristã, e depois alargada nos filhos de Deus, nós não aprendemos Deus. A comunidade cristã é o lugar da evangelização. Não é uma coisa se faça por anúncios de correspondência, ou que se faça pela internet, porque chegamos a esta ou aquela informação ou mandamos mensagens mas ficamos no mesmo sítio... não! ‘Venham e vejam. Convivam comigo’, diz o ressuscitado”.

 

Criar um mundo de irmãos

Neste sentido, o Patriarca de Lisboa, lembrando que “a Igreja oferece ao mundo uma casa para todos”, e alertando para os problemas e contradições que podem surgir nesta sociedade que está “em grande crise comunitária”, deixa um sinal de esperança: “Este é um enorme desafio para as comunidades cristãs, mas nós temos o remédio que é criar um mundo de irmãos. E cada uma das comunidades desta vigararia é uma resposta para este desafio” porque, diz, “em Jesus Cristo há resposta de Deus ao mundo” e “a aventura do Evangelho está para durar e é a única garantia que o mundo tem, acompanhado por um Deus que não desiste de ninguém”.

 

Paróquia de Azambuja

Inserida nesta Vigararia de Vila Franca de Xira-Azambuja, que tem 580.36 quilómetros quadrados e cerca de 158 mil habitantes, está a paróquia de Azambuja. Se no século passado, no final da década de sessenta, esta paróquia se caracterizava por ser "profundamente rural", poucos anos depois viu o seu rosto transformar-se com a instalação da indústria. "Instalou-se aqui a fábrica da Ford e da GM (General Motors) o que veio trazer consequências muito profundas na própria maneira de ser da população que, até aí, era dependente do campo e vivia da pesca", explicou ao Jornal VOZ DA VERDADE o pároco de Azambuja, cónego João Canilho. “Inicialmente a paróquia de Azambuja caracterizava-se por gente migratória. Gente que vinha de Aveiro para a pesca aqui no Rio Tejo. Viviam aqui, fixaram-se aqui. Um outro grupo veio da Beira, da zona de Vila de Rei, que foi desalojada com a construção da Barragem de Castelo de Bode", conta este sacerdote. "Essas pessoas vieram fixar-se aqui porque o construtor, o empreiteiro dessa Barragem, foi o engenheiro Moniz da Maia que era daqui", acrescenta.

Assim, essas pessoas que provinham da região da Beira fixaram-se na localidade de Casais de Baixo, na periferia da Vila de Azambuja e, segundo refere o pároco, "eram quem dava uma certa ‘chama’ à vida religiosa". "Vieram os de Aveiro, os pescadores e os da zona da Beira. Nesse sentido, é significativo que com o evoluir das coisas as pessoas foram-se fixando e hoje temos dois padres da paróquia. Um tem origem das gentes da Beira (padre Carlos Marques) e outro de origem dos pescadores (padre Nuno Amador)", observa. Quanto aos próprios ribatejanos, o cónego Canilho caracteriza-os por "uma certa indiferença” religiosa, sublinhando, no entanto, que “havia um grupo que praticava".

Este era o panorama que se verificava nos anos sessenta mas, depois com a instalação das unidades fabris, "houve uma mudança profunda" levando a uma certa independência das próprias pessoas que antes se viam sujeitas aos seus senhores. "Houve uma promoção no aspeto económico e financeiro", salienta.

 

Do externato ao centro social

A chegada do cónego Canilho à paróquia de Azambuja e de Vila Nova da Rainha acontece em outubro de 1968, devido à responsabilidade de garantir o funcionamento do externato diocesano que à época existia naquela paróquia ribatejana. “Foi uma missão importante que desenvolvi com a preocupação de pôr o externato ao serviço da comunidade”. Em 1974, com o 25 de abril, o externato vai sofrer "uma volta completa". "Houve uma tentativa de ocupação do edifício do externato. Em reação, o Cardeal-Patriarca D. António Ribeiro vai conseguir um entendimento com o Ministério da Educação, que ocupa o edifício até 1995. Só em 1996 tomámos posse do que era nosso”, conta o cónego Canilho, referindo que nessa altura não havia hipótese de dar continuidade ao ensino e esse espaço foi, por isso, aproveitado para a ação social.

Atualmente, o Centro Social Paroquial de Azambuja tem as valências de berçário (com 50 crianças), o pré-escolar (com 140 crianças), ATL (com 110 crianças), centro de dia (com 85 idosos), apoio domiciliário (40 idosos), centro de convívio (aberto a toda a população) e desde o início deste ano 2014 o novo lar de idosos. Esta nova estrutura do centro social tem capacidade para 34 utentes e neste momento acolhe apenas 15 idosos, para os quais recebeu acordo da Segurança Social.

Quanto à missão que o Centro Social e Paroquial de Azambuja desenvolve esta acontece não apenas na vila mas também na periferia através da extensão que possui em Casais de Baixo e em Vila Nova da Rainha que é freguesia e paróquia.

 

Apostas na juventude

No que diz respeito a outras dimensões da pastoral, a paróquia de Azambuja vai procurando, atualmente, encontrar caminhos. Um desses caminhos passa pela aposta nos adolescentes e, para a concretizar, o cónego Canilho conta com a ajuda da nova comunidade religiosa das irmãs da Apresentação de Maria que recentemente se instalou naquela paróquia. Assim, para além do apoio que estas irmãs dão no novo lar de idosos do centro social, estas religiosas estão também em contacto com os mais novos, numa tentativa de realizar um trabalho "pelas bases", preparando, assim, os futuros jovens. "Criámos o 'fórum jovem' que destina-se a receber crianças do 2º Ciclo, e nele estão cerca de 20 adolescentes”, refere. Atualmente, a paróquia de Azambuja não tem grupo de jovens por uma dificuldade que, assume, "pode ser do prior", mas destaca também que "hoje é difícil cativar os jovens porque há outros interesses". Com o mesmo objetivo de cativar a juventude está em formação um agrupamento de Escuteiros na Azambuja, “que quer contar com uma boa formação de dirigentes”. "Não quis avançar sem ter adultos bem formados", observa o cónego João Canilho. Este agrupamento, que deverá iniciar as atividades "depois da Páscoa", é o recomeço de uma experiência que já antes tinha existido em Azambuja e, será um “contributo para a formação dos jovens”.

 

Falta de gente nova

No que se refere à catequese, na paróquia de Azambuja há cerca de 300 crianças que são acompanhadas por cerca de 30 catequistas. Também nesta área "há dificuldade em encontrar gente nova" para ser catequista, por isso, refere o pároco, “servimo-nos das pessoas que já têm mais idade". Nesta paróquia tem sido feita a experiência de, no ritmo catequético, "levar as crianças a fazer a Primeira Comunhão por volta dos 11/12 anos, e nessa altura serem também crismadas, o que tem sido uma experiencia válida", testemunha o pároco.

Na linha da pastoral familiar, em Azambuja faz-se a preparação para o Sacramento do Matrimónio mas, lamenta o pároco, "tem havido uma quebra muito grande no número de matrimónios celebrados na paróquia". O mesmo decréscimo verificou-se na celebração de Batismos, o que, na opinião do cónego Canilho, que já foi vigário geral do Patriarcado, trata-se de "um problema demográfico". "A população de Azambuja é envelhecida, os jovens não se fixam na vila, e nasce pouca gente", refere justificando este facto.

 

Transmissão dos valores

Referindo, ainda, que "a liturgia tem sido sempre uma preocupação para que a celebração seja testemunho", o cónego João Canilho sublinha que o grande desafio que se coloca neste momento à paróquia de Nossa Senhora da Assunção de Azambuja é "a transmissão dos valores". "É um problema porque as próprias famílias têm essa dificuldade", observa.

Durante esta semana decorreu a visita pastoral à paróquia de Azambuja, o que é "uma oportunidade para conhecer o Pastor da diocese" e para que a comunidade tome consciência do que é ser Igreja. "Que percebam que quando estou a celebrar Eucaristia ao Domingo, estou em nome do Senhor Patriarca", esclarece, sublinhando, ainda, um desejo: "Que todos os agentes pastorais sejam despertados por esta visita pastoral".

texto e fotos por Nuno Rosário Fernandes
A OPINIÃO DE
Pedro Vaz Patto
Foi muito bem acolhida, pela generalidade da chamada “opinião pública”, a notícia de que...
ver [+]

Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES