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Publicado livro sobre santos e beatos portugueses
Quaresma lembra aos cristãos o apelo à santidade na vida diária
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Com o chegar do tempo da Quaresma, o cristão é convidado a um olhar mais profundo sobre a sua própria vida. A conversão faz parte do caminho de santidade a que todos os baptizados são chamados, e ser santo ‘não é coisa só de alguns’. Essa é a perspectiva de Alberto Júlio Silva, o autor de uma obra que reúne ‘Os Nossos Santos e Beatos, e outros que Portugal adotou’.


É segunda-feira, dia 20 de Fevereiro. No calendário religioso assinala-se a memória dos Beatos Francisco e Jacinta Marto, os dois irmãos videntes beatificados pelo Papa João Paulo II, no ano 2000, em Fátima. Neste contexto, pensava: “É um dia significativo para realizar uma reportagem sobre santos e beatos!”.

Na Baixa de Lisboa, a manhã está solarenga e calma. O carnaval terá levado muitos para fora. Subimos, então, até ao Chiado, onde numa livraria centenária fomos ao encontro de Alberto Júlio Silva. Personagem desconhecido do grande público, que recentemente escreveu uma obra sobre ‘Os Nossos Santos e Beatos, e outros que Portugal adotou’. Um livro de hagiografia (descrição sobre a vida dos santos) que, salienta o autor, “será o primeiro do género a incluir os dados biográficos dos beatos Carlos de Áustria e de Madre Maria Clara do Menino Jesus”, esta última beatificada em Lisboa, em Maio de 2011.

Em conversa com o jornal VOZ DA VERDADE, Alberto Silva, conta que esta obra surge pela proposta da editora Esfera dos Livros. Estando consciente de que já existiriam no mercado alguns livros publicados sobre esta temática, a opção centrou-se num livro “que englobasse os santos e beatos portugueses, incluindo a última beata a ser proclamada, a Madre Maria Clara do Menino Jesus. Depois fiz uma escolha daqueles santos que toda a gente conhece, embora não sendo portugueses”. Quanto ao critério de selecção dos santos e beatos a incluir neste trabalho biográfico, Alberto Júlio Silva afirma que foi um critério pessoal. “Fui perguntando a algumas pessoas quais eram os santos de que mais gostavam ou tinham ouvido falar. Depois elaborei uma lista que não é exaustiva mas que quis que fosse significativa para cada região do país”.

Na opinião deste estudioso, que dedicou grande parte da sua vida a trabalhar em museus nacionais, “há muitas regiões portuguesas que foram plasmadas sob a devoção de um santo, ou até sob uma ermida ou um lugar de peregrinação”. “Por isso, interessou-me muito que esses santos, embora não tendo nascido no nosso país, estivessem também presentes neste livro”, observa Alberto Silva.

 

A importância dos santos

A devoção aos santos é algo que está integrado na cultura de um qualquer povo católico, e o português não é excepção. Segundo Alberto Silva “até à última reforma litúrgica, os santos tiveram um protagonismo, muitas vezes exagerado. Uma espécie de hipertrofia da devoção”, explica, salientando que essa importância deixou influências. “Não significa que Jesus Cristo ficasse secundarizado mas os santos tiveram uma importância muito grande no surgimento de cidades, vilas e lugares de peregrinação”, refere.

Na origem destas devoções, considera o autor desta nova obra, poderá estar “a catequese dominical feita ao povo através das homilias e nas missões populares, muitas vezes baseadas na figura de um santo, em cuja vida se tivessem operado muitos milagres”.

 

Santo António

E se em cada região do nosso país há determinados santos que se destacam, na região de Lisboa Santo António é o santo com maior predominância. Em Lisboa e não só! “É o santo português de todo o mundo”, destaca Alberto Silva. “Santo António e Nossa Senhora de Fátima são os mais predominantes”.

A figura de Nossa Senhora sob as invocações de Imaculada Conceição, Senhora da Assunção e Nossa Senhora do Rosário de Fátima, abre o elenco dos mais de cem santos abordados neste livro agora publicado. “Nossa Senhora é apresentada em primeiro lugar nesta obra porque é a santa das santas”, comenta o autor. “Ela é aquela pessoa da nossa condição, igual a nós, que teve um percurso de fidelidade e de resposta à graça de Deus que a tornou a figura principal de santidade. É a Mãe de Deus. A pessoa agraciada por Deus que tem a primazia no culto dos santos. Por isso a coloquei em primeiro lugar”, explica.

No rol dos santos e beatos apresentados, uns são mais conhecidos do que outros. “Há muitos beatos históricos como Sancha, Teresa e Mafalda, filhas de Sancho I”, aponta Aberto Silva. Santa Rita, Santo António de Lisboa, Francisco e Jacinta Marto, o imperador Carlos I de Áustria, um político patriota que ascendeu aos altares, o beato João Fernandes, de Lisboa, são alguns dos exemplos referidos neste livro que brevemente vai ter apresentação pública.

 

Santidade ao alcance de todos

A santidade de que fala este livro é algo que não é exclusivo apenas para alguns porque, refere o autor, “ser santo é uma possibilidade ao alcance de todos”. Embora os santos que aparecem nesta obra “sejam santos extraordinários”, Alberto Silva recorda que “a Igreja reserva uma solenidade anual em honra de todos os santos. Destes e de outros. De todos os cristão santos, porque a vocação à santidade é uma vocação universal, para toda a gente”, salienta.

No entanto, entre os santos que a Igreja apresenta ao mundo como figuras exemplares “também há origens muito variadas”. “Santa Zita [italiana com culto confirmado em 1696 e com quem Portugal mantém relação próxima devido à obra assistencial chamada ‘Obra de Santa Zita’, fundada pelo Servo de Deus Monsenhor Joaquim Alves Brás] era criada de servir. São Luís Gonzaga era filho de príncipes, e a beata Alexandrina de Balasar era uma camponesa”, exemplifica. Segundo este autor, “até há pouco tempo eram poucos os leigos canonizados e os que aparecem na antiguidade, beatificados ou canonizados, são normalmente figuras de grande relevo histórico, como São Nuno de Santa Maria ou o São Luís, rei de França. Mas com o passar do tempo, essa vocação foi sendo consciencializada por toda a Igreja e hoje há casais leigos, simples, que são tidos por santos. E já não são só os frades e freiras”, comenta Alberto Júlio Silva. “São José Maria Escrivá Balaguer foi alguém que chamou muito a atenção para a santidade que é preciso ser vivida no mundo, no trabalho, nas ocupações diárias, referindo que não é preciso refugiar-se no claustro do convento mas é preciso santificar o trabalho de cada dia. Já Monsenhor Alves Brás tinha como lema: ‘mãos no trabalho, coração em Deus’. E isso é a santidade da vida diária!”.

 

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Perfil

Alberto Júlio Silva nasceu em 1946 e é natural de São Miguel de Poiares, Peso da Régua. Na sua formação académica acumula o antigo curso de Filosofia e de Teologia dos Seminários Maiores, o curso do Institut Français de Lisbonne - Université de Toulouse le Mirail e do Instituto Italiano di Cultura di Lisbona. Tem ainda licenciatura em Línguas e Literaturas Românicas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Trabalhou nos museus nacionais, depois de um trabalho em serviço social na Santa Casa da Misericórdia.

Publicou alguns ensaios e estudos e, de ficção literária, tem uma publicação datada de 1994. Diz que tem “algum treino de escrita, de há muitos anos”, mas aquilo que procurou publicar “nunca teve sucesso, nunca foi publicado”, revelou ao jornal VOZ DA VERDADE. É paroquiano de Santo Condestável, em Lisboa, e colabora também na Basílica da Estrela.

 

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Prefácio do Bispo Auxiliar de Lisboa, D. Joaquim Mendes

 

«Os Santos permanecem para muitos como pessoas raras, misteriosas e desconhecidas, de quem se fala, mas de cuja vida pouco se conhece. (…) Os Santos são amigos de Deus e, por isso também amigos dos homens. (…) Os Santos pertencem à identidade de um povo e, na celebração anual, as suas festas são momentos de convívio social e cultural, expressões de fé e de religiosidade, de comunhão com o Divino.»

 

«O autor da obra recorda que ser Santo é uma possibilidade ao alcance de todos. É a vocação de todos os cristãos, segundo a medida do dom recebido e da correspondência de cada um. «Santo» é sinónimo de cristão. É participação na santidade de Deus.»

 

«Esta obra sobre os Santos é já, de certo modo, resposta às indicações pastorais para o Ano da Fé, dada, através da Congregação para a Doutrina da Fé, pelo Santo Padre Bento XVI às Conferências Episcopais, ao dizer: “Os Santos e os Beatos são autênticas testemunhas da fé, portanto será oportuno que as Conferências Episcopais se empenhem em difundir o conhecimento dos Santos do próprio território”.»

 

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Compreender e conhecer os santos

O primeiro capítulo do livro ‘Os Nossos Santos e Beatos, e outros que Portugal adotou’ de Alberto Júlio Silva tem por título: ‘Para melhor entender os santos’. Questionado sobre o que é preciso para compreender os santos, o autor refere: “É preciso tomar a vida cristã a sério. É preciso saber que Santo é Aquele que proclamamos três vezes Santo na Eucaristia, que é Deus. É preciso saber que Deus chama todos à santidade, que há pessoas iguais a nós, sujeitas às mesmas tentações, muitas vezes com grandes fraquezas e grandes quedas mas, que se deixam interpelar pelo chamamento de Deus, e em cuja vida a acção de Deus transparece”.

Para Alberto Júlio Silva, a santidade é possível a todos. “Eu gostei de escrever este livro porque, sendo eu de uma camada popular, fui-me dando conta da importância dos santos na vida das pessoas. No entanto, muitas vezes os santos são vistos como entidades mágicas. Os milagres são mal entendidos, são tidos fora do seu contexto e aquilo que me interessou foi mostrar que eles são pessoas que deram a sua vida no seguimento do mesmo chamamento que todos recebemos com o Baptismo e que as suas vidas se tornaram transparência de Deus. E quando Deus opera milagres através desses seus amigos, não é magia. Não tem nada que ver com acções mágicas”.

Para uma mais fácil identificação visual de cada santo ou beato o autor da obra integrou, ainda, em cada um, uma descrição da representação iconográfica e atributos com que são conhecidos.

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