Lisboa |
3ª Catequese Quaresmal
“É inevitável evangelizar de novo a cultura”
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O Cardeal-Patriarca de Lisboa está preocupado com a laicização da cultura na Europa. Na 3ª Catequese Quaresmal, D. José Policarpo alertou ainda para o facto de a cultura europeia poder vir a perder “a sua matriz cristã”.

 

A laicização da cultura na Europa preocupa o Cardeal-Patriarca. Considerando que a Igreja está “diante de movimentos muito fortes de laicização da cultura, como se o Evangelho e a vida cristã não tivessem nada a ver com este horizonte cultural”, D. José Policarpo manifestou desta forma, no passado Domingo, a sua preocupação pelo facto de a cultura europeia poder vir a perder “a sua matriz cristã”.

O alerta foi deixado na 3ª Catequese Quaresmal que proferiu na Sé Patriarcal de Lisboa, desta vez dirigida aos agentes da cultura, onde salientou que a afirmação de que a cultura europeia tem uma matriz cristã não significa querer “sacralizar a cultura ou negar a importância de outros elementos”. Significa, sim, que “na história da Europa o elemento aglutinador que foi capaz de convergir numa unidade cultural foi a fé cristã”. Neste sentido, e considerando a cultura como “uma realidade viva e mutável” estando sempre “sujeita a alterações”, D. José Policarpo refere que para os cristãos “a pior coisa que podia acontecer à cultura de que somos herdeiros e que envolve a nossa vida comunitária e pessoal é que a cultura perca essa matriz cristã”, lamentou.

Recordando que na Europa verificaram-se “elementos intelectuais, filosóficos, artísticos e até políticos que quiseram desligar a cultura da influência do cristianismo, não percebendo que a fé cristã tende sempre a transformar-se em cultura pelos valores que veicula e pela prática que inspira”, o Cardeal-Patriarca acentuou que “a evangelização da Europa, depois da queda do Império Romano é a primeira grande concretização de uma unidade de toda a Europa. Foi o Evangelho e a fé cristã que deram um dado comum a todos esses povos", garantiu.

 

Evangelizar a cultura

“A cultura é a síntese de toda a compreensão da vida humana não apenas individual mas comunitária, no sentido que ela tem e na sua transcendência”, explicou D. José Policarpo referindo que daí advém a sua ligação à fé e apontando “a relação da fé com a cultura ambiente" como "algo que é inevitável evangelizar de novo". "Evangelizar a cultura não é nada fácil", observou D. José Policarpo, referindo que "hoje há uma tendência de pensar que a fé não tem nada a ver com a cultura".

Segundo o Cardeal-Patriarca, é preciso ter em conta "o que é que realmente se quer dizer quando se fala de evangelização da cultura". Salientando que "na linguagem comum uma pessoa culta é alguém que sabe muito e tem uma cultura erudita", o Patriarca de Lisboa lembra que o sentido que o Concílio Vaticano II atribui ao conceito 'cultura' "é mais abrangente". "O conceito bíblico que se aproxima mais daquilo que os documentos do magistério exprimem com a palavra cultura é o conceito de sabedoria", concretizou D. José Policarpo, observando que no Antigo Testamento há um conjunto de livros da Bíblia – Livro da Sabedoria – que transmite "uma visão harmónica do sentido da vida humana, da sua relação com Deus e da relação uns com os outros, deixando em aberto sempre uma resposta que só a fé pode dar".

“Hoje a cultura é essa visão harmónica. No centro está o homem, com o seu mistério, com a complexidade da sua existência. E é composta por todas as expressões da liberdade e da criatividade humanas”, frisou D. José Policarpo, destacando que “o homem é um ser livre, tem opções, faz escolhas, é criativo, capaz de exprimir aquilo que sente, e capaz de marcar com a sua criatividade, não apenas a sua existência, mas a existência dos outros. E isso sempre na busca de uma harmonia, de uma síntese. Sem harmonia a vida humana não tem sentido”, garante.

 

Compreender o Homem

Para D. José Policarpo, “há elementos que entram na busca desta harmonia” como por exemplo “a compreensão do homem”. "O Homem é um indivíduo ou é essencialmente chamado a viver em comunhão com os outros Homens?”, questiona o Patriarca de Lisboa, assinalando “a dimensão comunitária do ser humano” como “fruto de ter sido criado à imagem de Deus”. "O homem busca a verdade desde sempre, e foi dotado de inteligência para procurar a verdade. Procura-a estudando, investigando, dialogando com os outros e contemplando a natureza e a realidade dos seus irmãos. Quando um ser humano se desliga desta busca da verdade, desligou-se de qualquer coisa de fundamental”, refere.

Segundo o Cardeal-Patriarca, o Homem é também um ser “que sabe contemplar a beleza e é capaz de a exprimir de muitas maneiras”. Neste sentido esta busca da contemplação da beleza “dá origem a uma atitude espontânea no ser humano que é quando ele, talvez sem ter palavras para dizer nem discursos para fazer, pára em silêncio para contemplar, para deixar que o mistério do ser, que o envolve, toque a sua interioridade e o seu coração”. Por isso, afirma, “a cultura é a chave da compreensão do homem”.

Deste modo, D. José Policarpo aponta a busca de uma compreensão do Homem como “um contributo da fé para a cultura”. E na medida em que “o cristianismo tem uma compreensão do Homem”, “onde o amor está no centro dessa visão” e “a busca contínua do sentido da vida é um desafio”, esta dimensão “só entra na cultura se as comunidades crentes o viverem”, afirmou. “É impressionante como são cada vez mais numerosos aqueles que perderam ou vão perdendo a grandeza do sentido da vida e a beleza de viver em comunhão uns com os outros e com Deus”.

 

A visão da racionalidade humana

Outro elemento apontado por D. José Policarpo, em que a fé cristã pode enriquecer a cultura, é “a visão alargada da racionalidade humana”. Segundo afirmou na 3ª Catequese Quaresmal, “depois do processo científico moderno houve uma tendência de esgotar a racionalidade humana naquilo que o homem pode dominar, compreender, descobrir e justificar por essa racionalidade”. No entanto sublinha que a racionalidade humana está sempre presente. “A racionalidade humana está presente também quando contemplo a beleza, quando busco a eternidade contemplando Deus. Está tão presente quando eu estudo como quando eu rezo”. E esta visão alargada da racionalidade é hoje “absolutamente decisiva para a transformação da cultura”.

 

Buscar a verdade

A “busca da verdade” é, segundo D. José Policarpo, outro elemento a ter em conta nesta relação da fé com a cultura. Fazendo referência ao texto da Encíclica de Bento XVI 'A Verdade na Caridade', o Patriarca de Lisboa recordou que "há uma visão objectiva da verdade". “A verdade não é só subjectiva. Não é a verdade que cada um descobre para si. Esta busca da verdade de Deus para nós, de Cristo em nós, é algo a que só a fé, verdadeiramente, dá um dinamismo próprio mas que é absolutamente decisiva para a constituição de uma sabedoria que ajude o ser humano na busca da sua própria verdade”, salientou.

 

A beleza de Deus

Nesta 3ª Catequese Quaresmal, o último elemento apontado pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa como contributo da fé para a cultura é a busca da beleza de Deus, algo que acontece no homem de forma espontânea. “O crente é espontaneamente chamado a uma vida contemplativa, a encontrar no silêncio do seu coração a harmonia da beleza de Deus. Esta busca da beleza acompanha-nos continuamente e desistir dela é desistir daquilo que é certamente a dimensão mais bela e mais atraente da nossa fé cristã”, observou D. José Policarpo, falando aos agentes culturais, a quem dirigiu esta catequese.

No entanto, deixa um apelo final a todos os cristãos: “A nova evangelização tem de ter em conta esta incidência contínua sobre a cultura, e não estejamos à espera que sejam os especialistas a fazê-lo. Quem verdadeiramente interfere na cultura, como sabedoria colectiva, são aqueles que vivem a sério a sua fé na globalidade das suas expressões. Para interferir na cultura não é preciso ser doutor, basta ter aquele novo ardor com que o Santo Padre João Paulo II caracterizou a nova evangelização”.

 

 

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Catequeses Quaresmais atingem cerca de 5 mil visualizações

 

A aposta no vídeo pelo Patriarcado de Lisboa na divulgação da iniciativa de ‘Nova Evangelização na Cidade - Missão Metrópoles’, é apontada pelos responsáveis, neste momento, como “muito positiva”. O Departamento da Comunicação do Patriarcado de Lisboa informou o Jornal VOZ DA VERDADE que até ao momento os acessos registados aos dois canais de vídeo do Patriarcado de Lisboa (YouTube e Sapo) assinalam “um total de 4715 visualizações”, sendo que a maior parte destas visualizações incidem sobretudo no novo canal instalado nos servidores do Portal Sapo. Numa parceria com o Portal Sapo e com a Rádio Renascença, através da webtv V+, este departamento da Diocese de Lisboa tem vindo a realizar, ao Domingo pelas 18 horas, a transmissão vídeo, em directo, das Catequeses Quaresmais na Sé Patriarcal. Estas catequeses ficam depois disponíveis nos dois canais vídeo do Patriarcado (www.youtube.com/patriarcadolx e http://videos.sapo.pt/patriarcadodelisboa) possibilitando, assim, a sua posterior visualização.

Não tendo sido possível quantificar o número de paróquias que estão a realizar a transmissão em directo das catequeses, o Departamento da Comunicação informou que são várias as paróquias onde, “por coincidirem os horários das missas com as catequeses, se realiza a transmissão em diferido durante a semana”.

À quarta-feira é publicado na página criada para o efeito (www.missaometropoles.org) o vídeo de apresentação da catequese seguinte, pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo. Na segunda-feira, logo pela madrugada fica disponível a gravação da respectiva catequese transmitida na véspera, em directo, para todo o mundo.

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