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90 anos do nascimento da Sãozinha
Um aroma de bondade e amor
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É conhecida como a ‘Florinha de Abrigada’. Sãozinha nasceu a 1 de fevereiro de 1923 e morreu 17 anos depois. Hoje, nos 90 anos do seu nascimento, perdura no tempo a obra sonhada pela Sãozinha em favor das crianças e dos idosos.

 

Era uma rapariga como outra qualquer. Tinha a particularidade de ter nascido no seio de uma família brasonada, mas o sonho era casar, ter filhos e dedicar-se aos mais pobres. “Se um dia eu for rica, hei-de ter uma grande casa para velhinhos e crianças”. Esta era a frase que Sãozinha dizia muitas vezes e que ainda hoje faz mover a obra que tem o seu nome. Situado em Abrigada, Alenquer, o Instituto da Sãozinha dedica-se às crianças e aos idosos e faz do sonho da pequena ‘Florinha de Abrigada’ uma concretização diária.

 

Oferecer a vida

Maria da Conceição Froes Gil Ferrão de Pimentel Teixeira, ou simplesmente Sãozinha, nasceu a 1 de fevereiro de 1923, em Coimbra. Filha única de pais brasonados – a mãe era descendente de D. Maria II e o pai, médico, descendente de D. Nuno Álvares Pereira – era considerada uma menina amiga de toda a gente, que gostava de ajudar em especial as crianças mais pobres. A irmã Teresa de Jesus, que chegou à Casa da Sãozinha em 1962, conta ao Jornal VOZ DA VERDADE como se deu a chegada desta família a Alenquer. “Depois de o Dr. Pimentel ter tirado o curso de Medicina em Coimbra, a família veio para Alenquer e durante uns anos morou em casas alugadas. Quando a Sãozinha tinha cerca de 12 anos, os pais mandaram construir esta casa aqui na Abrigada, onde ainda hoje funciona o Instituto da Sãozinha”.

Esta religiosa, que professou há 47 anos e que contactou durante muitos anos com os pais da Sãozinha, sublinha que o pai da Sãozinha “era crente, vinha de famílias cristãs do Alto Alentejo, mas depois na universidade perdeu a fé”. “Deixou de ser praticante, apesar de ter casado pela Igreja. Anos mais tarde, a pequena Sãozinha começa a perguntar à mãe o porquê de o pai não ir à Missa. Sãozinha começa a pedir a Deus, e aos santos dela, que movesse o coração do pai. No dia de anos, no Natal e na Páscoa, o pai perguntava-lhe sempre o que ela queria receber de presente e a resposta de Sãozinha era sempre a mesma: ‘O pai já sabe qual é o presente que me pode dar… o melhor que me pode dar é ser amigo de Jesus, ir à Missa comungar, ser cristão! O pai é amigo de toda a gente, ajuda os pobres e não há-de ser amigo de Jesus?’”, conta a irmã Teresa, sublinhando que perante a indiferença do pai aos pedidos da pequena filha, Sãozinha não desanimou e continuou a rezar e a pedir a Deus. “Fez tudo o que estava ao alcance dela!”, assegura a religiosa, lembrando que a jovem era muito devota de Santa Teresinha do Menino Jesus.

Quando tinha 16-17 anos, Sãozinha ofereceu a vida pela conversão do pai. “Pediu a Deus que lhe desse uma doença grave, que a fizesse sofrer muito, mas que convertesse o pai. Ninguém sabia de nada, apenas duas ou três amigas da terra sabiam desta entrega a Deus da Sãozinha”, prossegue a irmã Teresa de Jesus. “A doença apareceu. Começou pelo tifo, uma dor numa perna e a entrada no hospital a 26 de abril de 1940. O pai, como era médico, pensava que não era nada de grave mas Sãozinha percebia que a doença era a oferta dela a Deus. Os pais acompanharam-na sempre no hospital e já perto da hora da morte da filha, o pai ainda se quis converter e disse à pequena Sãozinha: ‘Se tu sarares, levo-te a Fátima!’. A 6 de junho desse ano, Sãozinha falecia”.

A morte da pequena Sãozinha mexeu com a pacata Abrigada. As amigas de Sãozinha contam então à família a entrega a Deus que a ‘Florinha de Abrigada’ tinha feito. “O pai converteu-se na missa de trigésimo dia da Sãozinha. Depois de ter negado Deus, o pai confessou-se, tornou-se num católico praticante e ainda foi Servita de Fátima durante 13 anos”, refere a irmã Teresa.

 

O sonho de uma obra social

Nestes 50 anos ao serviço da obra da Sãozinha, a irmã Teresa de Jesus contactou diariamente com a mãe de Sãozinha, que faleceu em 1986, com 91 anos, e recorda-se de a ouvir falar do sonho da filha. “A mãe de Sãozinha dizia muitas vezes que a filha pensava casar, constituir família e que tinha um projeto: ‘Se um dia eu for rica, hei-de ter uma grande casa para velhinhos e crianças’, era uma frase constante em Sãozinha e que dá origem à obra!”.

Segundo o relato da irmã Teresa, cerca de dois anos após a morte, Sãozinha começa-se a manifestar. “Por volta de 1942, surgem as primeiras graças e começam também a surgir pedidos e donativos. Com o dinheiro, terminam as obras da casa e é então que a mãe da Sãozinha traz para esta casa algumas meninas que estavam num lar em Alenquer. A devoção à Sãozinha espalha-se por todo o país! Todos falavam da Sãozinha e esta casa era visitada por centenas e centenas de pessoas!”.

Cristina Gabriel é tesoureira da instituição desde 2001 e recorda-se de a mãe lhe contar que, em pequena, vinha à Sãozinha em excursão. “Quando comecei a trabalhar aqui no instituto, a minha mãe disse-me: ‘Vê lá se no quarto da Sãozinha não está la um boneca grande!’. Nos anos 50, a minha mãe vinha de Lisboa aqui à Abrigada por devoção à Sãozinha! As pessoas mais velhas da terra contam que eram centenas as excursões aqui à casa!”, frisa ao Jornal VOZ DA VERDADE.

Entre os anos 40 e 50 do século XX, o Instituto da Sãozinha dá então os primeiros passos. “A obra foi crescendo, com muitas dificuldades, e só em 1978 é feito um acordo com a Segurança Social. Durante anos, todas as obras foram feitas apenas com a devoção à Sãozinha. Vivemos sempre com os dinheiros da Sãozinha!”, salienta a irmã Teresa, apontando que nos dias de hoje a obra ainda vai tendo donativos. “A classe média é quem mais dá donativos e é também a que foi mais atingida pela crise, mas mesmo assim continuamos a receber donativos de pessoas que têm devoção à Sãozinha!”.

Atualmente a obra mantém um lar para crianças e jovens em risco, tendo neste momento 25 jovens e adolescentes entre os 12 e os 20-21 anos, e acolhe também em regime de internato sete ‘meninas’ especiais. Tem também 30 crianças na creche, 27 no jardim-de-infância, 11 idosos no centro de dia, 27 no apoio domiciliário, além da cantina social, que distribui diariamente cerca de 100 refeições. O Instituto da Sãozinha, na Abrigada, conta ainda com um banco de ajudas técnicas, que empresta material como camas articuladas, andarilhos ou cadeiras de rodas.

O padre Arsénio Isidoro, pároco da Ramada e presidente do conselho de administração da instituição desde 2006, sente-se um continuador da missão da Sãozinha. “A área social do Instituto da Sãozinha decorre do espírito, manifestado no coração da Sãozinha de ajuda aos pobres e necessitados, que ainda hoje perdura e que a mãe foi intérprete após a morte da Sãozinha e que nós procuramos dar continuidade”, assegura ao Jornal VOZ DA VERDADE.

 

Projetos e divulgação

Além da Casa da Sãozinha na Abrigada, a obra tem ainda uma outra casa no Gavião, Portalegre, localidade onde Sãozinha foi batizada, e que este ano irá inaugurar um projeto de turismo religioso. “Será uma espécie de casa museu”, conta Cristina Gabriel. Para a Abrigada, no ano em que Sãozinha faria 90 anos, o desafio é construir o lar para idosos. “Era um dos projetos da Sãozinha e é esse que queremos concluir”, garantem estes responsáveis.

A divulgação da vida e testemunho de Sãozinha é feita não só pelas obras como também pelo boletim trimestral ‘Florinha da Abrigada’ e pelo Facebook oficial da Sãozinha, que desempenham “um papel fundamental” para dar a conhecer a obra a mais pessoas, segundo Cristina Gabriel. “O jornal é um meio de comunicação que a obra tem há muitos anos, talvez desde a década de 70, e que começou por ser feito pelas irmãs cá em casa. Na internet, temos uma página no Facebook e estamos atualmente a desenvolver um site oficial da Sãozinha, que será lançado brevemente e que terá uma parte religiosa e uma parte social”. A casa na Abrigada tem ainda uma pequena loja aberta ao público, com diversos livros, pagelas, imagens e recordações da Sãozinha.

 

Operatividade da fé

Sãozinha morreu a 6 de junho de 1940. Tinha apenas 17 anos, mas perdurou o sonho da sua obra para crianças e idosos, como salienta o padre Arsénio. “Nós perpetuamos no hoje da nossa história um pouco aquilo que o Espírito Santo fez acontecer no coração da Sãozinha! Ela manifestava esse espírito de atenção aos que mais precisavam, de ajuda aos pobres, às crianças abandonadas. Através da Sãozinha, Deus suscita-nos uma operatividade da fé, no sentido de percebermos que as obras de amor só se fazem por amor! É nesta entrega e nesta dedicação que a fé é digna de ser acreditada. Esta é a atualidade da Sãozinha, especialmente neste ano que a Igreja está a viver, o Ano da Fé”.

 

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Processo de canonização aguarda (novo) milagre

O processo da Causa de Canonização da Serva de Deus Maria da Conceição Froes Gil Ferrão de Pimentel Teixeira foi introduzido em 1994. “Neste momento, o processo encontra-se em Roma. A parte de estudo da vida da Sãozinha está concluída, a dificuldade é o milagre. Na época em que a Sãozinha morreu aconteceram muitos milagres e muitas graças, simplesmente não foi dada muita atenção. A própria mãe da Sãozinha nunca pensou que a devoção chegasse a este ponto e nunca foram pedidas provas desses milagres”, revela a irmã Teresa, afirmando que “era mais fácil haver agora um novo milagre da Sãozinha e estudar esse milagre do que estar a estudar os outros, que aconteceram há muitos anos”.

O padre Arsénio Isidoro, presidente do conselho de administração do Instituto da Sãozinha, revela ainda que “o processo está em andamento” e que tem, desde o ano passado, um novo vice-postulador da causa, o cónego Álvaro Bizarro, ecónomo da diocese. “Há muitas manifestações da Sãozinha”, garante o padre Arsénio.

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