Domingo |
À Procura da Palavra
A noite de Nicodemos

DOMINGO IV DA QUARESMA - Ano B

 

“Deus amou tanto o mundo

que entregou o seu Filho Unigénito.”

Jo 3, 16

 

Continuava a ser noite fora de mim mas por dentro tudo parecia iluminado. Não conseguia dormir. As palavras e o olhar de Jesus tinham-se gravado em mim como se eu fosse barro. Precisava conhecê-l’O de viva voz pois nunca gostei de dar ouvidos ao que outros dizem se puder confirmá-lo por mim próprio. E, como membro do Sinédrio, sentia que precisava de conversar com aquele mestre que suscitava tanta discussão. Vim de noite para não comprometer ninguém mas também porque gosto do silêncio da noite para uma boa conversa. E esta foi a melhor de todas.

Confesso que não compreendi tudo. Se calhar não compreendi nada. Mas as suas palavras regressam ao pensamento e agitam-me o coração como as vagas serenas e insistentes do mar. Disse que era preciso “nascer de novo” para ver o Reino de Deus. Não podia estar a falar de voltar ao ventre das nossas mães! Quem não gostaria de voltar a nascer, e ter a sabedoria para escolher melhor e refazer tantos passos mal dados? Pareceu-me que Ele dizia algo diferente: “nascer da água e do Espírito” era viver a partir de algo absolutamente novo, viver de Deus e transformar em novo tudo aquilo que temos o hábito de deixar envelhecer, como o amor e a beleza, a esperança e a alegria.

A minha confusão aumentou quando falou da serpente que Moisés elevou no deserto. Seria Ele aquele “Filho do homem” que ia ser elevado? Anunciava-me um dia de triunfo e entronização? Confesso que não lhe vi pretensão nenhuma a qualquer espécie de poder. Estou habituado a ver como o desejo de poder e triunfo encandeiam os olhos de muitos. Até em nome de Deus ou do serviço dos homens muitos revelam essa ânsia de poder. Nos seus olhos havia simplesmente ternura e algo que me abraçava por dentro, derrubando as minhas barreiras. Pressenti a dor naquelas palavras mas uma dor como aquela que anda unida ao amor. Aquele “tanto amor” que Deus tem ao mundo e que me abanou por dentro quando o ouvi dos seus lábios! Estou farto de discursos que só falam de um Deus sempre zangado com os homens. A exigir contínuos sacrifícios. A condenar todas as faltas. E a castigar com prontidão. Parece que nunca Lhe agradamos. Que nunca Lhe agradaremos! Saltaram lágrimas dos meus olhos quando falou do amor de Deus. E eram de alegria. Uma alegria que me lavava a alma.

O que disse a seguir sobre a luz, as trevas, e a verdade fez todo o sentido. Amar a luz é fazer obras de luz, acabar com a distância entre a fé e a vida, ser e viver aquilo que dizemos. E eu estava ali diante d’Aquele em que o ser, o dizer e o agir são um só. Mais do que lembrar as palavras quero vivê-las. Algo me diz que virão noites densas e dolorosas mas este Jesus incendiou-me cá dentro e este fogo vai abrasar o mundo ou eu não me chame Nicodemos!

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