Domingo |
?À Procura do Essencial??
<<
1/
>>
Imagem

30.º Domingo do Tempo Comum

23 de Outubro de 2011

A sociedade de hoje, perante as crises que nos assolam, interroga-se sobre o futuro e muitos são aqueles que falam de reformas urgentes e levantam a sua voz acerca da necessidade de repensar as estruturas e a orgânica social em que vivemos. Deslumbrados pela ilusão do dinheiro fácil e pelas miragens que daí decorrem, o mundo viveu durante décadas embriagado pela sua própria sombra, pensando que era possível construir uma sociedade diferente com ‘pés de barro’ e sem consistência nem fundamentos sólidos. O resultado desta loucura está aí e todos nos vemos agora confrontados com as consequências deste devaneio. Talvez nunca como hoje, apesar de vivermos globalmente um período de relativa paz entre os povos, se levantaram tantas incertezas sobre o nosso futuro comum e o rumo que a civilização ocidental vai trilhar nas próximas décadas. Poucas são as certezas que possuímos e longínquas vão já muitas das esperanças que norteavam a humanidade na altura da passagem do milénio.

Olhar e meditar os textos da liturgia deste domingo significa, antes de mais, perceber que há uma tarefa fundamental que se impõe a todos: saber fazer a grande opção de vida. Fazemos muitas coisas e em todas procuramos encontrar êxito e ter o maior sucesso possível. No entanto, uma só é a essencial e é essa que dá e empresta sentido a todas as demais. Jesus soube, como ninguém, não só mostrar-nos o essencial mas também dizer-nos que o essencial é o amor. Mas o amor conjuga em si, na mesma dimensão e com o mesmo alcance, Deus e o Homem. Este é o centro do mistério da incarnação, pelo qual o amor de Deus ganha forma e sentido na humanidade, tal como a plenitude da nossa forma de amor se faz expressão do próprio ser de Deus. Por isso, não há espaço sagrado nem relação fraterna sem que esta dupla dimensão do amor esteja presente; não nos abrimos ao céu sem contemplar a terra, tal como não transformamos a terra sem que esta se torne expressão da infinitude do amor de Deus. Um amor a Deus que esqueça ou coloque de lado a sua incarnação na humanidade constitui, na mensagem cristã, uma afronta à santidade de Deus.

O texto do Evangelho de hoje, tomando por cenário uma discussão clássica no seio do judaísmo do período intertestamentário, típico do farisaísmo do tempo, ajuda-nos a compreender que o amor a Deus polariza todo o nosso ser e só é autêntico quando ele envolve e contagia em absoluto o nosso encontro com o ‘Outro’, o Irmão, sem condições de qualquer espécie. Amar a Deus de ‘todo o coração e com todas as forças’ é reconhecer humildemente que Ele é o centro de todo o nosso projecto de vida, um projecto de vida crente que tem um sentido e se abre à comunhão com o próprio Deus no mistério da incarnação que passa por cada homem. Esta ‘linguagem de totalidade’ com que a formulação de Mateus traduz, no Evangelho de hoje, os dois mandamentos fundamentais é assim a melhor síntese de toda a revelação, pois por ela se afirma a primazia de Deus que se manifesta e se estende à pessoa do irmão, do próximo. É tudo isto que importa assumir, pois é isto que importa para Jesus. As duas dimensões estão intrinsecamente unidas e entrelaçadas, não existindo uma sem a outra. Separá-las ou reduzi-las é cair no farisaísmo que, ao separar uma da outra, se mostrava incapaz de se aproximar e aceitar o mistério da incarnação.

O resultado desta incompreensão unitária do mistério do amor está bem patente na sociedade de hoje, uma sociedade encerrada em si mesma, incapaz de se regenerar e deixando-se contemplar apenas pela sua própria temporalidade. Não vai para além da sua própria finitude, nem é capaz de romper com o horizonte fechado em que se deixou aprisionar. Falta-lhe o horizonte do mistério da incarnação que prolonga em cada homem o amor de Deus e faz dele a expressão da Sua plenitude. É aqui que o amor cristão – enquanto Caritas, como o refere o Papa Bento XVI na sua Encíclica ‘Deus é Amor’ – se faz o melhor testemunho da fé. De facto, Jesus é o Amor incarnado na nossa história e é por Ele e n’Ele que em todo e em cada homem acontece e se actualiza o próprio mistério da incarnação. O futuro da humanidade passa por aqui: Re-encontrar o caminho do Amor como fundamento da nossa existência comum.

P. João Lourenço
A OPINIÃO DE
Pedro Vaz Patto
Foi muito bem acolhida, pela generalidade da chamada “opinião pública”, a notícia de que...
ver [+]

Guilherme d'Oliveira Martins
Quando Jean Lacroix fala da força e das fraquezas da família alerta-nos para a necessidade de não considerar...
ver [+]

Tony Neves
É um título para encher os olhos e provocar apetite de leitura! Mas é verdade. Depois de ver do ar parte do Congo verde, aterrei em Brazzaville.
ver [+]

Tony Neves
O Gabão acolheu-me de braços e coração abertos, numa visita que foi estreia absoluta neste país da África central.
ver [+]

Visite a página online
do Patriarcado de Lisboa
EDIÇÕES ANTERIORES