Lisboa |
Paróquia de Santos-o-Velho
Assistência Paroquial assinala 80 anos e mantém tradição de ajuda às pessoas
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Mais conhecida por ser uma zona de diversão nocturna, Santos, em Lisboa, é uma freguesia de contrastes, onde o luxo e a pobreza se cruzam diariamente, e em que a Igreja se faz presente também na assistência às franjas mais desprotegidas: os idosos e as crianças. Uma missão que cumpre 80 anos, através da Assistência Paroquial de Santos-o-Velho.

 

Mais de metade da sua vida foi dedicada à Assistência Paroquial de Santos-o-Velho. Maria do Carmo Campelo Ribeiro é directora da instituição há cerca de 12 anos, mas desde 1973 que se entrega diariamente a esta causa. É, também por isso, a pessoa ideal para traçar ao Jornal VOZ DA VERDADE a história de oito décadas desta obra criada pelos leigos da paróquia de Santos, em Lisboa. “Este é um projecto criado pela senhora D. Adelina Santos, que ficou muito preocupada ao ver a pobreza no Bairro da Madragoa. Preocupava-a sobretudo a falta de cuidados médicos. Falou então com o pároco da altura, monsenhor Fernandes Duarte, e foi buscar médicos que após as horas de serviço vinham até à igreja, em regime de voluntariado, atender todas as pessoas. A obra foi crescendo e talvez por volta dos anos 50 veio parar ao nº 83 da Rua da Esperança, local onde ainda hoje nos encontramos!”.

A Assistência Paroquial iniciou-se então com o posto médico. “Através do posto médico, a paróquia foi conhecendo a população. As pessoas iam partilhando as suas dificuldades, diziam que passavam fome e a verdade é que as doenças eram derivadas sobretudo da má alimentação”, conta Maria do Carmo. A paróquia começou, por isso, a fornecer alimentação. “Foi criado o dispensário e há fotografias dos funcionários da Assistência Paroquial de Santos-o-Velho a dar ovos às pessoas!”. Mais tarde, foi criado o dispensário materno-infantil, “com distribuição de leite, farinhas e açucares, cedidos pela Misericórdia de Lisboa”. Anos depois, após a morte da fundadora, Maria Amélia Macedo Santos ficou a tomar conta desta obra paroquial. “Nessa altura, a necessidade foi criar uma creche, para tomar conta dos bebés, a que se seguiu o jardim-de-infância”.

 

Envolver 300 pessoas

Ao longo de 80 anos, a Assistência Paroquial de Santos-o-Velho teve sempre a preocupação de olhar a realidade local e adaptar a obra às necessidades das pessoas e da freguesia. Actualmente, esta Instituição Particular de Solidariedade Social conta com quatro valências, dirigidas a crianças e idosos. “Temos o Centro de Dia, para cerca de 30 idosos, e o Apoio Domiciliário, prestado a 40 idosos. Para a infância, numa casa situada noutro espaço, temos a Creche e o Jardim-de-infância, onde acolhemos 180 crianças, entre os 4 meses e os 6 anos”, refere Maria do Carmo Campelo Ribeiro.

Ao nível do emprego, a Assistência Paroquial de Santos-o-Velho dá trabalho a cerca de 40 pessoas. Na Creche, por exemplo, existem dez educadoras, uma por cada sala, e cerca de vinte auxiliares. No Apoio Domiciliário são nove as ajudantes domiciliárias. “Há casos de pessoas que não têm ninguém, em que o apoio domiciliário é prestado três vezes ao dia: de manhã, para fazer a higiene, dar o pequeno-almoço e a medicação; depois à hora de almoço; e também ao final do dia”, acrescenta a directora da instituição.

Carminho, como é carinhosamente tratada na instituição, gere a Assistência Paroquial de Santos-o-Velho e salienta que o princípio fundamental da obra é o respeito pela dignidade da pessoa humana. “Desde o primeiro dia!”, garante.

 

Auxiliar as famílias

Francisca Calheiros é a responsável pelo Centro de Dia e Apoio Domiciliário, que é a única instituição de apoio aos idosos na freguesia de Santos. Diariamente, numa carrinha oferecida recentemente, Francisca coloca-se a caminho e vai buscar cerca de uma dezena de idosos para eles passarem o dia na instituição. “Os outros idosos chegam à Assistência Paroquial pelos próprios meios”, refere. Na sua missão diária com os mais velhos, o desafio passa, muitas vezes, por envolver as famílias dos utentes. “Nós não trabalhamos para substituir a família, mas como um complemento e uma ajuda! O que acontece muitas vezes é que a família ao início mostra-se muito envolvida, mas depois desliga-se completamente”, lamenta Francisca, sublinhando que “este comportamento dos filhos dos utentes cria situações muito complicadas de gerir”. Ao final da tarde, o percurso de Francisca repete-se, agora para deixar os utentes nas suas casas.

Respeitando a tradição e a história da casa, e olhando para as necessidades dos utentes, o Centro de Dia conta também com o posto médico. “À quarta-feira, os utentes do Centro de Dia são vistos por uma médica, a Dra. Maria Antónia, que há mais de 30 anos atende não só os idosos do centro como também toda a população da freguesia”, enaltece Francisca Calheiros.

Além do refeitório e de outros espaços, a casa onde funciona o Centro de Dia da Assistência Paroquial de Santos-o-Velho tem uma sala de convívio, que é também o local dos trabalhos manuais. É lá que Maria José Aguilar procura ‘puxar’ pelos mais velhos, através da animação cultural. “Por vezes é um pouco difícil, porque a escolaridade das pessoas não é muita, mas procuramos criar espírito de grupo e chegar a todos, porque há uns que têm mais jeito para a pintura, outros para o teatro ou para a música”, destaca.

A fisioterapia e a música fazem também parte das actividades desta casa. “Isto é uma segunda casa para as pessoas que aqui vêm. Eles têm-nos a nós como família!”, garante Francisca Calheiros, responsável da Assistência Paroquial de Santos-o-Velho.

 

Madragoa e Lapa

O padre Diamantino Faustino, de 39 anos, está presente em Santos desde Setembro de 2009, tendo encontrado uma paróquia situada numa freguesia de contrastes. “Esta paróquia de Santos-o-Velho tem uma história muito longa, desde o século XVI, e é um pouco o espelho da sociedade, no sentido que temos o Bairro da Madragoa, com casas miseráveis, pequenas e situações de vida muito difíceis, e ao mesmo tempo temos uma parte da Lapa, que é uma zona considerada nobre, onde estão as embaixadas e famílias de muitas posses”. Estes contrastes, que segundo o padre Diamantino “são também um pouco os contrastes da sociedade portuguesa”, vêem-se não apenas “no contexto económico, mas também culturais e de formação”.

Os últimos anos, contudo, trouxeram uma mudança, na opinião do pároco de Santos-o-Velho. “Tem havido uma fase de mudança, no sentido em que a velha geração está a terminar, algumas casas começam a ficar vazias e alguns prédios começam a ser restaurados. Imagino que daqui a 10, 15 anos vamos ter em Santos muita gente nova, novas famílias!”, prevê o padre Diamantino. E exemplifica: “Temos o exemplo de duas famílias, casais jovens, que vieram morar para Santos, vindas de Miraflores e de Algueirão. E um dos casais até fez o contrário do que era habitual aqui, ou seja, foi baptizar os filhos à paróquia de origem”, conta este jovem sacerdote.

 

Evangelizar através da Eucaristia

Em termos de prática cristã, “a paróquia sofreu o mesmo que as paróquias da Baixa de Lisboa”, refere o pároco de Santos. “Houve um envelhecimento da população! Há muito poucas crianças nesta freguesia lisboeta. Por exemplo, na catequese, temos apenas 30 crianças em todos os anos de catequese! Há inclusive alguns volumes em que nem sequer temos grupo, pelo que tivemos de os fundir para ter um ‘grupinho’ razoável”.

Os movimentos e obras presentes em Santos são “os tradicionais”, segundo refere o padre Diamantino: “Temos o Apostolado de Oração, os Vicentinos, que apoiam diversas famílias através do Banco Alimentar, e temos também os escuteiros, com um grupo de 40 e que têm uma particularidade: a maioria dos escuteiros e dos dirigentes não são da paróquia… são pessoas que colaboram porque têm alguma ligação à paróquia, sobretudo devido aos pais”.

O padre Diamantino Faustino tem a noção que “as poucas coisas em que as pessoas participam são as Missas”. Perante esta realidade, a aposta pastoral deste sacerdote centra-se na evangelização através da música e da beleza. “Como estou também ligado à Escola Diocesana de Música Sacra, tenho procurado que a Eucaristia seja uma celebração onde que as pessoas vêm e gostem de vir! Que seja uma celebração acolhedora, bonita, que diga algo às pessoas!”, deseja o pároco de Santos.

 

Amor laical pela instituição

A Assistência Paroquial de Santos-o-Velho destaca-se por ter sido criada pelos leigos da paróquia de Santos. “Esta obra tem a particularidade de, desde o início, ser uma iniciativa dos leigos! Perante a realidade local, sobretudo no Bairro da Madragoa, com muita gente pobre, muita miséria, a comunidade cristã em 1932 viu essa realidade e criou esta obra!”.

Na opinião do pároco de Santos, ainda hoje, passados 80 anos, a comunidade cristã sente a obra como sua. “As pessoas que trabalham na Assistência Paroquial de Santos-o-Velho, os leigos que estão na direcção, sentem muito esta obra como sua! Certamente que o pároco tem sempre um papel importante – e as pessoas esperam sempre esse papel –, mas eu próprio sinto-me mais descansado por saber que há esta força laical que tem muito amor e muito carinho por esta instituição”, salienta o padre Diamantino Faustino. É com orgulho que o pároco de Santos sublinha que a Assistência Paroquial de Santos-o-Velho é “o rosto da solidariedade paroquial” nesta freguesia de Lisboa.

 

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“O sonho da casa é o sonho da obra”

A construção de uma nova casa. É este o grande projecto da Assistência Paroquial de Santos-o-Velho para os próximos anos. “As exigências são muitas! É importante continuar a obra com qualidade e dar mais respostas às necessidades da população”, salienta a directora da instituição. “Neste momento temos o terreno, cedido pela Câmara Municipal, o projecto está praticamente aprovado, mas faltam os fundos necessários para a construção”, acrescenta Maria do Carmo Campelo Ribeiro. Além de manter as valências actuais, este projecto futuro da nova casa pretende ainda criar uma escola primária.

 

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Angariar fundos através de velas, santinhos e… bolos

Velas e santinhos para o Baptismo, Primeira Comunhão ou Crisma. É esta a nova iniciativa de angariação de fundos da Assistência Paroquial de Santos-o-Velho. “As velas e as pagelas são bonitas, são originais e são feitas por uma pintora que os pinta para nós! É muito curioso que a pintora descobriu agora que o marido trabalhou na Assistência Paroquial durante anos!”, refere Maria do Carmo Campelo Ribeiro, sublinhando que a instituição tem ido apresentar as velas e os santinhos às escolas católicas e também às paróquias da diocese.

Para ajudar a construir uma nova casa, uma equipa de voluntários da Assistência Paroquial de Santos-o-Velho criou o ‘Bolo dos Pastorinhos’, uma iniciativa que leva às escolas o bolo no dia de anos das crianças. “Quer para encomendar as velas ou santinhos, quer para pedir os bolos, basta entrar em contacto com a paróquia de Santos”, convida Carminho.

Informações: 213961124 ou apsov@hotmail.com

 

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Cardeal-Patriarca presente em Santos para a celebração dos 80 anos

Foi com a celebração da Eucaristia que a paróquia de Santos assinalou os 80 anos da Assistência Paroquial de Santos-o-Velho. O Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, presidiu à celebração, no passado dia 24 de Abril, na igreja de Santos, num momento que o pároco considerou de extrema importância para a comunidade. “O ponto alto da visita do Senhor Patriarca foi a Eucaristia, onde estiveram presentes praticamente todos os funcionários, utentes e amigos da Assistência Paroquial. É muito importante a comunidade sentir a presença do pastor entre nós!”, frisou o padre Diamantino, sublinhando o apoio que a obra tem sentido da parte dos vários Patriarcas de Lisboa: “Desde o início que o Cardeal Cerejeira acarinhou esta instituição. Estamos a falar dos anos 30, uma época difícil para o país e para a Igreja em Portugal. Também o Cardeal Ribeiro esteve presente na paróquia, pelo menos uma vez, para o aniversário da Assistência Paroquial de Santos-o-Velho. Agora, foi a presença do Senhor D. José Policarpo, que muito nos alegrou”.

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