Lisboa |
Dia Mundial das Missões
Todos os baptizados são enviados em missão
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A Igreja assinala este Domingo, 23 de Outubro, o Dia Mundial das Missões. O que é partir em missão? Que ‘segredos’ acompanham o missionário? O padre Hugo Gonçalves, do projecto ‘Tuala Kumoxi’ (‘Estamos Juntos’), partilha a sua experiência de missão e deixa pistas sobre o compromisso após os projectos de voluntariado.

O padre Hugo Gonçalves já realizou diversas missões em África e não tem dúvidas de que todos os baptizados são convocados para a missão: “Ser missionário é ser enviado! Não é algo que parte da minha vontade pessoal; é algo que parte da vontade de Deus para a minha vida. É algo que parte do facto de ser baptizado, porque todo o baptizado é enviado em missão!”. Falando no Dia do Voluntário Missionário, organizado pela FEC – Fundação Fé e Cooperação e celebrado em Lisboa no passado dia 15 Outubro, este jovem sacerdote reflectiu sobre ‘O compromisso após os projectos de voluntariado’ e lançou o que chamou de ‘provocação’: “Voluntário é aquele que pela sua vontade se move em direcção a alguém ou a alguma coisa. Por outro lado, a raiz da palavra missionário quer dizer enviar ou ser enviado. Nós, como grupos ligados à Igreja, como grupos de cristãos baptizados, seremos mais ‘voluntários’ ou mais ‘missionários’? O que é que nos envia nestes projectos que realizámos ou vamos realizar?”. Salientado que “ir em missão é ir ao encontro da vontade de Deus”, o padre Hugo partilhou neste encontro na igreja do Parque das Nações, em Lisboa, o que entende ser a forma de estar em missão. “O importante é partirmos como alguém que é enviado. Isso muda completamente a nossa postura e a forma como fazermos as coisas quando estamos em missão. Porque, uma coisa é partirmos com boa vontade, com aquilo que podemos levar às outras pessoas; outra coisa é partir mandatado por Jesus e levar uma mensagem que não é nossa, mas é de Jesus”.

 

Experiência avassaladora

Em 2003, juntamente com um grupo de jovens da paróquia de Famões e com o apoio do pároco de então, padre Daniel Batalha Henriques, o jovem Hugo cria o projecto ‘Tuala Kumoxi’ (que em kimbundo significa ‘Estamos Juntos’), de geminação entre esta paróquia de Lisboa e a de Nambuangongo, em Angola. “Uma zona que estava literalmente abandonada desde os anos 60, quando começou a guerra. Aliás, a guerra colonial começou precisamente em Nambuangongo. Foram vários massacres, com muita desumanidade, que marcaram a vida daquelas pessoas para sempre”. Desde há oito anos que a missão dos ‘tualas’ é em Nambuangongo. “Além de irmos repor a Igreja num sítio onde ela já não aparecia há cerca de 40 anos, fazer missão ali é voltar a dar a estas pessoas a perspectiva da vida humana. Aquilo que Jesus nos veio entregar de possibilidade de vencermos as nossas limitações, de vencermos o plano de desgraça em que muitas vezes crescemos e vivemos, para encontrarmos um sentido para a nossa vida”.

O padre Hugo Gonçalves, que actualmente é formador no Seminário de Caparide, esteve em Angola por cinco vezes. A última aconteceu no passado mês de Agosto e teve a particularidade de ter sido a primeira vez que o padre Hugo esteve por terras africanas enquanto sacerdote. “Fui ordenado em Julho deste ano e no mês seguinte pude celebrar a Eucaristia em Nambuangongo, no meio daquelas comunidades que por vezes ficam um ano sem Missa”. Uma experiência avassaladora, segundo conta. “Ir ao encontro daquele povo que, de facto, está sedento e tem fome de receber o Corpo do Senhor foi para mim uma experiência avassaladora”.

 

Levar o Evangelho

Quando partem para países em desenvolvimento, os voluntários missionários levam a ‘bagagem’ carregada de sonhos, objectivos e ilusões. Querem transmitir o melhor de cada um e colocá-lo ao serviço dos outros. O padre Hugo exemplifica e lança a questão: “Vamos dar comida. Vamos dar educação, alfabetização. Vamos dar cuidados médicos. Vamos dar vacinas. Vamos dar roupa. E a eternidade? Vamos dar eternidade? Muitas vezes, achamos que a missão mais importante é responder a estas necessidades básicas e primárias – e essa missão é importante, mas não é ‘a’ missão”. Após diversas missões em Angola, o padre Hugo não tem dúvidas sobre o que é verdadeiramente importante um missionário levar para terras de missão. “Aquilo que de facto pode mudar a vida das pessoas a quem nós somos enviados é o sentido que nós podemos ajudá-los a descobrir para as suas vidas. Porque o Senhor tem um projecto de felicidade para todas as pessoas! E o projecto de felicidade de Deus não passa por aquilo que as pessoas têm, mas por aquilo que as pessoas são”, garante.

Sobre o ‘segredo’ do ser missionário, o padre Hugo aponta: “O segredo é darmos aquilo que nos faz falta. A missão não é ir preencher o meu coração. A missão é muitas vezes eu ir perceber o quão privilegiado sou. Se tivermos a pretensão de salvar o mundo sozinhos, vamos falhar! Ninguém, por mais heróico que seja, por mais capacidades que tenha, conseguirá salvar o mundo sozinho. Essa é a missão de Jesus! E Jesus quer servir-se de nós para o ajudarmos nessa missão. Por isso, digo, nós não temos nada melhor para levar a não ser o Evangelho e a Boa Nova do Evangelho”.

 

Evangelizar e reevangelizar

‘Tuala Kumoxi’ (www.tualakumoxi.110mb.com) é um projecto que se realiza em Angola, com o envio de missionários durante cerca de um mês, mas que continua em Portugal através de iniciativas de anúncio, de angariação de fundos, momentos de oração pelas missões e uma aposta na formação. “Não fazia muito sentido ir em missão ad gentes para Angola quando tínhamos território de missão em Lisboa, concretamente na nossa paróquia de Famões. Missão ad gentes significa missão aos povos. É o primeiro anúncio da missão. E o Papa Bento XVI tem andado por toda a Europa a dizer precisamente isto: é preciso não só uma nova evangelização – ou seja, reevangelizar aqueles que já foram evangelizados e que perderam essa herança do cristianismo – como também é necessário evangelizar pela primeira vez”, destaca o padre Hugo, apontando “haver muitas pessoas que já não ouvem falar de Jesus nem culturalmente”. Neste sentido, durante o Advento e a Quaresma, o projecto ‘Tuala Kumoxi’ organiza a ‘Missão Jovem’ que tem realizado missões em diversas paróquias de Lisboa. “Contactamos uma paróquia que nos queira receber e vamos para casa de famílias de acolhimento. Depois, ao longo da missão temos várias actividades: andamos de porta em porta a entregar Meninos Jesus, fazemos recolha de alimentos para a Casa do Gaiato. Foram experiências muito felizes, no sentido em que não tivemos actividades extraordinárias, mas conseguimos que Jesus chegasse não só ao coração daqueles jovens que nos eram confiados, como eles próprios conseguiram contagiar as pessoas a quem foram enviados”, conta o padre Hugo.

 

Pessoas que precisam de receber Jesus

A oração tem um papel fundamental no espírito destas missões diocesanas, segundo salienta o jovem sacerdote Hugo Gonçalves. “O nosso programa de oração em missão é a oração da Igreja: desde a exposição do Santíssimo, à oração do terço, à liturgia das horas, laudes, vésperas, completas, ofício de leitura. Temos também Eucaristia diária e rezamos sempre com as comunidades que nos acolhem”. Aos que dizem ‘os jovens não gostam nada disso… isso é muito chato’, o padre Hugo tem apenas uma palavra: “Ousem experimentar!”.

Uma Igreja missionária em qualquer lugar é o sonho deste jovem padre: “Nós podemos ser missionários onde quer que seja! Há muitas pessoas que precisam de ser missionadas! Há muitas pessoas que precisam de receber Jesus! No nosso prédio, há pessoas que precisam de receber Jesus!”.

 

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Mensagem do Papa Bento XVI para o Dia Mundial das Missões

 

“O anúncio incessante do Evangelho vivifica também a Igreja, o seu fervor, o seu espírito apostólico, renova os seus métodos pastorais a fim de que sejam cada vez mais apropriados às novas situações – inclusive as que exigem uma nova evangelização – e animados pelo impulso missionário.”

 

“Não podemos permanecer tranquilos com o pensamento de que, depois de dois mil anos, ainda existam povos que não conhecem Cristo e ainda não ouviram a sua Mensagem de salvação.”

 

“A missão universal envolve todos, tudo e sempre. O Evangelho não é um bem exclusivo de quem o recebeu, mas é um dom a partilhar, uma boa notícia a comunicar. E este dom-empenho está confiado não só a algumas pessoas, mas a todos os baptizados.”

 

“É importante que tanto cada baptizado como as comunidades eclesiais se interessem pela missão não de modo esporádico e irregular, mas de maneira constante, como forma de vida cristã.”

 

“Através da participação co-responsável na missão da Igreja, o cristão torna-se construtor da comunhão, da paz, da solidariedade que Cristo nos concedeu, e colabora para a realização do plano salvífico de Deus para toda a humanidade.”

 

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Mais de 1000 portugueses espalham-se pelo mundo em projectos de Voluntariado Missionário*

 

Países (África, América do Sul e Ásia)

Nº de Voluntários Missionários

Moçambique

121

Angola

70

Cabo Verde

31

São Tomé e Príncipe

29

Brasil

16

Guiné-Bissau

12

Timor-Leste

5

Colômbia

2

Benin

1

 

 

Portugal

846

 

Duração do projecto de Missão em África, América do Sul e Ásia

Nº de Voluntários Missionários

15 dias a 6 meses

231

um ou dois anos

56

 

(Projectos de curta duração) Situação profissional dos Voluntários Missionários

 

Estudantes

45,9%

Empregados que tiram licenças sem vencimento

19,9%

Empregados que utilizam todo o tempo de férias

16,9%

Reformados

4,8%

Desempregados

3,9%

Outras situações

8,6%

 

(Projectos de longa duração) Situação profissional dos Voluntários Missionários

 

Voluntários que se desempregam propositadamente

32,1%

Empregados que tiram licenças sem vencimento

26,8%

Conclusão dos estudos

25%

Outras situações

16,1%

 

Idade dos Voluntários Missionários em países em desenvolvimento

 

18 aos 30 anos

76,7%

31 aos 40 anos

12,9%

41 aos 55 anos

7,3%

acima dos 60 anos

2,4%

 

* dados da Fundação Evangelização e Culturas (FEC) – uma Organização Não Governamental para o Desenvolvimento, criada em 1990, pela Igreja Católica em Portugal – com base num inquérito feito às 60 entidades que integram a Rede de Voluntariado Missionário coordenada pela FEC

 

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Agenda FEC | Voluntariado Missionário 2012

 

Já está disponível a Agenda FEC | Voluntariado Missionário 2012. Tendo como tema ‘A Alimentação - um direito sem fronteiras’, esta agenda pretende ser um instrumento de educação e de sensibilização para a questão sempre urgente de uma alimentação global e justa para todos os seres humanos.

A agenda tem um custo de 5¤ (+ portes de envio), sendo que o valor destina-se a financiar a Rede de Voluntariado Missionário, nomeadamente o seu programa de formação.

 

Informações: 218861710 ou vanessa.furtado@fecongd.org

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