Lisboa |
‘Famílias Betânia’
Promover as Igrejas domésticas como forma de anúncio
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É um projecto de nova evangelização que quer fazer das famílias verdadeiras Igrejas domésticas e primeiras transmissoras da fé. As ‘Famílias Betânia’ nascem este Domingo, dia 26, na paróquia de São João de Deus, em Lisboa.


Foram a primeira família a inscrever-se nas ‘Famílias Betânia’. A família Torres – Cláudia, Ricardo e os filhos Guilherme, Henrique e Inês – pertence à paróquia de São João de Deus e deseja apenas que a responsabilidade do ser cristão seja colocada em prática na vida comum. “Um movimento cristão dentro de casa é fundamental, sobretudo para que as crianças percebam que ir à catequese não é como ir à escola, é algo que tem de ter reflexos naquilo que eles fazem na vida!”, garantem os pais.

Cláudia é professora universitária, na Universidade de Lisboa, e dá também aulas de Matemática ao 3º Ciclo e Ensino Secundário. Ricardo é engenheiro agrónomo, na área da viticultura. Casados há 10 anos, após nove de namoro, Cláudia e Ricardo estão hoje em dia integrados em várias missões da paróquia. Mas nem sempre foi assim. Nascido e criado em Lisboa, Ricardo não foi baptizado em criança e nunca andou na catequese. “Em criança e jovem, o meu percurso em Igreja foi inexistente”, conta. Cláudia é também de Lisboa, foi baptizada com um ano de idade, mas nunca frequentou a catequese. No entanto, em Maio de 2001, o casamento deste jovem casal foi pela Igreja. Foi também por esta altura que começaram a dar os primeiros passos na fé. “Quando casámos, o Ricardo queria iniciar o percurso para ser baptizado. O padre Luís Arruda, que nos casou, sempre incentivou a essa caminhada”, refere Cláudia. Ricardo recorda que nunca foi contra a Igreja. “Casar pela Igreja sempre foi um desejo da Cláudia. Eu, apesar de não ser religioso, não via nada contra. Pelo contrário, começava a sentir vontade e propus-me a fazer esse percurso de fé para ser baptizado”.

 

Pertença à comunidade

O nascimento seguido dos três filhos fez com que a família Torres não iniciasse desde logo uma caminhada em Igreja. Guilherme, Henrique e Inês foram baptizados sempre em bebé e o desejo de pertencer à comunidade cristã de São João de Deus ia crescendo de ano para ano. O passo final para o sentido de pertença à Igreja seria a entrada dos filhos na catequese. “Quando os nossos filhos entraram na catequese, sentimos que deveríamos iniciar o nosso regresso ‘a 100%’ à Igreja”, salienta Cláudia. Ricardo inicia então o caminho do catecumenato e Cláudia a preparação para a Confirmação e a Eucaristia.

A 22 de Abril de 2011, há pouco menos de um ano, Ricardo recebe os três sacramentos da iniciação cristã – Baptismo, Confirmação e Eucaristia – e Cláudia é crismada e faz a Primeira Comunhão. “No fundo, percebemos que não fazia sentido fazer uma vivência cristã, ter os filhos na catequese, e eu não ser baptizado, não ir sempre à Missa… O que não queríamos de todo era andar a ‘brincar ao cristão’! Isso não fazia sentido nenhum”, garante o pai Ricardo, lembrando que no dia em que receberam os sacramentos, começaram os desafios: “A nossa catequista disse logo: ‘Nós não queremos daqueles cristãos que vêm apenas à Missa ao Domingo e dizem que já cumpriram a sua parte’. A verdade é que quando entramos na comunidade cristã, há um espírito de missão que nos invade”.

 

A importância do acolhimento

O acolhimento que as comunidades cristãs prestam às pessoas que estão afastadas da Igreja e que por qualquer motivo vão às paróquias é essencial para a nova evangelização, segundo aponta este casal. “Nós tivemos um acolhimento muito bom! Extraordinário, fantástico mesmo! O primeiro contacto foi com a catequista do Guilherme, o nosso filho mais velho, e foi ela que nos encaminhou desde logo para o percurso de catecumenato”, refere Cláudia, enquanto Ricardo se recorda de ter sido totalmente surpreendido: “Para mim foi uma surpresa muito grande, uma vez que estava completamente afastado da Igreja e estava mesmo assustado com toda a presença da Igreja, mas a verdade é que nunca fui posto em causa, nunca me criticaram por não ter sido baptizado”.

 

Preocupação pela Igreja doméstica

Cláudia e Ricardo, que actualmente integram também uma equipa de casais das Equipas de Nossa Senhora, foram a primeira família a inscrever-se no novo projecto de evangelização da paróquia de São João de Deus, em Lisboa: as ‘Famílias Betânia’. Um movimento familiar pensado pelo pároco, cónego Carlos Paes. “Nas reuniões das equipas, o padre Carlos sempre mostrou muita preocupação pela Igreja doméstica. Aquilo que também nós fomos percebendo é a necessidade de os pais estarem, de algum modo, envolvidos na educação cristã das crianças. No fundo, a catequese não se deve cingir ao espaço físico da igreja e tem de ter uma continuação em casa”, frisam. Cláudia e Ricardo, que hoje em dia são também catequistas, dizem sentir que são muitos os pais que levam os filhos à catequese mas depois não têm nenhum contacto com a Igreja. “Vêm à paróquia, ‘depositam’ os filhos, e nem se preocupam com mais nada, nem vêm às celebrações”, lamenta Cláudia.

A primeira abordagem às ‘Famílias Betânia’ decorreu neste ano pastoral, em Outubro de 2011. “Foi quando se iniciou a catequese que o pároco reuniu com os pais e procurou aliciar as famílias para que abraçassem este grupo”. A família Torres recorda-se de ter aceitado de imediato o desafio que a Igreja agora lhes propunha! “Para nós, que somos também um pouco iniciantes numa prática continuada em Igreja, fazia todo o sentido dar corpo a esta iniciativa! Aliás, julgo que fomos os primeiros a inscrevermo-nos nas ‘Famílias Betânia’”, salientam.

 

Dinâmicas Betânia

Embora oficialmente o movimento das ‘Famílias Betânia’ tenha início apenas este Domingo, dia 26 de Fevereiro, durante uma celebração presidida por D. Joaquim Mendes, Bispo Auxiliar de Lisboa, Cláudia e Ricardo dizem já ter iniciado uma dinâmica com os pais de duas crianças da sua catequese: “Convidámos dois casais e fizemos a primeira iniciativa ‘Betânia’ em nossa casa! Foi muito giro e acabámos por perceber que um dos pais vive uma situação semelhante à que o Ricardo viveu, ou seja, ainda não é baptizado mas está cheio de vontade de iniciar o catecumenato”, conta Cláudia.

A dinâmica ‘Betânia’ (ver caixa) obedece a um rito criado para este efeito. A refeição é iniciada com a leitura da Palavra; simbolicamente, é acesa uma vela por cada elemento que está presente – pais e filhos – e depois há toda uma partilha de vivência. “Foi uma tarde muito bem passada! Houve uma partilha da nossa experiência e do nosso percurso tão recente!”, contam.

O movimento das ‘Famílias Betânia’ concretiza-se também na paróquia. “Nas sessões de catequese com os pais e os filhos, temos procurado fazer um pouco o movimento ‘Betânia’”, salienta a família Torres. A paróquia adquiriu um pequeno oratório que tem tido uma missão específica: em cada semana, o oratório está presente na catequese e no final vai para casa de uma família diferente. “Esta é uma dinâmica que os pais e os filhos estão a gostar! Há como que uma responsabilidade de ter a Sagrada Família em casa! No fundo, procuramos que levem a Igreja doméstica para casa!”.

 

Toda a família

Este novo projecto da paróquia de São João de Deus, em Lisboa, tem como finalidade a evangelização das famílias. “O interessante da ‘Família Betânia’ é que todas as dinâmicas são preparadas e concretizadas em família, ou seja, com pais e filhos. O objectivo é sempre a evangelização! Num ambiente mais descontraído, como são as nossas casas, partilhar o que é a nossa experiência de Igreja e dar a conhecer Jesus Cristo”, aponta Ricardo.

Para Cláudia, esta aproximação entre as pessoas pode depois extravasar os espaços da Igreja. “A preocupação do nosso prior é mesmo esta: criar comunidade! As famílias hoje em dia têm preocupações semelhantes, mas vivem muito fechadas nos seus problemas. Com as ‘Famílias Betânia’ pretendemos também que se voltem a criar os bons hábitos de há uns anos, em que as pessoas se conheciam e se ajudavam”.

A proposta do movimento paroquial ‘Famílias Betânia’ é que uma vez por mês haja um acolhimento em casa com outras famílias. Em cada família, que uma vez por semana seja feito o ritual ‘Betânia’, com a leitura da Palavra, a preparação dos textos da Missa Dominical, a colocação das intenções num pequeno livro. “Este projecto das ‘Famílias Betânia’ é muito interessante, sobretudo pelo envolvimento dos miúdos, e esperamos que esta dinâmica da Igreja doméstica seja alargada ao maior número de famílias”, deseja a família Torres.


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Henrique

Idade: 8 anos

Catequese: 2º catecismo

Quem é Jesus?: “É um amigo!”

 

Guilherme

Idade: 9 anos

Catequese: 3º catecismo

Quem é Jesus?: “É o meu melhor amigo…”

 

Inês

Idade: 6 anos

Catequese: 1º catecismo

Quem é Jesus?: “É Deus!”

 

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Betânia: voltar à «Igreja doméstica» como célula de evangelização

Betânia significa ‘casa dos pobres’. “Na família cristã, cada um dos seus membros deve considerar-se pobre dos seus irmãos”, escreve o pároco de São João de Deus, cónego Carlos Paes, na pequena publicação ‘Betânia: voltar à «Igreja doméstica» como célula de evangelização’, editado pela Paulinas Editora, e que apresenta este novo movimento familiar. “Mas Betânia evoca também, para os cristãos, aquela família constituída por Maria, Marta e Lázaro, onde Cristo era visita assídua”, acrescenta este sacerdote, responsável pela criação deste projecto.

Nesta publicação, o cónego Carlos Paes explica que o movimento visa a “promoção da Igreja doméstica” e deixa os meios para alcançar tal objectivo: a Palavra de Deus, “que deve ser para os esposos um precioso amparo na vida conjugal e familiar” e por isso “deve ser prática regular nas famílias Betânia a leitura e perscrutação da Palavra de Deus”; o diálogo familiar, “que visa a aproximação das consciências, numa comunhão de objectivos”; a hospitalidade, que “exercida com espírito evangélico” será “um momento privilegiado para aquele grupo de cristãos exercerem a sua vocação”; a solidariedade, “presente no modo como exercemos a hospitalidade”; a liturgia doméstica, sendo que “nas casas das famílias Betânia deverá haver um cantinho reservado para a liturgia doméstica onde devem estar os seguintes objectos: a Bíblia, o Crucifixo, um ícone da Sagrada Família, o terço e a dezena, o missal, o devocionário pessoal e familiar, a água benta, uma vela de copo por cada membro, o caderno das intenções e o mealheiro dos pobres”.

A dinâmica das ‘Famílias Betânia’ conta com diversos momentos: o jantar semanal em família, a liturgia doméstica semanal e a acção de hospitalidade mensal aos convidados. Pelo menos de dois em dois anos, haverá o retiro comunitário das ‘Famílias Betânia’. Sendo a família a unidade-base do movimento, uma vez por ano as equipas encontram-se na festa da Sagrada Família e na peregrinação aos Valinhos de Fátima e ao Santuário.

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