Bicho-carpinteiro Ajoelhado diante da cruz, as memórias corriam-lhe na mente e no coração, ferozes como ondas em mar de inverno. - Vamos, Paulinho, horas de ir para a cama! – ordens benevolentes da avó Amália. - Tu-Tu-Tu-Tuuuuu! E o “licopeto” passa na “seuva” junto… - Junto a nada, filho. Anda lá! - Só “cando” a mamã chegar! Ela “mora” ainda? - A mamã teve… - Já sei! “Outa runião.” - Foi isso mesmo. Agora vens para a caminha, que te conto uma história, está bem? - Mas tem de ser de guerra, batalhas e … - Heróis, como sempre! - Comó papá! Foi um “gande eoi, vedade vó?!” - É sim, meu filho. Agora as orações da noite. Vá, repete com a avó “ Anjo da Guarda, minha companhia…” Mas já não ouvia nada. O cansaço enterrara-o num sono profundo. Era assim desde que o pai morrera e a mãe se entregara de corpo e alma ao trabalho, para esquecer sonhos de futuro caídos por terra. Valia-lhe a avó Amália, seu verdadeiro Anjo da Guarda e doce companhia. Dos tempos da escola, vinham-lhe outras lembranças queridas. Do Carlos e das futeboladas no pátio. Depois era o turbilhão. - Ó menino, a que horas chegas a casa, que não almoçaste o que te deixei… E olha que muito me custa deixar-te o almoço, antes de sair para o trabalho! - Não deixes! Fui a casa de uns amigos e almocei com eles… - Ao menos podias avisar. Quando não sei de ti, fico preocupada. Não paras, nunca paraste, mesmo antes de nasceres… - Já sei a história! Parece que tenho bicho-carpinteiro… Mas o bicho-carpinteiro tornou-se um bicho pior. Faltava às aulas, ia para os cafés ou bares das redondezas, não seguia a matéria, tirava maus resultados. Ralhetes não faltavam. Paciência para escutar, essa sim, não existia. O futuro era aquele momento e o seu anjo da guarda já não estava por perto para o chamar à razão… Uma doença súbita da mãe fê-lo voltar a estudar, concluir o secundário e, quem sabe, pensar num futuro possível. - Está? Dona Leonor? É o Carlos… - Olá filho! Há quanto tempo… - É verdade, mas a Faculdade absorve-nos … - E está tudo a correr-te bem? - Sim, graças a Deus. Sabe, gostava muito de falar com o Paulo. Há muito que não sei nada dele… - Finalmente concluiu o 12.º! Foi um alívio! - Ora aí está uma boa notícia. Tenho uma proposta a fazer-lhe. E não fique aflita se ele aceitar. Vai ser uma ótima experiência. - Se é contigo… E era com o Carlos e com o Afonso. Um Verão de trabalho voluntário em África. Precisamente África, de que o pai lhe falara tantas vezes. Ser trabalho voluntário era o preço que tinha de pagar por pisar aquele continente místico, cuja “terra tem uma cor e cheiro diferentes. E o pôr-do-sol é único!” Palavras que lembrava saírem da boca do pai e que ele retivera no fundo da memória, com encantamento. Chegados à Missão, o deslumbramento foi a dura realidade dos que ali viviam. Como era possível viver e sobreviver daquela maneira?! As imagens românticas de “África minha” estavam a anos-luz da crueza das crianças que, felizes, brincavam com uma bola de trapos e comiam uma refeição quente por dia, preparada pelas mãos carinhosas das irmãs e dos voluntários que de tudo faziam para afastar o sofrimento daqueles seres indefesos que nada tinham. Enquanto, zelosamente, cumpria os trabalhos que lhe tinham sido atribuídos, era seguido por um menino traquinas, a quem dera o nome de Bicho-carpinteiro, em memória do seu “ eu”, que se esfumara no tempo, e em memória da sua querida avó Amália, que assim o apelidara, desde que o vira pela primeira vez. - O menino não para quieto. Parece quem tem bicho-carpinteiro! É preciso batizá-lo, para que o Senhor o proteja e lhe dê a paz. A paz, a verdadeira Paz, estava a experienciá-la a milhares de quilómetros de casa, numa África sonhada, que era, ao mesmo tempo e inexplicavelmente, sonho e pesadelo. Sonho, porque sempre se identificara com as paisagens que o pai lhe descrevera; pesadelo porque o sofrimento daqueles que o rodeavam era muito; sobretudo o sofrimento da sua sombra, o pequeno Bicho-carpinteiro, vítima de Sida e condenado por tuberculose, devido à fome e falta de cuidados que passara. Assim, depois dos trabalhos do dia, ia com o “seu menino”, jogar à bola, contar e ouvir histórias, fazer música e vê-lo adormecer sossegado no seu colo. Preocupados estavam os amigos Carlos e Afonso, que não previam aquela dedicação. E tuberculose e HIV são companheiros mal vistos em qualquer parte do mundo, muito mais em África, onde não há recursos para prevenção. - Deixa o miúdo com as irmãs. É melhor ficar na enfermaria. Tem vigilância, não lhe faltam os cuidados básicos e fazemos o que prometemos à tua mãe – levar-te de volta são e salvo. Era impossível, até como hipótese. Aquele menino mexera profundamente com ele. Tornara-se humilde com ele; tornara-se carinhoso para ele; servia os outros para o servir a ele. Era o seu menino, o seu “bichinho-carpinteiro”, que tanto amava a vida, tendo a morte por perto. Com ele e por ele, a sua vida mudara. Quando o deixou partir, acreditou que a vida daquele menino não podia terminar no momento em que fechara, para sempre, os grandes olhos negros, doces e sorridentes. Recordou, então, palavras da boa avó Amália, que falavam de vida eterna, palavras que o haviam embalado como uma cantiga, e que esquecera. Agora, diante de Deus, que prometia servir para sempre, dava Graças pelo rumo que a sua vida tomara, por aqueles olhos negros que o seguiam e que haviam tornado sua aquela África, para onde ia, em breve, voltar. ___________________
Teologia do Corpo
A Teologia do Corpo é o nome que se dá às reflexões teológicas, pastorais, espirituais a partir das catequeses de João Paulo II de 1979 a 1984. Trata-se de um manancial fundamental para percebermos quem somos, o que é o amor, para perceber o sentido da moral cristã e os porquês das posições da Igreja nos debates atuais sobre casamento, vida, procriação, etc.
O painel de oradores fala por si, neste acontecimento onde estarão presentes os mais conceituados estudiosos da Teologia do Corpo no Instituto Pontifício João Paulo II. Testemunhos de todo o mundo vão surpreender com a forma como trabalharam a Teologia do Corpo e a colocaram ao serviço das suas profissões, em temas tão variados como as questões da família nos nossos tempos, as relações conjugais, a homossexualidade, a pornografia, a paternidade e a maternidade, a educação, etc.
Quem participar neste Simpósio vai sair mais entusiasmado, mais certo do amor de Deus e mais preparado para a missão educativa que todos temos.
De 13 a 16 de Junho em Fátima – e embora possa ser difícil para algumas famílias – lançamos este convite, na certeza de que vale mesmo a pena fazer tudo para poder participar.
Para mais informações: 4tobis@gmail.com, ou visitar o site www.4tobis.pt
___________________Catequese doméstica: "Crendo tiveram vida" O Dia da Evangelium Vitae é uma iniciativa anunciada por monsenhor Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, e que terá lugar nos dias 15 e 16 de junho. O objetivo deste tempo é dedicar toda a nossa atenção ao compromisso da Igreja na promoção, respeito e proteção da dignidade da vida humana. Por esta ocasião, o Santo Padre presidirá à Eucaristia, no domingo 16 de Junho.
Os pais que geram os seus filhos no Amor de Deus sabem bem como é importante ensinar, vivendo o grande valor pela vida humana, no respeito pela diferença e no acolhimento de cada um como o resultado da criação divina. A transmissão e a educação da fé cristã na família é uma missão da família, até porque é a expressão viva do respeito pelos valores cristãos na vida de cada um de nós, na vida da Igreja e na vida social.
Recordemo-nos que a transmissão da fé deve ser feita em primeiro lugar pela família. De facto, não basta transmitir a vida biológica; é necessário, por meio da educação, ensinar o modo correto para viver bem. Não basta ensinar a viver bem neste mundo; é necessário transmitir também o significado eterno da vida humana, que se encontra na fé em Deus e na comunhão com Ele.
As intenções do Santo Padre Francisco para o mês de junho contemplam a cultura do diálogo, escuta e respeito mútuo, a par da Nova Evangelização, pelo que transmitir a Fé e educar nela é a parte fundamental da missão da família cristã.
Uma das perguntas que se dirige aos noivos durante a celebração do sacramento do Matrimónio é “estais dispostos a receber com amor os filhos que Deus vos confiar, e a educá-los na lei de Cristo e da Igreja?”. Será que a família cristã continua fiel à sua missão, embora enfrentando fortes desafios? Estamos a assistir ao facto de que muitos pais já não se preocupam em transmitir e educar na Fé os seus filhos. Porém, muito frequentemente os avós ainda o procuram fazer, não agarrando o “fascínio do provisório numa cultura do bem-estar”, mas mantendo viva a noção do que nos anima como cristãos: seguir Jesus Cristo, como o nosso único modelo de vida.
Associemo-nos, portanto, ao Dia da Evangelium Vitae (dias 15 e 16 de junho) para que, localmente, possamos descobrir que educar na Fé para o dom da vida é garantia segura de um futuro melhor para os nossos filhos, na experiência de ser família e de procurar viver em família a Fé cristã, no conhecimento amoroso do mistério de Deus.
Pedro Vaz Patto
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Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
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