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Patriarca de Lisboa analisa Visita Pastoral à Vigararia de Sacavém
“Ganhar sentido de comunidade missionária”
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O Patriarca de Lisboa considera que a Vigararia de Sacavém, que entre outubro e novembro passado recebeu a Visita Pastoral, pode tomar-se como “experiência piloto de colaboração inter-eclesial e intercultural muito promissora e relevante”. Num documento de reflexão enviado ao Jornal VOZ DA VERDADE, D. Manuel Clemente lembra a necessidade de a vigararia “ganhar sentido de comunidade missionária” e sublinha que “tudo tem de estar comunitariamente integrado e ser evangelicamente expansivo”.

 

“A visita pastoral revelou uma presença geral e diversificada da Igreja nas freguesias, com as suas comunidades, instituições e templos, em patente atividade nos vários campos, da catequese à liturgia e da vida sacramental à ação sociocaritativa, com a colaboração de um número considerável de leigos, setor a setor”. É desta forma que tem início o documento de avaliação do Patriarca de Lisboa à Visita Pastoral à Vigararia de Sacavém, que decorreu entre 6 de outubro e 17 de novembro do ano passado. Nesta reflexão enviada ao Jornal VOZ DA VERDADE, D. Manuel Clemente aponta o papel intercultural que a vigararia pode ter. “Todas as paróquias têm o seu pároco, por vezes com a colaboração doutros sacerdotes e de um diácono. O clero secular e regular é de várias proveniências nacionais, o que de certo modo corresponde à população, também oriunda de vários lugares do país e do estrangeiro, especialmente de África. Isto mesmo pode constituir uma boa experiência de catolicidade no âmbito da Igreja particular de Lisboa. Tudo indica que a evolução sociocultural desta parte do planeta irá nesse sentido, pelo que temos de considerar a situação referida mais como normalidade futura do que exceção de agora. A Vigararia pode assim tomar-se como experiência piloto de colaboração inter-eclesial e intercultural muito promissora e relevante”.

 

“Levedar evangelicamente o mundo em redor”

A Vigararia de Sacavém é composta por nove paróquias (Apelação, Bobadela, Camarate, Catujal, Prior Velho, Sacavém, Santa Iria de Azóia, São João da Talha e Unhos), e todas elas devem ter como objetivo “levedar evangelicamente o mundo em redor”. “Obviamente, acontece nestas paróquias o que em geral se verifica nas zonas periurbanas e não só, ou seja, a desproporção numérica entre os católicos militantes, os católicos (mais ou menos) praticantes, e a conotação “católica” de boa parte da população, que ainda se considerará assim. Mas isto mesmo deve realçar a consciência e o compromisso de ser como ‘fermento na massa’, para levedar evangelicamente o mundo em redor. E, para ser ‘fermento’, as comunidades cristãs da Vigararia apresentaram durante a visita um bom número de crentes militantes e generosos”, observa o Patriarca de Lisboa.

Neste sentido, o documento sublinha ser “importante e urgente” as comunidades cristãs “levarem muito a sério” as indicações do Papa Francisco na sua recente exortação apostólica: “«A reforma das estruturas, que a conversão pastoral exige, só se pode entender neste sentido: fazer com que todas elas se tornem missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de ‘saída’ e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade. Como dizia João Paulo II aos Bispos da Oceânia, “toda a renovação da Igreja há de ter como alvo a missão, para não cair vítima duma espécie de introversão eclesial”» (Evangelii Guadium, nº 27)”, refere o Patriarca, citando a exortação do Papa.

 

A evangelização é possível

Neste documento sobre a Visita Pastoral à Vigararia de Sacavém, o Patriarca destaca os padres missionários ‘ad gentes’ presentes nesta vigararia. “A missão não é só a que leva alguns a longes terras para o primeiro anúncio do Evangelho, o que certamente deve continuar a acontecer. Como já há várias décadas apontava o então Patriarca de Lisboa, Cardeal Cerejeira, a terra de missão começa às portas de Lisboa. E é muito bom que a Vigararia de Sacavém conte com alguns sacerdotes missionários ‘ad gentes’, para contagiarem quem cá está com o mesmo espírito de aventura evangélica, hoje necessário em toda a parte e especialmente entre os jovens”, aponta.

A este propósito, D. Manuel Clemente lembra novamente o Papa Francisco. “O que o Papa Francisco requer é que todas as comunidades ganhem uma clara e forte atitude missionária e de nova evangelização, que leve os respetivos membros a estarem cada vez mais presentes em toda a sociedade em redor, das famílias às escolas, das empresas aos ambientes socioculturais, e que se aproximem especialmente de todos os tipos de pobreza e periferia – que por vezes podem começar ao pé da igreja ou da casa de cada um. Em tudo importa ganhar sentido de comunidade missionária: da catequese à liturgia, da formação de jovens e adultos à ação sociocaritativa, tudo tem de estar comunitariamente integrado e ser evangelicamente expansivo”. O Patriarca de Lisboa termina a sua análise à Visita Pastoral à Vigararia de Sacavém assegurando que a evangelização é possível: “Pelo que manifestaram durante a visita pastoral, as paróquias da Vigararia de Sacavém têm membros ativos e algumas estruturas mais do que suficientes para avançar nesse sentido. As primitivas comunidades de Jerusalém ou Antioquia tinham muito menos pessoas e meios e foi nelas que começou a evangelização do mundo…”.

 

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Frases do Patriarca de Lisboa que marcaram os encontros vicariais da Visita Pastoral à Vigararia de Sacavém

 

Pastoral Familiar

- “Na compreensão cristã das coisas, a família é essencial para tudo o resto! Mesmo a própria Igreja, depois no seu conjunto, é pensada em termos de família dos filhos de Deus.”

- “Em cada uma destas comunidades cristãs, acontece ou não acontece que a dimensão familiar está sempre presente em qualquer coisa que se faça? Quando nós olhamos para os nossos paroquianos, olhamos a pessoa tendo em conta a vinculação familiar de cada um? Eu julgo que isto não é tanto assim…”

- “Acho que seria muito interessante que em cada vigararia se congregasse um grupo de voluntários para acolher e ajudar os casais.”

- “Nós não podemos correr o risco, nas nossas paróquias, da pulverização da individualização.”

 

Pastoral Juvenil e CNE

- “Lembro-me, quando era adolescente, que pensava muitas vezes n’Ele e que O via não como uma figura do passado, mas uma figura do presente, que estava Vivo. Em Jesus Cristo, eu penso n’Ele como sendo agora!”

- “A Igreja é o conjunto daqueles e daquelas que descobrem que Jesus é uma presença viva, e que O começam a ter muito presente também nas suas próprias vidas e a falar d’Ele uns aos outros.”

- “O encontro com Cristo é que faz de nós cristãos. Nós não somos capazes de dizer por que somos cristãos… mas somos capazes de reconhecer, no meio de tantas atividades, se tivemos a graça de nascer em famílias cristãs, de contactar com comunidades cristãs e com movimentos, que a certa altura fomos apanhados pela presença de Cristo Vivo.”

 

Pastoral de Catequese

- “O principal desafio da catequese no século XXI é evidenciar a Pessoa de Jesus Cristo. O grande desafio, hoje, é que, no meio de tudo quanto nós temos – igrejas, construções, instituições, processos, livros, tecnologias –, nada disto sufoque o essencial. E o essencial é que nós, em tudo quanto fazemos como Igreja, a começar pela catequese, falemos de Cristo, falemos com Cristo e partilhemos aquilo que vamos aprendendo com Ele, com esta presença viva que está no meio de nós e cujo eco é a catequese. Isto é fundamental!”

- “A catequese não é apenas a transmissão teórica de conhecimentos, mas de uma vida, que corresponde a experiências que transmitimos uns aos outros.”

 

Pastoral Social

- “A encíclica ‘Deus Caritas Est’ devia ser retomada por toda a gente que faz ação social e ação sociocaritativa! O que é isto da caridade? Como é que havemos de sensibilizar os outros para a caridade? O que nos deve distinguir quando fazemos ação social e caritativa para ser evangelização? Tudo isto está muito bem respondido nessa encíclica.”

- “A primeira característica da caridade cristã é ser imediata, ou seja, fazer aquilo que as pessoas precisam agora! (…) A segunda característica é ser independente, porque a ação caritativa não se deve a uma ideologia. (…) A caridade cristã deve ser também gratuita, não só porque não vai na mira do lucro, mas porque vale por si. A caridade, de si, já é evangelização!”

- “As instituições e as ações sociocaritativas da paróquia são fundamentais e devem ser vividas por todos os cristãos.”

 

Pastoral Litúrgica

- “Em cada comunidade cristã há a escuta da Palavra, pregação da palavra, a Eucaristia e oração, e depois a prática cristã. Há a necessidade de fazer melhor em cada um destes aspetos. O que fazemos como cristãos seja realmente o que Cristo fez e ensinou a fazer. É uma questão de verdade.”

- “É preciso ter as atitudes de Jesus Cristo. É preciso viver da Palavra de Deus! Vivemos da Palavra de Deus? Vivemos em ação de graças. Damos graças a Deus?”

- “A Palavra de Deus pode dar fruto dependendo do terreno onde cai. Se nós não ouvirmos a Palavra de Deus ela não pega.”

 

Missa de Encerramento

- “O cristão que acredita na presença de Jesus Cristo e na sua vitória sobre o mal não desfalece, não deixa cair os braços. Deixa Cristo avançar através de si. Hoje somos os pés que Cristo tem para andar sobre o mundo, e a boca para Cristo falar ao mundo.”

- “É preciso querer profundamente o que Deus quer! Porque muitos dos nossos medos e frustrações vem do facto de querermos controlar a vida.”

- “A vida de cada um é complexa demais para a vivermos sozinhos. Em correspondência a este sentimento, Jesus disse que ‘onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome eu estarei no meio deles’.”

- “É preciso deixar que Cristo continue em nós o Evangelho, sem medo.”

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