Jornal Voz da Verdade

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16.12.2012

Domingo |

� procura da Palavra

A alegria em gestos

DOMINGO III DO ADVENTO Ano C

“Que devemos fazer?”

Lc 2, 10

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Confundimos muitas vezes a alegria com o prazer e com a felicidade. Estando intimamente ligados, estes tr�s conceitos s�o muitas vezes mal interpretados. Quem nunca ouviu os lugares comuns: “o que d� prazer ou � pecado ou faz mal � sa�de”, “muito riso, pouco siso”, “feliz?... s� um dia…no c�u”! N�o podemos negar que somos herdeiros de uma perspectiva fatalista da vida em que as dimens�es da alegria s�o de segundo plano, perante a seriedade da exist�ncia. E a f� crist� tem-se ressentido desse cinzentismo com que tudo � pintado, esquecendo as admir�veis cores e as mais profundas sensa��es com que Deus tudo criou.

Jo�o Baptista parece contrastar neste domingo dedicado � alegria, mas talvez isso seja um preconceito em rela��o � austeridade das suas vestes e ao convite � convers�o que ecoa da sua boca. N�o existe uma grande alegria na possibilidade de mudar as nossas vidas e sintonizar com o projecto feliz de Deus? Claro, precisamos acreditar que tal projecto � feliz, n�o �? E a imagen do “deus castigador das alegrias e dos prazeres humanos” ainda tem muita for�a. Quando perceberemos que o prazer s� n�o traz felicidade quando � ego�sta e fechado, quando isola e n�o se multiplica em dom para outros? Mas as palavras de Jo�o Baptista surpreendem. � pergunta “que devemos fazer?”, express�o de quem busca a felicidade, n�o responde com propostas radicais de abandono daquilo que se faz, mas prop�e pequenas mudan�as: partilhar o pouco que se tem com quem tem ainda menos, mostrar humanidade e compaix�o para com os que est�o sob a nossa autoridade. Mudar a vida n�o � apenas ter entusiasmos de generosidade ou p�r luzes e decora��es natal�cias para lembrar que � Natal, e que Jesus nasceu pobrezinho e nuzinho h� dois mil anos. O empobrecimento involunt�rio deste tempo de crise demanda um outro, volunt�rio, em que damos o que n�o necessitamos para viver. Que alegria nascer� dessa op��o? ��

O dedo de Jo�o Baptista aponta aquele que � maior do que ele, e em quem podemos alegrar-nos. Alegramo-nos habitualmente com coisas, com experi�ncias, com a vinda e o encontro de algu�m querido. Mas S�o Paulo convida-nos a alegrar-nos “em Jesus”. Quer dizer, a encontrar n’Ele a alegria que n�o passa nem se gasta, a alegria da vida em uni�o com Ele, da nossa vida transformada pelo seu amor. E a felicidade deixa de ficar dependente daquilo que nos falta (�s vezes tantas coisas in�teis!) e torna-se o agradecimento daquilo que somos e de tanto amor que recebemos. � a felicidade de “fazermos o que dev�amos fazer”, para l� da vit�ria ou da derrota. E a alegria � o seu fruto mais vis�vel, o seu gesto mais eficaz!

P. V�tor Gon�alves